Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Luiz Fernando Wlian (UNESP)

Minicurrículo

    Pesquisador doutorando em Comunicação pela UNESP. Mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ, onde desenvolveu a pesquisa “Estranhos que Cantam e Dançam: Potências Dissidentes no Cinema Musical” (2019), trabalho que observa questões do gênero musical cinematográfico em diálogo com o cinema queer. Graduado em Cinema e Audiovisual pela UFF. Investiga Cinema, Audiovisual, Comunicação e Estética. Atualmente se interessa em estéticas dissidentes, teorias queer e afetos no audiovisual contemporâneo.

Ficha do Trabalho

Título

    Em busca dos espaços outros

Resumo

    Imagens e sons podem nos conduzir a sentir e performar “novos mundos”. O trabalho busca observar esses “novos mundos” de um ponto de vista dissidente no audiovisual queer contemporâneo no Brasil. Por meio da análise dos curtas Negrum3 e Vando Vulgo Vedita, baseada nas ideias de pedagogias do desejo, heterotopia, afeto e estratégias sensíveis, buscamos observar como esse audiovisual tem numa “pedagogia dos espaços outros” uma possível estratégia comunicativa dissidente balizada pelo sensível.

Resumo expandido

    “O aqui-agora é uma prisão […]. Nós devemos sonhar e performar novos e melhores prazeres, outras formas de estar no mundo e, por fim, novos mundos” (MUÑOZ, 2009, p. 1). Essa citação, tomada do teórico queer José Muñoz, convida-nos ao tema do presente trabalho: a comunicação de um ponto de vista dissidente, transviado, queer. De forma específica: a produção audiovisual queer contemporânea no Brasil, e suas possíveis estratégias de engajamento pela via do sensível.
    “Novos mundos”. Sensações como essas parecem estampar o rosto delicadamente pintado do jovem que, diante de um microfone e com os olhos fixos em nós, proclama os dizeres “Manifesto Pelo Espaço Preto”, no curta-metragem Negrum3 (Diego Paulino, 2018). Algo semelhante parece ocorrer com a profusão de corpos reunidos que se tocam carinhosamente à beira d’água no curta-metragem Vando Vulgo Vedita (Leonardo Mouramateus, 2017). Corpos que encarnam obras integrantes de um ascendente audiovisual queer brasileiro. Corpos não-conformes, ou, como coloca Guacira Lopes Louro (2004, p. 8), corpos estranhos que perturbam, provocam e fascinam. Esses corpos, em sua partilha de desejos, prazeres, parecem querer nos sensibilizar para um “algo outro”. Mobilizam afetos que encenam novas formas de vida que, performadas no presente, contrastam com ele e sinalizam outras possibilidades. Quando pensamos nessas e em outras obras, podemos observar que boa parte dessa produção funda sua crítica ao momento presente por meio de encenações efusivas, em que corpos performáticos se expandem e propiciam novas formas de ser e estar no espaço, novas temporalidades, novos embates com a esfera pública e privada, algo investigado em estudos recentes nos campos da Comunicação e do Cinema (LOPES, 2016). Essas produções audiovisuais instigam-nos a questionamentos: a que servem essas propostas cênicas? Onde se situam, o que criticam e como o fazem? Em suma: quais as possíveis estratégias de comunicação que podem ser engendradas por meio dessas imagens e sons, e como elas têm no afeto e no sensível o seu baluarte?
    Tomando por objeto os curtas-metragens Negrum3 e Vando Vulgo Vedita, analisados sob as ideias de pedagogias do desejo (BALTAR; SARMET, 2016) e de heterotopia e outros espaços (FOUCAULT, 2009), apoiadas pelos conceitos de afeto (RAMALHO, 2012; SODRÉ, 2006) e de estratégias sensíveis (SODRÉ, 2006), buscamos enunciar como parte do audiovisual queer contemporâneo busca empreender uma “pedagogia dos espaços outros”; busca evocar ao exercício de sentir e imaginar espaços em que as temporalidades, as relações, os encontros, apresentam-se de forma ampliada, regida por leis diversas às do nosso mundo. Um audiovisual que busca centralizar o corpo – enquanto imagem, materialidade, tessitura, superfície sensível – como agente de concepção desse espaço que, ao mesmo tempo, decompõe e crítica a sociedade contemporânea e evoca afetos e desejos por formas outras de vida, formas outras de ser e estar. Assim, esse audiovisual se enquadraria não apenas em uma forma outra de experiência estética, mas também em uma agenda política mais ampla, que buscaria, pela via do sensível, congregar corpos e sujeitos rumo a novas formas de pensar e fazer o real, fazer o mundo.
    Por fim, ao compreendermos estratégias sensíveis (SODRÉ, 2006) como modos de estratégia comunicacional balizadas pelo aparato sensível dos sujeitos, bem como pela primazia do lugar social e cultural que esses sujeitos ocupam no processo de comunicação, buscamos enunciar que a “pedagogia dos espaços outros” opera como uma possível encarnação de estratégias sensíveis especificamente dissidentes engendradas pelo audiovisual queer contemporâneo.

Bibliografia

    BALTAR, Mariana; SARMET, Erica. Pedagogias do desejo no cinema queer contemporâneo. Textura, v. 18, n. 38, 2016
    FOUCAULT, Michel. Outros espaços. In: MOTTA, Manoel Barros da. (org.). Estética: Literatura e pintura, música e cinema: Michel Foucault. 2ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.
    LOPES, Denilson. Afetos, relações e encontros com filmes brasileiros contemporâneos. São Paulo: Hucitec, 2016.
    LOURO, Guacira L. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
    MUÑOZ, José. Cruising utopia: the then and there of queer futurity. New York: New York University, 2009.
    RAMALHO, Fábio. As pertinências do afeto. In PRYSTON, A.; SALCEDO, D. A.; DINIZ, T. R. (orgs.). Comunicação e sociedade: transformações midiáticas no contemporâneo. Recife: Ed. Universitária UFPE, 2012.
    SODRÉ, Muniz. As estratégias sensíveis: afeto, mídia e política. Petrópolis: Vozes, 2006.