Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Thiago Siqueira Venanzoni (USP/FIAM-FAAM)

Minicurrículo

    Doutorando do PPG em Meios e Processos Audiovisuais (ECA-USP), com bolsa Capes. Docente audiovisual no Centro Universitário FMU FIAM-FAAM, membro dos grupos de pesquisa MidiAto (USP), Imagens, metrópoles e culturas juvenis (PUC-SP) e da Rede Metacrítica. Desenvolve pesquisas sobre novos arranjos de produção, distribuição e circulação audiovisuais; políticas públicas para o setor cultural e audiovisual; teorias do discurso e ações coletivas.

Ficha do Trabalho

Título

    As políticas da diversidade: o coletivo no audiovisual brasileiro

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Resumo

    O trabalho resume a tese que desenvolveu-se em torno dos novos arranjos de produção em coletivos no audiovisual brasileiro recente, na década de 2010, por meio de suas práticas discursivas e de um circuito acionado por meio de políticas culturais. A hipótese da pesquisa afirmou, ao tematizar as identidades a partir dos territórios, raça, classe e gênero, a ideia de diversidade social presente nesse circuito resultou em formas renovadas de organização da produção, distribuição e circulação.

Resumo expandido

    O presente trabalho, resultado de tese desenvolvida entre os anos de 2017 a 2021 no PPG Meios e Processos Audiovisuais (USP), parte-se do aumento significativo das produções audiovisuais a partir de investimentos, sobretudo públicos, que traduzem o emblema da diversidade ordenador do Plano Nacional de Cultura (2010-2022). Foi nesse período que, como demonstram os números coletados pela pesquisa, as políticas de redistribuição e investimentos atuaram de forma muito presente em diversas escalas de atuação, em especial nos recursos definidos e menos defensivos do Fundo Setorial do Audiovisual a partir de dois programas de fomento, o PRODAV e o PRODECINE. Essas ações no audiovisual atrela-se ao entendimento de todo o setor cultural nacional em uma ampliação da diversidade social a partir da descentralização e do reconhecimento a novos territórios produtivos.
    Além do aumento de investimentos no setor audiovisual como base dos processos discursivos do Plano Nacional da Cultura, é perceptível uma maior descentralização territorial da produção de formatos audiovisuais. As ações de valorização do local, como visto no plano nacional, se deram em contrariedade e pela afirmação da diversidade em relação às ações vistas no mercado cultural globalizado e suas ausências de paridade produtiva em um processo de unificação planetária. Demonstrou-se, assim, como essa afirmação resultou nesse período relatado em três escalas, a partir dos modos de organização dos grupos, das narrativas articuladas nos filmes e da relação buscada junto aos públicos: 1) em produtoras já estabelecidas no campo do cinema brasileiro; 2) em produtoras de cinema criadas na última década, e 3) em coletivos de produção periféricos, que coexistem a essas e também ocupam espaços de criação e circulação audiovisual.
    No primeiro grupo de produções identifica obras que associaram seu processo produtivo a partir dos locais de produção, entre o filme Era o hotel Cambridge (2017), Espero tua (re)volta (2018) e Um filme de verão (2019). No segundo grupo, coletivos formados a partir de ações mais diretas das políticas públicas, Coletivo de Cinema de Ceilândia (Ceicine), de Ceilândia-DF, Filmes de Plástico, de Contagem-MG e Rosza Filmes do Recôncavo Baiano, na Bahia. E um terceiro grupo com coletivos das periferias, em especial de São Paulo, com ações regionais de políticas de produção audiovisual mas que ainda buscam espaços para o reconhecimento social mais efetivo, como Gleba do Pêssego, da produção Bonde (2019), A Visionária Lab, produtora do documentário Visionárixs da Quebrada (2018) e Maloka Filmes, produtora do curta-metragem Perifaricu (2018), entre outras centenas de coletivos e produtoras audiovisuais que produzem nas periferias.
    Acompanhada a essas produções das periferias e às demais produções de coletivos na última década a presença de um novo estatuto da diversidade que complexifica a ideia de território, ao sair de um eixo principal para um eixo transversal que participa dos debates de raça, gênero e classe articuladas nas produções e narrativas analisadas. Na conclusão do trabalho, afirmou-se em como o reconhecimento se coloca, assim, como categoria social em narrativas audiovisuais a partir dos pontos de relação entre o sentido de coletivo nas produções, as hibridações estéticas e as políticas que possibilitaram essas organizações e práticas no audiovisual brasileiro. Como estratégia de sobrevivência aposta-se, em uma continuação possível a esta tese, não apenas em políticas de investimentos em produção, ampliando os arranjos regionais do fundo setorial e apoiando e reconhecendo as produções das periferias e de outros territórios invisibilizados, mas, sobretudo, em políticas de distribuição e no alargamento da circulação das obras audiovisuais a partir de regulação digital e apoio a projetos inovadores que buscam a valorização de produções locais em suas estratégias de distribuição, em dimensões locais e virtuais a partir de um novo estágio do consumo audiovisual.

Bibliografia

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