Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Morgana Gama de Lima (UFBA)

Minicurrículo

    Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia (Póscom/UFBA), com período de doutorado-sanduíche na Universidade da Beira Interior (UBI). Pesquisadora associada ao Laboratório de Análise Fílmica (LAF/UFBA).

Ficha do Trabalho

Título

    La grammaire de la grandmère: oralidade como poética cinematográfica

Seminário

    Teoria de Cineastas

Resumo

    No contexto dos cinemas africanos, a tradição oral é apresentada como influência relevante na construção da narrativa fílmica. A começar por Ousmane Sembène, que identificava a si mesmo como griot, outros cineastas africanos fizeram e fazem referência à tradição oral como uma importante fonte de inspiração para pensar a “gramática” ou a poética de seus filmes, um deles é Djibril Diop Mambéty. É com base nos depoimentos desse cineasta que propomos uma reflexão sobre cinema e oralidade.

Resumo expandido

    No contexto dos cinemas africanos, a tradição oral é apresentada como influência relevante na construção da narrativa fílmica. A começar pelo cineasta senegalês Ousmane Sembène que identificava a si mesmo como griot, outros cineastas depois dele fizeram e fazem referência à tradição oral como uma importante fonte de inspiração para pensar a “gramática” ou a poética narrativa de seus filmes, um deles é Djibril Diop Mambéty. Mesmo com a existência de diferentes escritos sobre o assunto, pretendemos com base na perspectiva metodológica lançada pelas “Teorias dos Cineastas” (AUMONT, 2002; PENAFRIA et al. 2016), refletir sobre a relação entre oralidade e cinema, primeiramente usando como fonte a própria oralidade – os depoimentos e entrevistas concedidas pelo cineasta – seguida de uma breve análise sobre o último longa-metragem realizado por ele, o filme Hyènes (1992). Por fim, através desse percurso busca-se contribuir para o aprofundamento e compreensão das narrativas presentes em filmes realizados por cineastas africanos, mas sobretudo para a incorporação do legado das tradições orais nos estudos teóricos em cinema. A relação entre oralidade e cinema é mais antiga do que se pode imaginar. Mesmo antes do cinema sonoro, período em que a narração e a voz dos próprios atores se tornaram elementos agregadores à produção de sentido da narrativa fílmica, a oralidade acompanhou o cinema durante muitos anos nas chamadas projeções comentadas (Lacasse 2011). Posteriormente, em meados dos anos 1960, quando surgiram os primeiros cineastas africanos, a influência do griot, como um agente transmissor das histórias e memórias de um povo, permaneceu, ora aparecendo na diegese fílmica como um personagem estratégico na condução da narrativa, ora através da narração que associada a instrumentos musicais específicos, encenava na narrativa elementos próprios da performance do griot. Embora o recurso ao comentário e à narração (em voz-over ou voz off), tenham se tornado as formas mais convencionais de discutir a influência da oralidade como parte integrante da narrativa fílmica, buscamos pensar a prática da oralidade, para além do verbo, mas pelo seu potencial de acionar imagens no imaginário e produzir memórias em um processo simultâneo à contação da própria história, neste caso, o desenvolvimento da narrativa fílmica. Essa reflexão tem como fonte o cineasta Djibril Diop Mambéty que em diversas entrevistas ao falar sobre sua própria concepção de cinema, apontava para o imaginário como um aspecto precedente da narrativa. Como se as imagens, antes mesmo de serem organizadas sob a forma de linguagem cinematográfica (narrativa) fossem construídas no imaginário. Uma dessas entrevistas está registrada no curta La grammaire de Grand-mère (1996), dirigido pelo cineasta camaronês Jean-Pierre Bekolo, em que através de um trocadilho entre duas palavras homófonas em francês (grammaire, gramática; grand-mère, avó), Mambéty apresenta sua própria concepção de linguagem cinematográfica e como é possível pensar a poética do cinema sob o viés da oralidade. Anos mais tarde, em outra entrevista cedida a Frank Ukadike (2002), o cineasta chega a afirmar que o cinema teria nascido na África, porque embora os instrumentos sejam europeus, a tradição oral é uma tradição das imagens, porque a palavra dita se encaminha para a imaginação e não apenas para os ouvidos. É com base em tais reflexões que nossa comunicação pretende pensar a própria trajetória do cineasta e suas contribuições teóricas para a poética cinematográfica sob o viés da oralidade.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP: Papirus, 2002.
    BÂ, Amadou Hampatê. A tradição viva. In. KI-ZERBO, Joseph (ed.). Metodologia e pré-história da África, História geral da África. Brasília: Unesco, 2010.
    PENAFRIA, Manuela. et al. (eds.). Ver, ouvir e ler os cineastas – Teoria dos cineastas – Vol.1. Covilhã, Portugal: Labcom.IFP, 2016.
    DIAWARA, Manthia. A iconografia do cinema da África Ocidental. In. Cinema no mundo – África editado por Alessandra Meleiro, 64-73. São Paulo: Escrituras, 2007.
    LACASSE, Germain; BOUCHARD, Vincent e SCHEPPLER, Gwenn (eds.). Pratiques orales du cinéma (Textes Choisis). Paris: Editions L’Harmattan, 2011.
    NAGIB, Lúcia. Oralidade e cinema na África: Yaaba, um caso exemplar, Novos Estudos CEBRAP (46), 1996. (p. 113-120).
    UKADIKE, Nwachukwu Frank. Djibril Diop Mambéty. In. Questioning African Cinema: conversations with filmmakers. EUA: University of Minnesota Press, 2002.