Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Adriano Ramalho Garrett (UAM)

Minicurrículo

    Mestre em Comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi, com dissertação sobre curadoria em festivais de cinema brasileiros contemporâneos. Idealizador e editor do site Cine Festivais. Membro da Abraccine, com textos publicados em três livros da entidade, e autor de um dos capítulos de “Desaguar em cinema: documentário, memória e ação com o CachoeiraDoc” (Edufba, 2020). Dedica-se atualmente à escrita (em coautoria com Kênia Freitas) de um livro sobre a história do Curta Kinoforum.

Ficha do Trabalho

Título

    Primavera de um festival: o MIS-SP e o Festival de Curtas (1990-1994)

Mesa

    Festivais e Mostras de cinema nascidas em Museus: três estudos de caso

Resumo

    Esta apresentação vai abordar os cinco primeiros anos do Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo (1990-1994) e seus antecedentes, destacando os entrecruzamentos de sua trajetória com a história do MIS-SP (LENZI, 2018). Também serão discutidas as ações de ambos (festival e museu) frente a um período de grandes transformações no audiovisual brasileiro, entre o início da segunda metade dos anos 1980 e o final da primeira metade dos anos 1990.

Resumo expandido

    A segunda metade da década de 1980 foi marcada no cenário audiovisual brasileiro pela chamada “Primavera do Curta”, que teve como marco inicial um tríplice empate na premiação do melhor curta-metragem no Festival de Gramado de 1986 entre os filmes: “A Espera”, de Mauricio Farias; “O dia em que Dorival encarou a guarda”, de Jorge Furtado e José Pedro Goulart; e “Ma que, bambina”, de Antonio Cecilio Neto – fato que à época foi entendido como sinônimo da qualidade elevada desses filmes (SILVA, 1999). Constituem esse momento histórico da “Primavera” uma nova regulamentação da lei de reserva de mercado para o curta-metragem brasileiro (Resoluções 137/1987 e 173/1988 do Conselho Nacional de Cinema – Concine), a exibição e premiação de filmes brasileiros do formato em festivais internacionais (cujo exemplo maior se dá com o Urso de Prata de Melhor Curta para “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado, no Festival de Berlim de 1990), o espaço crescente dado aos curtas em cadernos de Cultura de veículos como a Folha de S. Paulo e a valorização de abordagens estéticas tidas como inovadoras.
    Criado em 1970, o Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS-SP) tem como principal objetivo difundir e preservar manifestações artísticas de áreas como a música, a fotografia e as artes gráficas, além do cinema. A partir do final da década de 1980, no contexto da “Primavera do Curta”, o MIS-SP passa a se constituir como um polo de destaque para a exibição e para a produção de reflexões sobre filmes brasileiros de curta-metragem. Contratada em 1987 como curadora de vídeos do museu, e posteriormente remanejada para o departamento de cinema, a produtora audiovisual Zita Carvalhosa participa da criação de janelas de exibição regulares para curtas na programação do espaço, como na Mostra do Audiovisual Paulista (iniciativa do cineasta Francisco César Filho), com edições anuais a partir de 1987, e no projeto Curtas Inéditos, que chegou a ter exibições semanais. Em 1989, Zita organiza dentro do museu a mostra “80 Curtas dos Anos 80”, retrospectiva da produção brasileira daquela década realizada a partir de uma pesquisa com jornalistas, críticos e realizadores.
    Tal retrospectiva foi pensada como preparativo para o que no ano seguinte se concretizaria como o Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo, realizado e sediado exclusivamente pelo MIS-SP ao longo das suas cinco primeiras edições (1990-1994), e que a partir de 1995 passa a ser produzido de forma independente pela recém-criada Associação Cultural Kinoforum, que expande o evento para outros locais de exibição, como o CineSesc, o Centro Cultural São Paulo e a Cinemateca Brasileira. No período em que a produção do festival estava ligada ao museu, foram estabelecidas características que perdurariam ao longo de suas mais de 30 edições, como: a inserção no circuito internacional de festivais de curta-metragem, com destaque para o intercâmbio estabelecido com Clermont-Ferrand (França), Oberhausen (Alemanha) e Tampere (Finlândia); o caráter panorâmico da programação, que tencionava abrigar o maior número possível de estéticas, temáticas e geografias; a atenção dada às mostras retrospectivas, que partilhavam com o MIS-SP os objetivos de preservar, difundir e intervir (n)a história do curta-metragem brasileiro e internacional; e o lugar do festival como palco e agente de debates da classe cinematográfica do País.
    Esta apresentação vai abordar os cinco primeiros anos do Festival Internacional de Curtas-metragens de São Paulo (1990-1994) e seus antecedentes, destacando os entrecruzamentos de sua trajetória com a história do MIS-SP (LENZI, 2018). Também serão discutidas as ações de ambos (festival e museu) frente a um período de grandes transformações no audiovisual brasileiro – começando com a “Primavera do Curta”, passando pelo desmonte de políticas públicas para o setor cinematográfico realizado pelo Governo Collor – 1990-1992 e terminando pouco antes do início da chamada Retomada.

Bibliografia

    LENZI, Isabella Rodrigues. Museu da Imagem e do Som de São Paulo: o processo de criação e as diretrizes iniciais (1970-1980). 2019. Dissertação (Mestrado em Museologia) – Museologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
    SILVA, Denise Tavares da. Vida longa ao curta. 1999. 187 p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Multimeios, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 1999.
    SIMIS, Anita. Concine 1976-1990. In: Políticas Culturais em Revista, Salvador, v. 1, n.1, p. 36-55, 2008.