Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Thaís Itaboraí Vasconcelos (UFJF)

Minicurrículo

    Mestranda em Cinema e Audiovisual pelo programa de pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora. Graduada em Comunicação Social com habilitação em Cinema pela Universidade Federal Fluminense.

Ficha do Trabalho

Título

    Da Sinfonia ao Réquiem: atualizações das imagens de um gênero urbano

Resumo

    O gênero das sinfonias urbanas é emblemático ao se pensar a relação cidade e cinema. Se nos anos de 1920 as Sinfonias Urbanas representavam a cidade moderna pulsante e orquestrada, ao ritmo de máquinas e relógios, questiona-se quais as atualizações da imagem da cidade poderiam ser notadas em reverberações contemporâneas do gênero. Dentre outros caminhos possíveis, observa-se neste trabalho a representação da cidade em escombros, como no filme U: réquiem para uma cidade em ruínas (2016).

Resumo expandido

    As sinfonias urbanas do entreguerras são especialmente importantes ao se pensar a relação entre cinema e modernidade. A nova arte cinematográfica era vista como a melhor forma de expressar a exaltação do movimento característico das cidades da época, num cinema de vanguarda com montagem rítmica e experimental. A cidade, nesses filmes, não é um pano de fundo para a história e sim seu principal tema.
    Todavia, a visão de uma cidade moderna que era exaltada por seu movimento e tecnologia se extingue muito brevemente, com o início da Segunda Guerra Mundial, a grande depressão e os escombros de grandes metrópoles destruídas.
    Além disso, as Sinfonias Urbanas perdem a sua força, não só pelas alterações econômicas e sociais das cidades, mas também pelas alterações da própria linguagem do cinema com o advento do cinema falado. Pensando especificamente o campo do documentário, há uma maior valorização do modo expositivo, que enfatiza o comentário verbal em uma linguagem argumentativa em detrimento de uma linguagem visual e poética (ÀLVAREZ, 2015, p. 35).
    Nesse contexto, muitas vezes, as sinfonias urbanas são pensadas como um fenômeno associado exclusivamente ao período entreguerras. Entretanto, existem diversos filmes contemporâneos ligados ao gênero. Para associar filmes contemporâneos à corrente, se faz necessário ter em mente as transformações tanto na linguagem cinematográfica quanto nas visões das cidades, as quais passam por inúmeras alterações, seja por suas variadas crises que reduzem as razões para exaltá-las, seja por mudanças na sociabilidade e percepções do urbano.
    Se nos anos de 1920 as Sinfonias Urbanas representavam a cidade moderna pulsante e orquestrada, ao ritmo de máquinas e relógios, questiona-se quais as atualizações da imagem da cidade poderiam ser notadas nas reverberações contemporâneas.
    Nesse questionamento o principal elemento que surge como ícone é o da ruína. Elemento esse que está presente no escopo cinemático desde o primeiro cinema. O filme “Démolition d’un mur” (1986) dos irmãos Lumière é destacado na história por ser o primeiro filme a utilizar a técnica de reverse. O muro no filme é construído e reconstruído num truque de edição que “nega a irreversibilidade da temporalidade”(HUYSSEN; HELL; SCHÖNLE, 2010, p.198) é bem revelador essa utilização contextualizando o momento histórico e os pensamentos em voga na época do processo de acelerada urbanização.
    Nas cidades destruídas durante a Segunda-Guerra as ruínas aparecem com uma percepção completamente distinta, no qual se questiona a própria possibilidade de se filmar as cidades destruídas.
    O longa-metragem “Koyaanisqatsi”(1982) já aponta indícios de novas ruínas contemporâneas além das cidades destruídas por guerras, temos em uma cena, por exemplo, a destruição de um complexo habitacional.
    Ainda no contexto da estética das ruínas, temos alguns outros elementos iconográficos catalogados, ao pensar a recessão dos anos de 2008- 2014 no contexto ibérico, Àlvarez levanta dois ícones: as fábricas fechadas e as obras abandonadas. (ÀLVAREZ, 2019).
    Próximo a esse período no Brasil vivemos um momento de grandes transformações em algumas cidades brasileiras, em 2014 o país sediou a Copa do Mundo e teve doze cidades-sede. Além das percepções e crises do espaço urbano, as cidades-sede viveram um processo de transformação e vivenciaram grandes obras um tanto quanto controversas. É nesse cenário que o filme “U: réquiem para uma cidade em ruínas”(2016), de Pedro Veneroso, realizado em Belo Horizonte se insere, numa cidade em constante mutação onde “tudo parece que é ainda construção e já é ruína”.
    Busca-se então traçar um paralelo das sinfonias ao réquiem, traçar um percurso da representação da cidade cinemática, um caminho dentre outros vislumbráveis que segue da cidade ícone da modernidade a uma representação da cidade em ruína.

Bibliografia

    ÁLVAREZ, Iván Villarmea. Blinking Spaces:, Koyaanisqatsi’s Cinematic City et al. Culture, Space, and Power: Blurred Lines. Lexington Books, 2015.
    ______, Iván Villarmea. Paisagens Vividas, Trabalhadas, Truncadas. Iconografia da Periferia Urbana no Cinema Ibérico da Austeridade. Rebeca-Revista Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual, v. 8, n. 2, p. 15-34, 2019.
    CHARNEY, L.; SCHWARTZ, V. R. O cinema e a invenção da vida moderna. 2ª Edição. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
    COMOLLI, Jean L. A cidade filmada. Cadernos de Antropologia e Imagem. Rio de Janeiro, ano, v. 3, 1995.
    HELL, Julia; SCHÖNLE, Andreas. Ruins of Modernity. Durham, NC: Duke University Press, 2010.
    HIELSCHER, Eva; JACOBS, Steven; KINIK, Anthony. Introduction: the city symphony phenomenon 1920–40. In: The city symphony phenomenon: cinema, art, and urban modernity between the wars. Routledge, 2018. p. 3-42.