Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Lucas Martins Néia (USP)

Minicurrículo

    Lucas Martins Néia é roteirista, dramaturgo e diretor teatral. Doutorando em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Bacharel em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Londrina. Palestrante do Programa Pontos MIS, do Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Finalista dos concursos de roteiros de piloto de série do Prêmio Lince 2020 e do FRAPA 2019. Semifinalista do concurso de roteiros de piloto de série do GUIÕES 2021.

Ficha do Trabalho

Título

    Telenovela brasileira e estudos de roteiro: um estado da questão

Seminário

    Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual

Resumo

    Este trabalho objetiva prospectar o lugar do roteiro nos estudos de telenovela no Brasil. Para isso, procedemos a um mapeamento e levantamento bibliográfico referente a pesquisas que se voltaram à intersecção entre a escrita audiovisual e a telenovela brasileira, de modo a versar acerca de conteúdos temáticos e modelos teóricos presentes em tais investigações. Buscamos, ainda, discutir os desafios de se tomar o roteiro como fonte e reflexão para o estudo de ficções de longa serialidade.

Resumo expandido

    Nas últimas décadas do século XX, a telenovela se impôs imperativamente à academia brasileira na condição de objeto científico (LEMOS, 2011). Tal feito se deu por meio de um processo de legitimação social que, ao reverberar no ambiente das instituições de ensino superior, materializou-se em práticas institucionais – como a criação, em 1992, do Núcleo de Pesquisa de Telenovela (NPTN) da ECA-USP (MALCHER, 2002). Essa cronologia abrange desde a publicação, nos anos 1970, de ensaios que estigmatizavam a “indigência cultural” das ficções televisivas – estudos fortemente influenciados pela escola frankfurtiana – à emergência, já na década de 1980, de trabalhos mais aprofundados relativos a essas narrativas, dotados de um caráter político-cultural e/ou socioeducativo.

    A dissertação de Sarques (1981) deriva justamente desse entremeio: a autora se dedicou a investigar como o público feminino reproduzia a “ideologia sexual” das telenovelas, elegendo Os Gigantes (Globo, 1979), trama de Lauro César Muniz que enfrentou diversos problemas no decorrer de sua exibição, para um estudo de caso. Com uma estratégia multimetodológica voltada tanto à análise interna da obra como a entrevistas com telespectadoras, Sarques anexa a seu trabalho os roteiros de duas versões do capítulo final daquela ficção: o último tratamento trabalhado por Muniz – vetado pela Globo – e uma transcrição relativa ao material que realmente foi ao ar.

    Trata-se de um dos primeiros registros da utilização de scripts de telenovela na práxis de uma pesquisa. Materiais de difícil acesso, os roteiros dessas produções costumam subsidiar investigações com um viés histórico – sejam aquelas que recorrem aos arquivos do Estado para verificar como a prática censória afetou a produção televisiva, sejam as que tomam os scripts visando à reconstituição do entorno discursivo (KLINGER, 1997 apud FREIRE FILHO, 2004) de obras das quais restam poucos materiais audiovisuais. Estudos mais recentes, como o de Anzuategui (2013), se valem da centralidade adquirida pelo autor-roteirista na cadeia produtiva da telenovela brasileira para investigar a poética de dramaturgos que, a partir dos anos 1960, se aventuraram na TV.

    É importante ressaltar, ainda, que a telenovela foi tomada como fonte de reflexão de duas publicações seminais no que diz respeito à escrita audiovisual no Brasil – como, afinal, não poderia deixar de ser: falamos dos trabalhos de Comparato (1983) e de Rey (1989). Comparato destaca a telenovela Gabriela (Globo, 1975) – adaptação de Walter George Durst do romance de Jorge Amado – como um caso que exigiu a ampliação do material literário original: além das tramas presentes no livro, Durst precisou desenvolver outros entrechos para sustentar os seis meses de exibição da produção televisiva. Já Rey discorre acerca de sua experiência ao adaptar A moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo, para o horário das 18h da Globo em 1975.

    Nosso artigo se lança às seguintes questões: que lugar o roteiro tem ocupado nas pesquisas envolvendo a telenovela brasileira? Os aportes que despontam desses estudos convergem para alguma agenda de investigação específica? Há profissionais envolvidos na produção de tais ficções que também se dedicaram (ou têm se dedicado) a refletir sobre sua prática no âmbito acadêmico? Como um esforço inicial para mapear o estado da arte desse objeto tão específico – o roteiro de telenovela –, pretendemos realizar buscas na Plataforma Lattes de forma a encontrar pesquisadores que tenham em seus currículos as palavras “roteiro” e “telenovela”/“novela”; procederemos, em seguida, à análise dos títulos da produção científica desses pesquisadores, com o objetivo de verificar se eles possuem trabalhos nos quais, de fato, há uma convergência dos dois assuntos. Esperamos que esses achados nos permitam discutir desafios teóricos, metodológicos e empíricos que se impõem, no âmbito dos estudos de roteiro, com relação a investigações focadas em narrativas de longa serialidade.

Bibliografia

    ANZUATEGUI, Sabina. O Grito de Jorge Andrade: a experiência de um autor na telenovela brasileira dos anos 1970. Cotia: Ateliê Editorial, 2013.

    COMPARATO, Doc. Roteiro: arte e técnica de escrever para cinema e televisão. Rio de Janeiro: Nórdica, 1983.

    FREIRE FILHO, João. Por uma nova agenda de investigação da história da TV no Brasil. Contracampo, Niterói, n. 10-11, p. 201-218, jan./abr. 2004.

    LEMOS, Ligia Prezia. CETVN – Centro de Estudos de Telenovela: Fale conosco! A gestão da comunicação on-line. Comunicação & Educação, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 77-85, jan./jun. 2011.

    MALCHER, Maria Ataide. Telenovela: um olhar sobre a produção acadêmica. Novos Olhares, São Paulo, v. 5, n. 10, p. 42-49, jul./dez. 2002.

    REY, Marcos. O roteirista profissional: televisão e cinema. São Paulo: Ática, 1989.

    SARQUES, Jane. A ideologia sexual d’Os Gigantes. 1981. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Instituto de Expressão e Comunicação, Universidade de Brasília, Brasília, 1981.