Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Katharine Rafaela Diniz Nunes (UNICAMP)

Minicurrículo

    Bacharela em Midialogia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e licenciada em Artes Visuais pela Faculdade Mozarteum de São Paulo. É mestra e doutoranda em Educação pela UNICAMP, dedicando-se à experimentação audiovisual com softwares livres em escolas públicas. Foi intercambista na Escuela Universitaria de Cine, Video y Televisión da Universidad Nacional de Tucumán (AR), na Beijing Jiaotong University (CN) e está para realizar doutorado sanduíche na Universidade Nova de Lisboa (PT).

Ficha do Trabalho

Título

    Experimentando cinema na escola a partir de paisagens em desaparição

Seminário

    Cinema e Educação

Resumo

    Pesquisa de doutorado que mobiliza sessões de cineclube escolar dedicadas não só a assistir e conversar, mas a realizar experimentações audiovisuais que sejam atravessadas por forças, ritmos, fluxos e materiais de um lugar-escola. Assistimos fragmentos de filmes brasileiros e chineses sensíveis às transformações urbanas e sociais sentidas no cotidiano de pessoas cujos aspectos locais, comunitários e/ou públicos de seus modos de vida têm sido ameaçados por interesses privados com apoio estatal.

Resumo expandido

    Pretendo apresentar parte da proposta e dos processos da pesquisa de doutorado “EXPERIMENTANDO CINEMA NUM LUGAR-ESCOLA: a partir de fragmentos (de filmes) de Brasil e China em transformação”, realizada na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, sob orientação do Prof. Dr. Wenceslao de Oliveira Jr.
    Atentando-nos às demandas de políticas públicas como a Lei 13.006/14 – que prevê exibir, como componente curricular complementar, duas horas de cinema nacional por mês em todas as escolas de educação básica – e o Programa “Cinema & Educação: A experiência do cinema na escola de educação básica municipal”, da Secretaria de Educação do Município de Campinas, esperamos contribuir para o debate sobre o papel das tecnologias audiovisuais na escola pública hoje e que potências estéticas elas podem incorporar/vibrar desse tipo de lugar.
    Temos acompanhado como repercute – entre professores de escolas públicas – encontros entre cinema e escola, ao propor cineclubes escolares que não só assistem e conversam com, mas que produzem imagens audiovisuais, atravessadas por forças e materialidades do espaço escolar. Os exercícios são provocados pela exibição de fragmentos de filmes de obras brasileiras (pernambucanas) e chinesas (do cineasta Jia ZhangKe) sensíveis às transformações urbanas e sociais sentidas no cotidiano de pessoas cujos aspectos locais, comunitários e/ou públicos de seus modos de vida têm sido ameaçados por interesses privados com apoio estatal.
    Das maneiras de filmar/montar presentes nessas obras, elaboramos desafios de experimentação – envolvendo gravação/edição de vídeo e computação gráfica – através dos quais produzimos outros filmes. Esses exercícios são inspiramos na concepção de “dispositivo” proposta por Cezar Migliorin (MIGLIORIN, 2015) e o projeto “Inventar com a diferença: cinema, educação e direitos humanos”, em que a reprodução de uma narrativa, mensagem, sentido e/ou roteiro preconcebidos não tem centralidade, permitido que a produção imagética seja atravessada pelo acaso dos ritmos e fluxos de um lugar-escola (OLIVEIRA JR, 2017). Já o conceito de lugar está sendo pensado como a coexistência de uma multiplicidade de trajetórias humanas e inumanas que envolve contato e negociação, e não por algum parâmetro de localização, de extensão, de origem ou de identidade (MASSEY, 2008). Pois, segundo Massey (1991, p. 184), o que dá a um lugar sua especificidade, não é uma história longa e internalizada, mas o fato de que ele se constrói a partir de uma constelação particular de relações.
    Em nossos processos metodológicos, adotamos um fazer cartográfico (PASSOS, KASTRUP, ESCÓSSIA, 2015), que acompanha processos inventivos e de produção de subjetividade, em forte relação com o contexto espacial onde eles se dão. Consideramos que os exercícios aplicados em nossas oficinas participam desse método, uma vez que atuam como intervenções nos contextos de aprendizagem de cinema na escola fazendo emergir linhas de intensidade diversas (tanto no cinema quanto na escola).
    Apostando na potência da arte de partilhar de outro modo o comum de uma comunidade – na medida em que possa desestabilizar a distribuição dos lugares e das identidades, dos espaços e dos tempos, do visível e do invisível, da palavra e do barulho (GUIMARÃES, 2015) – esperamos que essas experiências propiciem tatear/inventar/traçar gestos de contato com a diferença e com o dissenso – dando a ver as muitas fraturas do comum na invenção de mundos – para que práticas e relações educativas “outras” possam surgir desses cruzamentos. E para que o próprio cinema seja desafiado – em sua expressão e abordagem do espaço – ao ter que lidar com devires imprevistos provocados/permeados pela copresença de uma constelação específica de (des)conexões de trajetórias escolares.

Bibliografia

    GUIMARÃES, C. O que é uma comunidade de cinema?. Revista ECO-Pós, v. 18, n. 1, p. 45-56, 2015.
    MASSEY, D. Pelo espaço – uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.
    MASSEY, D. Un sentido global del lugar. (1991) In: ALBET, A.; BENACH, N. Doreen Massey – un sentido global del lugar. Barcelona: Icaria Editorial, 2012.
    MIGLIORIN, C. Inevitavelmente cinema: educação, política e mafuá. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2015.
    OLIVEIRA JR, W. M. Variações em um lugar-escola através atravessado pelo cinema e…. Linha Mestra, v. XI, p. 42-49, 2017.
    PASSOS, E.; KASTRUP, V.; ESCÓSSIA, L. Pistas do método da cartografia: pesquisa-intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina, 2015.