Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Juliana Soares Mendes (PPGCine/UFF)

Minicurrículo

    Doutoranda no PPGCine-UFF. Mestra em Ciências Sociais pelo PPGECsA/UnB (antigo PPG/CEPPAC). Possui graduação em Publicidade e Propaganda pela UnB e em Jornalismo pelo Instituto de Educação Superior de Brasília. É pesquisadora do Programa de Extensão de Ação Contínua Comunicação Comunitária – FAC/UnB. Atua como analista de comunicação na agência e produtora Forest Comunicação, desenvolvendo roteiros e projetos audiovisuais.

Ficha do Trabalho

Título

    O fantástico no longa-metragem “Vida de Menina” de Helena Solberg

Resumo

    Como o gênero audiovisual fantástico (englobando o fantasmático, a fantasia e o maravilhoso) gera representações para a transformação social? Respondemos a partir da análise do longa de Helena Solberg: “Vida de menina” (102 min, 2003) e de algumas obras de diretoras latino-americanas que iniciaram sua carreira em 1960 e 1970. Para isso, pontuamos, em seus filmes, elementos que rompem com a realidade: uma alma que se separa do corpo, metáforas de crucificação de mulheres e o riso de uma bruxa.

Resumo expandido

    A análise responde como o uso do gênero audiovisual do fantástico permite gerar representações para a transformação social. As considerações são tecidas a partir da leitura do primeiro longa ficcional de Helena Solberg: “Vida de menina” (102 min, 2003). Obra que foi baseada nos diários escritos de 1893 a 1895 por uma adolescente em Diamantina-MG, publicados em 1942 sob o pseudônimo de Helena Morley (ORSOLIN; MELO, 2018). Percorremos também por algumas obras de diretoras latino-americanas que iniciaram sua carreira nas décadas de 1960 e 1970.
    Historicamente essas profissionais não obtiveram reconhecimento e a presença de mulheres no cargo de diretoras continua pequena atualmente, participando de 17% das obras que tiveram Certificado de Produto Brasileiro emitido em 2016 (ANCINE, 2017). Mas o conhecimento sobre essas diretoras latino-americanas tem se acumulado com a iniciativa de pesquisadoras que procuram resgatar as obras e trajetórias dessas profissionais femininas (HOLANDA; TEDESCO, 2017).
    Como uma pequena contribuição para a compreensão das obras dessas cineastas, esta comunicação se interessa pela maneira como elas utilizam a linguagem cinematográfica. Um aspecto que se destacou ao acessar alguns desses títulos foi o uso do fantástico na narrativa e procuramos entender a função desses elementos. Debatemos se as rupturas com o real e a criação de mundos imaginários contribuíram para uma narrativa de transformação social.
    De início, pontuamos que os gêneros audiovisuais dificilmente se encontram em estado puro (MITTEL, 2004). Nesta proposta, consideramos os gêneros do fantástico, fantasmático, fantasia e maravilhoso, reconhecendo a polissemia entre os termos (BASÍLIO, 2018; CARVALHO, 2011; PETZOLD, 1986).
    Também utilizamos as definições de Dieter Petzold (1986) de um mundo secundário nas histórias, que se relaciona de quatro diferentes modos com a realidade: subversivo (apresenta uma realidade que, até então, era oculta e começa a surgir após um evento inexplicável); alternativo (apresenta um outro mundo que poderia se desenvolver no futuro); desiderativo (um mundo secundário e melhor, que nunca poderia existir na realidade); e aplicativo (mantém correspondência entre os mundos, falando da experiência humana a partir de abstrações). Todos são fantasmáticos, mas apenas os dois últimos modos são considerados como fantasia pelo autor.
    Esses elementos e modalidades aparecem nas obras: “A Entrevista” (19 min, 1966), da brasileira Helena Solberg, “Rompiendo el silencio” (37 min, 1979), da mexicana Rosa Martha Fernández, e “La segunda oportunidad” (25 min, 1990), da colombiana Eulalia Carrizosa. Percebemos que o insólito nesses documentários tem o potencial de criar analogias, atmosferas e sensações na audiência, gerando reflexões. A fenda nessa realidade (seja de um espírito que se separa do corpo, de uma mulher presa em uma cruz ou de uma voz de bruxa rindo) cria ainda mais tensão se lembrarmos que são obras documentais (ainda que híbridas).
    Por outro lado, para o estudo da ficção “Vida de Menina”, selecionamos três sequências do filme. Nelas, identificamos que os aspectos de fantasia podem, por ora, servir como escape da realidade da protagonista (vivendo em situação precária em comparação aos outros personagens) e da audiência (que pode assistir à ficção de forma distraída). Contudo, em outros momentos, as situações são tão exageradas ou causam uma estranheza que podem conduzir à reflexão.
    A partir dos olhos de uma cultura infantil, vemos críticas sociais de uma adolescente. E os elementos de fantasia, como quando a protagonista enxergar uma menina sendo arrastada por labaredas atrás do altar da igreja, se tornam provocações sobre a realidade. Esses signos convidam a audiência a questionar sobre costumes (casamento, trabalho e até beleza) e estruturas de poder à quais as mulheres estão submetidas no passado e no presente.

Bibliografia

    ANCINE. Participação fem. na prod. audiovisual brasileira (2016). Brasil: OCA, 2017.
    HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina. Apresentação: a plural. do fem. no cinema brasileiro. In: Feminino e plural: mulheres no cine. bras. Campinas: Papirus, 2017.
    MITTEL, Jason. Genre and television: from cop shows to cartoons in Americ. culture. Nova York; Londres: Routledge, 2004.
    BASÍLIO, Fabrício. “Não pode ser, mas é”: front. do sobren. no Cine. Bras. contemp. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Artes e Comunicação Social, PPGCOM, Niterói, 2018.
    CARVALHO, Ana Seabra de. (In)veros. e fantástico ou a arte de provocar o medo. In: Carnets [Online], Première Série – 3 | 2011.
    MULHERES DO CINEMA BRASILEIRO. Entrevista e Depoimentos – Helena Solberg. Entrevista feita durante a 8ª Mostra de Cinema de Tiradentes, 2005.
    PETZOLD, Dieter. Fantasy fiction and rel. genres. In: Modern Fiction Studies. Vol. 32, Nº 1, Special Issue: Science and Fantasy Fic. (Spring 1986).