Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Fernanda Sales Rocha Santos (USP)

Minicurrículo

    Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Mestre pelo mesmo programa. Seus temas de pesquisa envolvem relações entre gêneros, realismo e intermidialidade. Além de pesquisadora, é dramaturga e roteirista audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    O processo intermidiático no roteiro de BabyDoll de Tennessee Williams

Seminário

    Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual

Resumo

    Almeja-se lançar luz sobre a relação entre literatura, teatro e cinema no roteiro do filme “Baby Doll”, escrito por Tennessee Williams em 1955. Para tanto, se levará em conta os processos intermidiáticos que envolveram a fusão e adaptação de um conto e duas peças curtas do mesmo autor, bem como a relação de tensão e conflito entre o roteiro escrito e a obra filmada pelo diretor Elia Kazan em 1956.

Resumo expandido

    Trilhando a perspectiva dos estudos intermidiáticos, a presente pesquisa se alinha à ideia de que a relação entre mídias pode ser um método de acesso para se entender rupturas dentro do padrão estético e discursivo de uma obra ou de um conjunto de obras. Utilizando-se do conceito de dissenso de Jacques Rancière (2010), Lucia Nagib (2014) enfatiza que a troca intermidiática pode gerar elementos discrepantes do regime estético e do discurso hegemônico de uma obra artística em um determinado período histórico. Desta forma, almeja-se lançar luz sobre a relação entre literatura, teatro e cinema no roteiro do filme “Baby Doll”, escrito por Tennessee Williams em 1955. Para tanto, se levará em conta os processos que envolveram a fusão e adaptação de um conto e duas peças curtas do mesmo autor, bem como a relação de tensão e conflito entre o roteiro escrito e a obra filmada pelo diretor Elia Kazan em 1956.

    A relação de Williams com o cinema, e mais especificamente com o roteiro cinematográfico, é anterior ao seu primeiro sucesso sobre os palcos: Tennessee chegou a trabalhar para a MGM como roteirista contratado antes de se tornar o famoso dramaturgo teatral. Nessa breve experiência, Williams não teve um roteiro sequer aprovado e nutriu uma profunda frustração diante a rotina de trabalho do roteirista no período. Seu primeiro sucesso para o teatro, a peça “The Glass Menagerie” (1944) surge de um projeto feito para o cinema, mas recusado pela MGM. No entanto, após o estouro dessa peça no teatro, Williams é chamado para a roteirização de sua adaptação e, desde então, acompanha de perto a transposição para as telas de outros de seus sucessos no palco. O autor foi creditado por sete roteiros, sendo que a maioria foi escrito em colaboração com outros roteiristas.

    Após o sucesso, no cinema, de “A Streetcar Named Desire” (1951, Elia Kazan), Williams foi pressionado pelo diretor Kazan para escrever um roteiro original baseado num conjunto de peças curtas que contivesse os mesmos elementos associados ao sucesso de suas obras anteriores e que levasse às telas temas tabus, sensacionalismo, realismo e a originalidade de Williams. “Baby Doll” surge dessa pressão e é um roteiro controverso: embora cheio de indicações de planos e posições de câmeras, é bastante literário, mantendo elementos do lirismo característico de Williams, bem como de uma teatralidade em relação ao tempo das cenas e a interação das personagens no espaços. Além disso, o roteiro tem importantes diferenças da obra filmada, em 1956, por Kazan. Tomando o roteiro como objeto de partida, visa-se entender, por um lado, a diferenciação desta obra em relação ao padrão dos roteiros hollywoodianos do período, assim como a singularidade da obra fílmica – que fissura padrões melodramáticos do período –, fruto da tensão entre o roteiro escrito e as incursões decisivas de Elia Kazan.

    Assim, busca-se averiguar os processos intermidiáticos que envolvem o roteiro de Baby Doll em amplos aspectos, tomando elementos de dissenso do roteiro padrão do período, sob a influência de outras mídias dentro do texto. Essa apresentação faz parte de uma pesquisa mais ampla que busca entender a relação entre Broadway e Hollywood nos anos 1950 pelo viés dos dramaturgos e roteiristas do período, muitas vezes tomando o roteiro e a dramaturgia teatral como objetos antes do filme.

Bibliografia

    BROOKS, P. The melodramatic imagination: Balzac, Henry James, melodrama, and the mode of excess. New Haven: Yale University Press, 1995.
    DINIZ, T. F. N. “Intermidialidade: perspectivas no cinema”. Rumores, São Paulo, n. 24, v. 12, p. 41-60, 2018.
    HEINTZELMAN, G.; SMITH-HOWARD, A. Critical companion to Tennessee Williams. New York: Facts On File, 2005.
    NAGIB, L.; JERSLEV, A. (eds.). Impure cinema:intermedial and intercultural approaches to film. London: Bloomsbury, 2014.
    PALMER, R. BARTON, Hollywood’s Tennessee: the Williams films and postwar America. Austin: University of Texas Press, 2009.
    RANCIÈRE, J. Dissensus: on politics and aesthetics. London: Bloomsbury, 2010.
    WIILIAMS, Tennessee. Baby Doll & Tiger Tail – A screenplay and play by Tennessee Williams. New York: New Directions Books, 1991.
    WILLIAMS, Tennessee. 27 carros de algodão e outras peças de um ato. São Paulo: É Realizações, 2013.
    WILLIAMS, Tennessee. The Theatre of Tennessee Williams: volumes 1-8.NY: New Directions,1992