Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Lucas Procopio de Oliveira Tolotti (USP/ESPM)

Minicurrículo

    Doutorando em Estética e História da Arte pelo Programa Interunidades em Estética e História da Arte da Universidade de São Paulo (PGEHA/USP). Mestre em Estética e História da Arte pelo mesmo programa. Bacharel em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Professor do curso de Cinema e Audiovisual – ESPM. Professor Substituto dos cursos de Artes Visuais e Design – UNESP/FAAC. Pesquisador do Centro Mario Schenberg de Documentação da Pesquisa em Artes.

Ficha do Trabalho

Título

    A gravidade e a graça: a produção cinematográfica de Chris Kraus

Resumo

    Chris Kraus, escritora e crítica de arte estadunidense, atinge reconhecimento com o livro “I Love Dick” (1997). Porém, antes da literatura, Kraus escreveu, dirigiu e produziu uma série de filmes experimentais, culminando no longa “Gravity and Grace” (1996). Diante do fracasso de suas produções, resolve abandonar o cinema. Esta comunicação pretende recuperar sua produção cinematográfica, principalmente seu último filme, situando-o como peça emblemática na carreira literária e crítica de Kraus.

Resumo expandido

    Chris Kraus é reconhecida pelo seu trabalho como escritora e crítica de arte, principalmente por sua obra “I Love Dick” (1997). Parte de seus livros explora a dinâmica do desejo, o fracasso e o não-pertencimento, na fronteira entre ficção e realidade, como é o caso, além do supracitado, de “Aliens & Anorexia” (2000) e “Torpor” (2006). O primeiro nos mostra Chris tentando encontrar interessados na distribuição de seu longa-metragem “Gravity and Grace” (1996). De fato, Kraus realizou um filme com este nome, antes de abandonar a carreira de diretora que tentou construir por uma década.

    Entre as décadas de 1980 e 1990, Kraus escreveu, dirigiu e produziu filmes experimentais. Enquanto jovem, sai de Wellington, Nova Zelândia, para onde seus pais emigraram, e retorna a Nova York com a ambição de se tornar atriz. Porém, após um conselho de sua professora de atuação, decide partir para a direção. Inspirada em “Wavelength” (1967), de Michael Snow, traz para suas produções uma paisagem audiovisual que coloca em diálogo a linguagem acadêmica e a experiência pessoal, a memória e a literatura. Dessa maneira, “In Order to Pass” (1982) bebe das fontes experimentais de Maya Deren e das composições de Nan Goldin, ao trazer um conjunto de pessoas vagando e dialogando em um ambiente doméstico. Palavras e frases em um letreiro digital verde são inseridas na montagem, provocando uma ruptura com ares de Godard. Outra realização emblemática de Kraus é “Foolproof Illusion” (1986). A primeira parte nos mostra uma meditação sobre o trabalho de Antonin Artaud, trazendo, dentre outras cenas, o poeta David Rattray lendo suas próprias traduções do escritor francês. Em certo momento, Chris Kraus, trajando lingerie e uma peruca loira, começa a construir, na neve, uma espécie de escultura disforme, contando uma história sobre sadomasoquismo, violência e prisão. A filmografia de Kraus se estende com a parceria realizada junto de Sylvère Lotringer, professor da Columbia University, crítico, teórico e editor da Semiotext(e), editora responsável pela divulgação de textos de filósofos pós-estruturalistas nos Estados Unidos. “How to Shoot a Crime” (1987), co-dirigido por Lotringer, traz cenas de crimes junto a entrevistas sobre sexo e dominação (KRAUS, 2002).

    Lidando com o fracasso de público e crítica, Kraus resolve abandonar o cinema após o lançamento de seu último (e único) longa-metragem, “Gravity and Grace” (1996). Inspirando-se nas obras da filósofa francesa Simone Weil (o filme compartilha o título com uma coletânea de ensaios de Weil), Kraus nos apresenta uma realidade de utopias e fanatismos no final do século XX. Gravity e Grace são amigas que moram em Wellington, na Nova Zelândia e conhecem Ceal, uma dona de casa participante de uma espécie de seita que prevê, em um momento próximo, o fim do mundo. Após o arrebatamento frustrado, no qual nunca havia acreditado de fato, Gravity decide se mudar para Nova York e tentar a carreira de artista. Kraus encontra um espelho tanto para suas experiências quanto para as de Weil. Tons autobiográficos tingem a realidade nova-iorquina de Gravity, saída de Wellington; percurso também realizado por Chris.

    Weil escreve sobre o vazio, a gravidade e o corpo, em um sistema de pesos e contrapesos: “A criação é composta do movimento descendente da gravidade, o movimento ascendente da graça e o movimento descendente do segundo grau da graça (WEIL, 2002, p. 4). Estes movimentos são evidenciados nas personagens de Kraus em suas incertezas e descaminhos. Uma reflexão sobre o estado do mundo no final da década de 1990, a obtusidade do mercado de arte e o fim das narrativas tradicionais, “Gravity and Grace” se mostra relevante neste processo de recuperação da carreira cinematográfica de Kraus. Esta comunicação, além de promover um diálogo entre os escritos de Weil e o filme “Gravity and Grace”, pretende indicar como essa produção experimental foi um marco importante na trajetória literária e crítica de sua realizadora.

Bibliografia

    DELEUZE, Gilles. Cinema 1 – a imagem-movimento. São Paulo: Editora 34, 2018.

    DELEUZE, Gilles. Cinema 2 – a imagem-movimento. São Paulo: Editora 34, 2018.

    KRAUS, Chris. Aliens & Anorexia. Nova York: Semiotext(e), 2013

    KRAUS, Chris. Eu amo Dick. São Paulo: Todavia, 2019

    MATTAR, Mira (Org.). You must make your death public: a collection of texts and media on the work of Chris Kraus. Londres: Mute Books, 2015

    MILES, Siân (Org.). Simone Weil: an anthology. Nova York: Grove Press, 1986

    WEIL, Simone. Gravity and grace. Londres: Routledge Classics, 2002

    WEIL, Simone. Waiting for God. Nova York: Harper Perennial, 2009