Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Rodrigo Cazes Costa (UFF)

Minicurrículo

    Doutor em Letras-Estudos de Literatura pela PUC-RIO. Professor Adjunto do curso de Produção Cultural da UFF em Rio das Ostras. Fez estágio pós-doutoral no PPGCine da UFF, sob a supervisão da professora Mariana Baltar, pesquisando os gêneros cinematográficos no cinema de Juliana Rojas e Marco Dutra. Coordenador do cineclube Cinema Brasileiro de Gênero na UFF. Pesquisa a utilização das convenções genéricas no cinema brasileiro contemporâneo.

Ficha do Trabalho

Título

    CINEMA DE HORROR BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO: PERSPECTIVAS E FRONTEIRAS

Resumo

    Esta comunicação examina filmes de horror do cinema brasileiro contemporâneo, por meio da teoria de ALTMAN (1999). São estudados filmes mais associados a uma ideia de cinema autoral que de cinema de gênero: O animal cordial; As boas maneiras; Clube dos canibais; M-8, quando a morte socorre a vida. Nesse conjunto de filmes há uma nítida intenção em tecer comentários acerca de questões estruturantes da sociedade brasileira, assim como em superar a dicotomia entre cinema autoral e de gênero.

Resumo expandido

    Esta comunicação tem por objetivo investigar, por meio da teoria dos gêneros cinematográficos de ALTMAN (1999), filmes de horror (CARROLL,1999) do cinema brasileiro contemporâneo (penso aqui numa utilização de contemporâneo que aponta para filmes feitos no Brasil a partir dos anos 2000, quando a retomada do cinema brasileiro já havia se estabelecido) e a forma como eles se relacionam com as convenções desse gênero. O ponto de partida é a concepção de PRIMATI (2019) dos filmes de horror e dos filmes de horror brasileiros contemporâneos em dois grupos: o primeiro com filmes muito fiéis às convenções do gênero e seus subgêneros. Esses filmes procuram seguir à risca as convenções genéricas, mirando um circuito de recepção voltado a consumir apenas o filme de horror cuja narrativa não se afaste das convenções genéricas; o segundo, composto por filmes de horror de cunho mais autoral, menos presos às convenções genéricas, feitos por diretores não identificados somente com o gênero horror e seus subgêneros e pensados, enquanto produtos culturais, para circular em um circuito de recepção mais amplo do que aquele destinados somente aos filmes de horror e seus fãs. Esta comunicação examina alguns filmes desse segundo grupo O animal cordial (Gabriela Amaral Almeida, 2017); As boas maneiras (Juliana Rojas e Marco Dutra, 2018); Clube dos canibais (Guto parente,2018); M-8, quando a morte socorre a vida (Jefferson De, 2019). Nesse conjunto de filmes, produzidos nos últimos anos, e que poderia ser ampliado para outros títulos, há uma nítida intenção em, por meio da utilização de algumas das convenções do gênero horror, tecer comentários acerca de questões estruturantes da sociedade brasileira.
    A conexão entre o cinema de horror produzido num contexto social e suas questões que não é nova. A esse respeito COLEMAM (2019) e WOOD (2002) em relação ao cinema de horror produzido nos Estados Unidos. No cinema brasileiro a produção de filmes de horror sempre foi residual e identificada a um cinema popular, de baixa qualidade artística. A velha divisão qualitativa entre cinema industrial, ligado às convenções do gênero e cinema de autor. Aos filmes e cineastas autorais caberia o papel de um cinema “sério”, dedicado a interpretar o Brasil. É uma novidade, portanto, no panorama da historiografia do cinema brasileiro, haver um conjunto de filmes de horror que propõe uma abordagem crítica de questões sociais do Brasil de uma maneira bastante direta e circule por um circuito de exibição destinado ao cinema de autor/arte, sendo, como produtos culturais, filmes de arte. O Festival de Tiradentes, maior reduto da produção autoral do novíssimo cinema brasileiro, exibiu alguns filmes de horror em sua última edição, mostrando como a divisão entre cinema de gênero/industrial e cinema de autor/arte está cada vez mais borrada.
    A comunicação pretende a partir do exame desse conjunto de filmes, investigar, conforme a metodologia de ALTMAN (1999), como esses filmes se conformam, em relação ao gênero horror, em termos de: fórmula que precede e orienta a produção dos filmes; estrutura narrativa dos filmes; marca dos filmes, que é utilizada pelos distribuidores e exibidores para a venda dos filmes e a recepção dos filmes por parte de público, crítica e academia. As hipóteses a serem testadas são: que esses filmes se apropriam, em maior ou menor grau, de elementos do gênero horror a fim de construir narrativas que buscam, de forma intencional, discutir questões da sociedade brasileira, assumindo um papel que, no Brasil, era destinado, historicamente, aos filmes autorais, sem marcas genéricas claras; que essa produção reflete um modo de pensar a historiografia do cinema brasileiro e mundial por parte dos diretores desses filmes, que não estão mais interessados em divisões e hierarquias entre cinema de autor e cinema de gênero; que talvez seja mais produtivo refletir sobre esse conjunto de filmes enquanto um ciclo de filmes que enquanto um novo gênero de filmes de horror.

Bibliografia

    ALTMAN, Rick. Film/Genre. Londres: BFI, 1999.
    BERNARDET, Jean-Claude; VOGNER dos REIS, Francis. O autor no cinema: a política dos autores: França, Brasil, anos 1950 e 1960. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018.
    CÁNEPA, Laura. Medo de quê? Uma história do horror nos filmes brasileiros. 2008. 498 f. Tese. (Doutorado em Multimeios)-Unicamp, Campinas, 2008.
    CARROLL, Noel. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Campinas: Papirus, 1999.
    COLEMAN, Robin R. Means. Horror noire: a representação negra no cinema de terror. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2019.
    PRIMATI, Carlos. A beleza do cinema de horror brasileiro é não se preocupar em imitar. Entrevista concedida a Oscar Nestarez in: Revista Galileu:https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2019/10/beleza-do-cinema-de-horror-brasileiro-e-nao-se-preocupar-em-imitar.html, visualizado em 21/04/2021.
    WOOD,Robin.The American Nightmare.Horror in the 70s.in: JANCOVICH, Mark. (org.)Horror,the film reader. Londres: Routledge,2002.