Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Régis Orlando Rasia (SENAC-SP)

Minicurrículo

    Doutor e Mestre em Multimeios pela UNICAMP. Professor do Centro Universitário SENAC Santo Amaro – SP

Ficha do Trabalho

Título

    Questões estéticas sobre a modalidade da produção audiovisual.

Mesa

    A propósito de investigação sobre a produção pandêmica no audiovisual.

Resumo

    Esse estudo investiga as soluções criativas da cadeia produtiva do audiovisual na pandemia, que impactam na adequação do roteiro, na viabilidade da construção da mise-en-scène no set, somando com as escolhas estéticas da montagem. Partimos das questões lançadas pelos diversos protocolos, sobretudo no emprego da atividade produtiva/criativa do audiovisual, ancorados no inventário de obras nas múltiplas telas de exibição e nos festivais.

Resumo expandido

    Os anos de 2020 e 2021 impõem uma série de desafios determinantes para a continuidade da vida. Junto desta questão, a produção audiovisual segue enfrentando o impacto de uma nova realidade: seguir os protocolos de gravações para dar vazão criativa aos projetos vigentes ou represados. Ao mesmo tempo, o setor é tangenciado pelo desmoronamento das políticas públicas e a crise econômica em nosso país.
    Produzir em um contexto de risco pela infeção do vírus, não consiste em depender de verbas e de recursos financeiros, mas no encontro de janelas (ou fases) propícias de gravação, ambientes seguros para as equipes de produção e na manufatura ou adaptações de roteiros que viabilizam a mise-en-scène de uma trama.
    Partimos, então, da capacidade da criação e na adaptação inerente (e quase persistente) dos momentos de crises enfrentados no decorrer da história do audiovisual brasileiro. Vejamos o caso da teledramaturgia brasileira, que precisou encerrar as gravações por depender do ambiente dos estúdios. Amor de Mãe, por exemplo, para retomar as gravações da novela, dependeu da reelaboração do roteiro, mantendo a continuidade da trama e a emoção do storytelling.
    Em outras esferas do audiovisual, destaque ao episódio Gilda e Lúcia (2020), da série Amor e Sorte, de Jorge Furtado, pela ótica da relação entre mãe e filha. Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, para fazer frente a este projeto, gravaram com ajuda de seus familiares no ambiente da fazenda das atrizes. Destaque aos episódios da série Feito em Casa, do Netflix, abordando a contemplação da vida humana, com cenas montadas ao teor impressionista de Naomi Kawase. Ou o vislumbre da vida no isolamento no México, pelo olhar do diretor Johnny Ma, evidenciando o locus hereditário premeditado na cozinha, sob a repetição de uma receita para a mãe, que talvez não exista.
    O protocolo elaborado pela FORCINE Manual para filmagens e atividades práticas nas escolas de cinema e audiovisual do Brasil, se destaca (entre tantos outros protocolos criados por várias instituições), por sua elaboração realista e adaptada às circunstâncias acadêmicas do audiovisual. A entidade acerta em recomendar que o documento “não fique restrito aos professores da área de produção, mas que a leitura e entendimento deste manual seja de responsabilidade compartilhada entre todas as áreas e saberes envolvidos” (FORCINE, p.02).
    Dentro de nossas casas, dependemos cada vez mais de obras e narrativas audiovisuais para a continuidade do entretenimento e da vida cultural (MUNIZ, VIEIRA 2020). É assim que o festival de Berlim, por exemplo, inventaria suas obras com filmes feitos na pandemia. O Festival Sundance divulga sua programação com filmes produzidos durante a pandemia, com obras “sintomáticas” sobre a condição pandêmica. Nesta toada, a fruição dos filmes e os festivais se reinventaram, para além do streaming, com exibições em drive-ins e pequenos cinemas independentes, contando com toda a sua programação virtual.
    Pode-se dizer que a existência das obras audiovisuais se configuram na resistência da criação, evidenciando, cada vez mais, seus “modos mínimos de produção”. Não por acaso, o festival FOFI – Festival Online de Filmes de Inquietação – em sua quarta edição, tem disponibilizado debates e exibições de projetos, com filmes carregados de “inquietações formais em suas proposições”. Além das sessões competitivas, o festival promove debates acerca de uma produção audiovisual “paralela dos editais, de outros festivais e das tendências estéticas mais familiares”. Daí pensar o fato de que o “limite de seis pessoas na equipe tanto pode ser considerado um limite, quantitativo, como pode ser visto como uma potência de inventividade” (FOFI, 2020).
    Os protocolos de gravação podem até se apresentar como passageiros (e é o que se espera, neste momento), mas uma série de questões propostas ou impostas pela condição pandêmica, sobretudo às estratégias de criação adotadas nas gravações, parecem ter vindo para ficar.

Bibliografia

    BBC PRODUCTIONS GUIDANCE: COVID-19: BBC Productions Guidance. 1 ed. Londres, 2020. 23 p.
    FOFI: Festival Online de Filmes de Inquietação. Festival Online de Filmes de Inquietação. 2020. Disponível em: https://filmesdeinquietaca.wixsite.com/meusite. Acesso em: 21 mar. 2021.
    FORCINE. FÓRUM BRASILEIRO DE ENSINO DE CINEMA E AUDIOVISUAL. Manual para filmagens e atividades práticas nas escolas de cinema e audiovisual do Brasil. 1 ed. 2020. 25 p. Disponível em: http://www.forcine.org.br/site/.
    MUNIZ, Alexandre; VIEIRA, Luciana. Política audiovisual em tempos de COVID-19: arte e indústria em confinamento. 2020. ANESP. Disponível em: http://anesp.org.br/todas-as-noticias/2020/5/22/poltica-audiovisual-em-tempos-de-covid-19-arte-e-indstria-em-confinamento. Acesso em: 21 mar. 2021.
    SINDICINE [org]. Protocolo de segurança e saúde no trabalho do audiovisual. 1 ed. São Paulo: Sindcine, 2020. 42 p. Disponível em: http://www.sindcine.com.br/site/Downloads. Acesso em: 21 mar. 2021.