Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Vitor Oliveira Côrtes (UFF)

Minicurrículo

    Graduação em Cinema em Audiovisual, Universidade Federal do Ceará (2012 – 2016). Mestre em Cinema e Audiovisual, Universidade Federal Fluminense (2017 – 2020). Vídeo-instalação sobre arquitetura do passado, no Centro Cultural Banco do Nordeste (2014). Voluntário do Museu da Imagem e do Som/CE em (2015 e 2019) e na Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2018).

Ficha do Trabalho

Título

    O COSMOPOLITA NACIONAL: OS CINEMAS DE ARTE E O FILME BRASILEIRO

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    O objetivo é fazer uma pequena historia dos cinemas de arte a partir dos textos de Ely Azeredo e, em menor escala, Alberto Shatovsky, tendo em vista a presença do filme brasileiro nesse tipo de espaço. Procurar-se-á dar maior ênfase ao período em que essa colocação – ao menos, como justificativa – fez-se mais atuante a partir dos anos 1970, com o Estatuto dos Cinemas de Arte – e explicar, sobretudo, a queda desse projeto com base nas noções postuladas por Ortiz Ramos ao setor cinematográfico.

Resumo expandido

    Em sua origem, a ideia de se manter, no Brasil, um “cinema de arte” veio atrelada a um tipo de consumo multicultural, ou cosmopolita. Isto é, todo o filme poderia ser exibido nesse tipo de espaço, à medida que possuísse uma, ou série de qualidades, que o distinguissem frente à média das produções que chegassem ao mercado exibidor. Do período 1950-60, essa visão cosmopolita é a que parece se destacar nos textos de Ely Azeredo – que, em companhia de Alberto Shatovsky, parece ter sido dos críticos e jornalistas cariocas que mais incentivou o desenvolvimento e formação desse tipo de sala. Tendo em vista que a procedência dos filmes não adquiriu qualquer critério especial aos cinemas de arte, a inserção do produto brasileiro nesse espaço não deixava de ser fato impossível, mas sujeito a inflexões da mentalidade crítica em voga – que, a bem saber, apresentava matizes diferentes sobre o cinema nacional. Quanto a isso, basta mencionar que o primeiro Conselho Consultivo, formado sob inspiração do que teria sido o pioneiro cinema de arte do país – o Cine Mesbla, na cidade do Rio de Janeiro – reunia desde os mais severos intérpretes do filme brasileiro – a nível de um Moniz Vianna e Décio Vieira Ottoni – como também seus analistas mais contemporizadores – a exemplo de Pedro Lima e Alex Viany. Apesar disso, essa suposta vertente multicultural, ou cosmopolita, teve um maior aprofundamento sobre o cinema nacional a partir dos anos 1970, quando as propostas voltadas à criação do Estatuto dos Cinemas de Arte passaram a incluir o desenvolvimento do filme brasileiro – ou melhor, de determinado “tipo” de filme brasileiro – como estímulo para se consolidar a formação de um circuito voltado a salas de arte. Ou seja, propunha-se que o estímulo às salas em foco também produzisse, no Brasil, estímulo à produção de filmes “médios” e “menores”, nas palavras de Alberto Shatovsky. Filmes que, em tese, apresentariam dificuldades – quando mesmo, total impossibilidade – de serem exibidos, caso sua apresentação ficasse limitada ao que seria o mercado exibidor tradicional.

    Fruto, talvez, do aumento sobre a produção cinematográfica ao final dos anos 1960, a partir da década seguinte, portanto, o cinema nacional agora passava a ser inserido como uma das justificativas principais a fim de que se incentivasse a criação das salas de arte – e para isto, defendendo-se também a criação do Estatuto dos Cinemas de Arte, fator indispensável, diga-se, para o fortalecimento de uma cadeia de salas desse tipo. Porém, o Estatuto em questão jamais chegou a ser aprovado, tendo como um de seus opositores Roberto Farias – último presidente do Instituto Nacional de Cinema e, logo depois, da Embrafilme. Nessa disputa, é possível notar reflexos do conflito existente no setor cinematográfico nacional que, no período 1950-60, Ortiz Ramos classificou entre o grupo “nacionalista” e o “industrialista-universalista”. Talvez devido à posição de liderança na política cinematográfica nacional, Farias se utiliza de discurso que abrange os dois polos. Num lado, colocando-se avesso a tentativas de coibir a livre iniciativa – no sentido de não proibir a vinda do filme estrangeiro sobre o país. Noutro lado, porém, antagonizando-se a uma mentalidade de espetáculo que procederia a uma distinção do público – segundo Farias, uma distinção produto dos cinemas de arte, levando com que se formassem supostos “guetos culturais” – como também pontifica que seu interesse maior é pelo desenvolvimento do “filme de arte brasileiro”.

    Este trabalho busca, portanto, traçar a inserção do filme brasileiro nos cinemas de arte, discutindo brevemente a fase de 1950-60, e alongando-se no papel de destaque que o cinema nacional acabou por ganhar nos anos 1970, tendo em vista o projeto do Estatuto dos Cinemas de Arte. Chegando-se, por fim, a uma discussão sobre o embate que levou à derrocada do projeto, tendo os conceitos de Ortiz Ramos como referenciais explicativos.

Bibliografia

    AZEREDO, Ely. Operação Exorcismo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 16 de jun. de 1958. Suplemento Dominical. Cinema, p. 6.

    ______. Situação dos Cinemas de Arte. Filme Cultura: Instituto Nacional do Cinema, n. 3, p. 51, jan./fev. 1966.

    ______. Movimento Nacional pelo Cinema de Arte. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 08 de set. de 1966. Caderno B, p. 8.

    ______. Encontro Nacional dos Cinemas de Arte. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 29 de nov. de 1966. Caderno B, p. 2.

    ______. Estatuto do Cinema de Arte: O Projeto da “Abertura” para os Filmes. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 31 mar. de 1979. Caderno B, p. 2.

    RAMOS, José Mário Ortiz. Cinema, Estado e Lutas Culturais: Anos 50, 60, 70. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. 175 p.

    SHATOVSKY, Alberto; PEREIRA, José Haroldo. O Problema da Exibição. Filme Cultura, Rio de Janeiro: Embrafilme, n. 31, p. 4-14, nov. 1978.

    VARTUCK, Pola. Farias contra Privilégio à Fita de Arte. O Estado de São Paulo, São Paulo, 1 de fev. de 1976. p. 14.