Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Fábio Sadao Nakagawa (UFBA)

Minicurrículo

    Graduado em Comunicação Social com habilitação em rádio e televisão pela UNESP- Bauru/SP (1995), mestre (2002) e doutor (2008) em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Desde 2011, atua como Professor Associado do Departamento de Comunicação da Faculdade de Comunicação da UFBA. Realizou seu estágio de pós-doutorado na Facultad de Ciencias de la Información da Universidad Complutense de Madrid, no período de 2018 à 2019. É membro do Grupo de Pesquisa ESPACC da PUC/SP e, também, do Grupo GPESC| BA.

Ficha do Trabalho

Título

    Lotman e a articulação das narrativas fílmicas

Seminário

    Teoria de Cineastas

Resumo

    Com base nas ideias propostas por Lotman em seu livro Estética e semiótica do cinema, esta comunicação visa compreender como se articulam as narrativas fílmica pelo poliglotismo cultural. Nos processos de modelização gerados pela Semiosfera das narrativas por imagens, as narrativas fílmicas configuram-se pela dominância temporal ou espacial, em decorrência, principalmente, das interfaces entre a linguagem cinematográfica, os códigos verbal e visual, e as artes verbais e figurativas.

Resumo expandido

    Em seu livro Estética e semiótica do cinema de 1973, Iuri Lotman observou as relações sistêmicas entre a língua, a linguagem visual, as artes verbais e figurativas para compreender os processos de modelização que atuam na formação do cinema como uma linguagem. Com isso, ele buscou entender os processos de autorregulação da linguagem cinematográfica em concomitância com o agenciamento das suas relações com outras esferas culturais. Dentre os resultados gerados por esses processos, o teórico russo evidenciou a produção das narrativas fílmicas, que nos parece ser estruturada pelas dominâncias das lógicas temporal ou espacial. Por isso esta comunicação visa responder, com base no pensamento de Lotman, como se articulam essas narrativas fílmicas. De acordo com o semioticista da cultura, na modelização da Semiosfera das narrativas por imagens, estrutura-se um tipo de narrativa pela “reunião de uma microcadeia de planos diferentes numa sequência com sentido” (LOTMAN, 1978, p. 112). Nela, a lógica que persiste é a da contiguidade, que se constitui pela dinâmica da sucessão de ação em ação, ou seja, pela narratividade temporal das ações. Em diálogo com a lógica de funcionamento do código verbal, a linguagem cinematográfica autorregula-se não pelas regras e normas da língua, mas pela modelização de suas formas de estruturação. No entanto, no que se refere à articulação sintagmática das unidades discretas pelo código verbal, coube ao teórico genebrino Saussure (1969, p. 84) explicitá-la pelo segundo princípio que rege o signo linguístico, denominado como o caráter linear do significante. Distinta da narratividade orientada pela dominância da sucessão das ações, há outra que Lotman identifica como “narratividade do tipo propriamente figurativo” (1978, p. 114), na qual as imagens não adquirem a dimensão da palavra, mas atuam por meio da sua natureza espacial, que possibilita a coexistência de seus elementos formativos. Com isso, abre-se espaço para que, na contiguidade, haja outros tipos de relação além das derivadas pelo tempo. De certo aspecto, o mecanismo de funcionamento da narratividade icônica aproxima-se da articulação da função poética, concebida pelo linguista Roman Jakobson em seu artigo de 1960, intitulado Linguística e poética. Tal função “projeta o princípio de equivalência do eixo da seleção sobre o eixo da combinação” (JAKOBSON, 1979, p.130), que faz com que surjam configurações espaciais na linearidade do tempo. No caso do cinema, a narrativa figurativa tem como aliada a montagem, cujo modo de construção deriva da relação de modelização do cinema pela esfera das artes. Por isso, em diálogo com B. Eichenbaum e Iuri Tynianov, Lotman afirma que “a montagem é apenas o caso particular das leis mais gerais da formação das significações artísticas, ou seja, a justaposição (oposição e integração) de elementos heterogêneos” (LOTMAN, 1978, p. 87) ou de “unidades provenientes de sistemas diferentes” (LOTMAN, 1978, p. 90). O pôr-se junto em contiguidade na montagem fílmica que se assemelha, como foi dito anteriormente, com a projeção do paradigma sobre o sintagma, permitiu que a linguagem cinematográfica construísse diferentes tipos de montagem levando em consideração tanto as várias relações possíveis entre seus elementos produzidas com base na justaposição, quanto a modelização desses mesmos elementos compositivos como signos discretos e/ou não discretos. Dentre as possíveis montagens, Lotman menciona a “montagem conflituosa” (LOTMAN, 1978, p. 78), que dialoga com a ideia de montagem intelectual (EISENSTEIN, 1990a) e montagem polifônica ou vertical (EISENSTEIN, 1990b), ambas propostas por Eisenstein. Em comum, todas elas são constituídas pela sincronicidade de traços, imagens, células ou faixas de montagem distintas, pelas quais suas diferenças se reúnem e se tensionam para sintetizar uma nova informação.

Bibliografia

    EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990a.
    EISENSTEIN, Sergei. O sentido do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990b.
    JAKOBSON, Roman. Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1979.
    LOTMAN, Yuri. Estética e semiótica do cinema. Lisboa: Editorial Estampa, 1978.
    SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1969.