Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Marcus Vinicius Fainer Bastos (PUC-SP)

Minicurrículo

    Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, onde é professor vinculado ao Departamento de Artes, desde 2003, e ao programa de pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital, desde 2012. Publicou os livros Audiovisual ao Vivo: tendências e conceitos (com Patricia Moran, Intermeios, 2020), Limiares das Redes (Intermeios, 2014) e Cultura da Reciclagem (Noema, 2007, ebook), além de organizar Cinema Apesar da Imagem (com Gabriel Menotti e Patricia Moran, Intermeios 2016) e

Ficha do Trabalho

Título

    Ruttman e Eggeling: análise de dois exemplos de música visual

Resumo

    Este artigo propõe uma análise de duas obras importantes do gênero Lichtspiel Opus 1, de Walter Ruttman, e Symphonie Diagonale, de Victor Eggeling), como forma de contribuir para o aumento de discussões críticas sobre este universo. A proposta esta inserida numa pesquisa mais ampla sobre o campo expandido do audiovisual, que busca mapear as formas experimentais de articulação entre som e imagem em movimento.

Resumo expandido

    O universo da visual music — que especialistas no tema que escrevem em português, como Sergio Basbaum, também chamam de música visual — é muito mais rico que o repertório de análises disponíveis sobre suas principais obras. Apesar de ser específica aos filmes de visual music, a afirmação de Aimee Mollaghan pode ser generalizada para a música visual como um todo, quando ela observa que “[a]o contrário de outros formatos de filme de vanguarda, em que é possível consultar volumes, o tema da visual music no cinema experimental foi sub-representado na história do cinema enquanto uma categoria distinta” . Mesmo com a existência de autores importantes voltados ao tema, como é o caso de William Moritz, a escrita mais sistemática e abrangente sobre o campo passa a acontecer apenas mais recentemente, quando a emergência de práticas como o VJing e o live cinema resultam em uma retomada do interesse na música visual.

    O conceito de visual music surge como desdobramento da aproximação entre pintura e música na passagem do século 19 ao 20. Em A imagem expandida — sobre a musicalização das artes visuais no século 20, Sandra Naumann aborda o tema no âmbito de quatro tendências a partir das quais ela considera possível rastrear o processo de musicalização das artes visuais, seguido do surgimento de processos de experimentação que buscaram sinergias multimodais entre imagem e som. Para Naumann, essas quatro tendências, que acontecem em momentos distintos ao longo do século 20, são um desvio mimético na representação pictórica; a integração da dimensão musical do tempo nas artes visuais e o uso de métodos composicionais para estruturar o visual; a expansão do visual no espaço; a geração de imagens por meio de improviso e uso de mídias em tempo-real . É claro que são conceitos complexos, que se cruzam e se complementam, mas em linhas mais gerais é possível associar os dois primeiros às obras de artes visuais e pioneiros da visual music que surgem da passagem do século 19 ao 20 até meados da segunda guerra mundial, o terceiro aos anos 1960, com o surgimento do chamado cinema expandido, e o quarto às linguagens ao vivo que aparecem com o surgimento de computadores e programas capazes de executar vídeo em tempo real e promover modificações instantâneas em suas configurações.

    Este artigo propõe uma análise de duas obras importantes do gênero Lichtspiel Opus 1, de Walter Ruttman, e Symphonie Diagonale, de Victor Eggeling), como forma de contribuir para o aumento de discussões críticas sobre este universo. A proposta esta inserida numa pesquisa mais ampla sobre o campo expandido do audiovisual, desenvolvida nos últimos anos em duas frentes: o cruzamento de conceitos das diferentes tradições de análise do audiovisual, visando formular um campo híbrido; a análise de exemplos relevantes, desde o surgimento dos órgãos de cor aos desdobramentos contemporâneos da performance audiovisual, sempre que possível dando ênfase à produção brasileira na área.

    O texto será desenvolvido em quatro partes: uma discussão sobre o conceito de música visual, a partir de autores como Naumann, Basbaum e Mollaghan; uma análise detalhada de Lichtspiel Opus 1; uma análise detalhada de Symphonie Diagonale; uma reflexão sobre as consequências de ambas as análises para o entendimento crítico da música visual, assim como para um debate mais amplo sobre os vocabulários críticos que compõe um campo audiovisual expandido em que cinema experimental, videoarte e audiovisual contemporâneo constituem uma trama complexa de montagens com imagem e som alternativas à história tradicional do cinema.

Bibliografia

    Basbaum, Sergio. Em busca de uma música visual: duas abordagens pioneiras, in: Menotti,
    Gabriel. Curadoria, cinema e outros modos de dar a ver (org.). Vitória: Edufes, 2018.
    Bastos, Marcus; Moran, Patrícia. Audiovisual ao vivo: tendências e conceitos. São Paulo:
    Intermeios, 2020.
    Cunha, Paulo José. De “Fantasia” à “Fantasia de Walt Disney”, in: revista Manuscrítica, n. 19.
    São Paulo: USP.
    Mollaghan, Aimee. The visual music film. New York: Palgrave McMilliam, 2015.
    Moritz, William. Mary Ellen Bute: Seeing Sound. Animation World Magazine, 1996.
    _____________. Optical Poetry: the life and work of Oskar Fishcinger. Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press, 2004.
    Naumann, Sandra. A imagem expandida. Da musicalização das artes visuais no século 20, in: Aly,
    Natalia; Bastos, Marcus. Audiovisual Experimental. Arqueologias, diálogos,
    desdobramentos. São Paulo: Pontocom, 2018.
    ______________. A visual visionary: avant-garde filmmaker Mary Ellen Bute, in: a:minima: Live Cinema,