Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Catarina de Almeida (UFF)

Minicurrículo

    Mestra em Cinema e Audiovisual pela UFF-PPGCine. Graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (UNESA). Pesquisa a atuação feminina, o conceito de atriz-autora. Dedicou o tema em sua dissertação trazendo atrizes do Cinema Novo e Hollywood. Também é cineasta e produtora. Sendo seu último filme “Maria Adelaide”.

Ficha do Trabalho

Título

    Sois belle et tais-to: Manifesto da atuação feminina autoral

Seminário

    Cinemas mundiais entre mulheres: feminismos contemporâneos em perspectiva

Resumo

    Em 1981, Delphine Seyrig, filma 23 atrizes em sua maioria européia e americana, com o intuito de debater as relações que uma atriz pode ter com a obra a ser trabalhada, documentando suas falas e apresentando mulheres insatisfeitas com seus trabalhos, dando espaço para que as atrizes falassem sobre como gostariam de ter performado. Focaremos em algumas inquietações das atrizes filmadas, a fim de dar voz a essas mulheres que, não puderam exercer suas performances de maneira autônoma.

Resumo expandido

    Esta apresentação surge a partir de um desdobramento feito em minha dissertação, que em parte, analisei 11 das 23 atrizes documentadas por Delphine Seyrig em seu documentário-manifesto Sois belle et tais-toi (1981). Resumindo para tal ocasião, selecionei os relatos das atrizes Jane Fonda, Barbara Steele, Viva, Maria Schneider, Juliet Berto e Telias Salvi.
    De início, Seyrig parece querer já documentar as insatisfações das atrizes, ao ouvir delas que não tiveram abertura para criar suas personagens. O excesso de automatismo desempenhado pelos diretores e produtores nos filmes que trabalharam, as impossibilitou de cooperar de forma criativa, para além dos comandos de um roteiro ou decupagem. Neste ponto, as atrizes se percebem como não capazes de engrandecer obras e diversificar olhares, por conta do modo de operação da indústria e sua hierarquia.
    Barbara Steele, comenta que em seus papéis, ela não estava presente, reforçando a ideia de marionete, analisada já por James Naremore em Acting in the Cinema.
    Viva, ao pensar na sua potência de performance, argumenta que nunca representou papéis que correspondem à sua “personalidade íntima”, afirmando que sua essência não foi mostrada nos filmes em que trabalhou.
    Em certo momento, nomeei um subcapítulo que reúne relatos das atrizes afirmando que, os homens da indústria não gostam das mulheres, e sim do objeto sexual que elas representam.
    Rose de Gregório chega a afirmar que: “Acho que eles não gostam das mulheres. É um dos motivos pelos quais, quando eles imaginam uma mulher num filme, eles veem uma jovem inofensiva, uma mulher boboca ou um objeto sexual. Alguém que gosta de mulher não a limita a esses papéis”. (Rose de Gregório em Sois Belle et tais to, Delphine Seyrig, 1981).
    Maria Schneider reafirma a fala de Gregório, trazendo a ideia de que os temas dos filmes são para homens.
    Felizmente existe um momento positivo no documentário, onde a própria Schneider comenta que adoraria trabalhar em filmes como Céline et Julie vont en bateau (Jacques Rivette, 1974).
    Seyrig propositalmente documenta Juliet Berto, uma das atrizes de Celine et Julie vont en bateau.
    Existe ali, um momento de alívio da tensão negativa que as outras atrizes relataram sobre seus papéis. Berto comenta sobre o processo de conduzir as ações, performar de forma livre e poder agir sem tanta rigidez do diretor, a atriz se demonstra realizada com seu trabalho no filme citado, porém ela afirma que foi o único filme em que sentiu a abertura de criar essa certa autoria na atuação.
    Ainda me apropriando da ideia de que os homens não gostariam das mulheres, temos o relato de Telias Salvi, atriz já de meia idade que afirma da seguinte forma sua percepção da indústria: “Afinal, o cinema não passa de uma grande fantasia masculina. Faz sentido que eles continuem. Da mesma forma que uma mulher de 50, 60 anos não tem lugar na fantasia deles, então ela é eliminada. É feito por homens para os homens. Ou seja, esqueça…”
    Sobre este ponto traçado por Salvi, percebemos que até hoje a indústria nega diversificar papéis de mulheres mais velhas; quando existe essa possibilidade, quase sempre a vemos em posições como dona de casa, viúva, etc. Entretanto, quando pensamos na meia idade masculina, temos diversos exemplos de homens que são considerados galãs.
    Por fim, trago o relato de Jane Fonda e todo o processo estético que a atriz teve que se submeter para ser aceita como estrela, porém, existiu uma resistência da atriz para os procedimentos estéticos de mudanças corporais. Infelizmente sabemos que diversas outras atrizes, por receio de não conseguirem chegar ao stardom se submeteram a tais procedimentos cirúrgicos.
    Trago a proposta desta apresentação, com o intuito de discutir os diversos modus operandis que as atrizes documentadas passaram, afim de dar luz ao que temos hoje como uma revolução de atrizes que se negam a esse modelo, onde finalmente temos mulheres que atuam de forma autônoma e autoral.

Bibliografia

    ALMEIDA, Catarina. Atuação feminina, sexismo e racismo: de Hollywood ao Cinema Novo. Rio de Janeiro, Niterói. UFF – PPGCine. 2020.
    DESPENTES, Virginie. Teoria King Kong. São Paulo: n-1 edições, 2016.
    GUIMARÃES, Pedro. O ator como forma fílmica: metodologia dos estudos atorais. Revista Aniki, vol.6, 2019.
    HASKELL, Molly. Films for Women. London: BFI. 1989, p.131.
    KAPLAN, Ann. A mulher e o cinema: os dois lados da câmera. Rio de Janeiro: Artemídia; Rocco, 1995.
    MORIN, Edgar. As estrelas: mito e sedução no cinema. José Olympio, 1989.
    MULVEY, Laura. Visual Pleasure and Narrative Cinema. Original Published – Screen, v.16, n.3, p. 6-27, Autumn, 1975.
    NAREMORE, James. Acting in the Cinema. Univercity of California Press, 1988.
    PERKINS, Tessa. The Politics of ‘Jane Fonda’. In: Stardom. Routledge, 2003. p. 258-271.
    SOUSA, BRANDÃO in HOLANDA, Karla; TEDESCO, Marina Cavalcanti (orgs).
    Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro. Campinas, SP: Papirus, 2017.