Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Guilherme Fumeo Almeida (UFRGS)

Minicurrículo

    Doutorando em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), orientado pela Professora Doutora Miriam de Souza Rossini. Bacharel em Jornalismo e Mestre em Comunicação e Informação pela mesma universidade. Participa do grupo de pesquisa Processos Audiovisuais (PROAv-UFRGS). Bolsista CAPES. Trabalho realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

Ficha do Trabalho

Título

    Do Sistema ao Mecanismo: a política segundo Padilha em dois tempos

Seminário

    Teoria de Cineastas

Resumo

    O trabalho objetiva problematizar o conceito de política desenvolvido por José Padilha em Tropa de Elite 2 e O Mecanismo, a partir do diálogo entre a análise destas produções audiovisuais e de entrevistas concedidas pelo diretor e um marco teórico estruturado em dois pontos. O marco teórico parte da Teoria de Cineastas, especialmente com base em Baggio, Graça e Penafria (2015), e das reflexões de Holanda (1995) e Schwarcz (2019) sobre a construção sociopolítica brasileira.

Resumo expandido

    José Padilha costuma se manifestar publicamente sobre a repercussão do lançamento dos filmes e séries que dirige, sugerindo um diálogo intencional entre as questões políticas presentes nestas produções com as do Brasil contemporâneo. Em 5 de outubro de 2010, três dias antes do início da exibição de Tropa de Elite 2 nos cinemas, Padilha afirmou, em entrevista a jornalistas após a pré-estreia do filme em Paulínia (SP), conforme registrou Oliveira (2010), que se no primeiro filme da sequência, que materializou muitos anseios da sociedade, “Nascimento era uma peça do tabuleiro […] no segundo, ele vê quem está manipulando esse tabuleiro”.

    Já em 2018, a série O Mecanismo, exibida pela Netflix em duas temporadas (lançadas em 2018 e 2019) e da qual Padilha foi um dos diretores, suscitou diversas críticas, especialmente de figuras políticas. Em entrevista publicada pelo Observatório do Cinema, respondendo à ex-presidenta Dilma Rousseff, que definiu a série como mentirosa e dissimulada dois dias após o seu lançamento, Padilha chamou de boboca o debate entre ficção e verdade. Perguntado sobre o uso descontextualizado da frase dita pelo senador Romero Jucá, referido por Dilma em sua crítica, Padilha (2018) afirmou que essa “turma não entendeu que a série é uma crítica ao sistema como um todo e não a esse ou àquele político ou a qualquer grupo partidário. Por isso se chama “O Mecanismo””.

    Considerando tanto as entrevistas do cineasta sobre Tropa de Elite 2 e O Mecanismo quanto a análise do filme e da minissérie, este trabalho tem por objetivo realizar um diálogo entre o estudo das entrevistas e destas produções audiovisuais e um marco teórico estruturado em dois eixos a fim de problematizar o conceito de política construído por Padilha em Tropa de Elite 2 e O Mecanismo. O marco teórico parte da Teoria de Cineastas, especialmente com base em Baggio, Graça e Penafria (2015), e das reflexões de Holanda (1995) e Schwarcz (2019) sobre a construção sociopolítica brasileira. Inicialmente, é possível destacar que este conceito se relaciona diretamente a um fortalecimento da ideia de esvaziamento e desqualificação da política enquanto atividade institucional.

    Tropa de Elite 2: o inimigo agora é outro, dá um salto temporal de 15 anos em relação ao filme anterior da sequência, acompanhando a saída de Nascimento (Wagner Moura) do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) para se tornar subsecretário estadual de segurança pública do Rio de Janeiro. Em sua incursão à esfera institucional da política, Nascimento se depara com as instâncias mais podres e poderosas da máquina governamental, definida enquanto o sistema, que descobre ser seu verdadeiro inimigo e que enxerga como o grande responsável por todo o mal. Disposto a denunciar e lutar contra esta máquina onipotente, Nascimento deixa de ser o policial que mata em nome de uma guerra para se tornar um herói antissistema.

    Esta construção personalista caminha em direção a uma desqualificação da política na qual a noção de sistema guarda semelhanças com a ideia de mecanismo, desenvolvida por Padilha e outros três diretores (Felipe Prado, Marcos Prado e Daniel Rezende) no seriado de mesmo nome, utilizada para referir-se a um sistema político irremediavelmente podre e corruptor. Em ano de eleição presidencial, O Mecanismo compôs uma história ficcional, centrada especialmente nos policiais federais envolvidos nas investigações relacionadas à Operação Lava-Jato, com ares de paródia, através de personagens claramente inspiradas, tanto nos nomes quanto na aparência, em pessoas reais ligadas à Operação. Exemplos desta inspiração são as personagens Paulo Rigo (Otto Jr.), associado ao juiz e ex-ministro Sérgio Moro, e Janet Ruscov (Sura Berditchevsky), baseada na ex-presidenta Dilma Rousseff.

Bibliografia

    GRAÇA, André Rui; BAGGIO, Eduardo Tulio; PENAFRIA, Manuela. Teoria dos cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. Revista Científica/FAP – v.12, jan./jun. 2015.

    HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

    REDAÇÃO. Exclusivo: José Padilha diz que discussão de fala de Jucá na boca de Lula é “boboca”. Observatório do Cinema, 25 mar. 2018. Disponível em: . Acesso em: 20 abr. 2021.

    OLIVEIRA, Alysson. “Fiz o filme que queria fazer”, diz José Padilha, sobre “Tropa de Elite 2”. UOL, 10 out. 2010. Disponível em: . Acesso em: 22 abr. 2021.

    SCWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.