Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Márcio Rodrigo Ribeiro (ESPM)

Minicurrículo

    Doutor em Abordagens Teóricas, Históricas e Culturais da Arte pela UNESP. Jornalista e mestre pela mesma instituição. Crítico de cinema, docente dos cursos de Cinema & Audiovisual da ESPM e Publicidade & Propaganda e da Faculdade Cásper Líbero em São Paulo. Contato: marciorodri@gmail.com e Instagram: @marciorodrigo.

Ficha do Trabalho

Título

    Um “pé” quebrado e uma vitrine estilhaçada: a pandemia na exibição

Resumo

    A partir de dados de mercado da Agência Nacional de Cinema (Ancine), o presente trabalho pretende analisar os efeitos do fechamento do circuito exibidor no Brasil durante os 12 primeiros meses da pandemia de Covid-19 no País, entre março de 2020 e março de 2021. A análise também pretende estudar inicialmente as mudanças no hábito do público de frequentar salas de cinema devido à multiplicação de plataformas de streaming, a partir do conceito de habitus, elaborado por Pierre Bourdieu.

Resumo expandido

    A Covid-19 dividiu a História do mundo em antes e depois da pandemia. E o setor de exibição cinematográfica evidentemente não saiu ileso nesta nova realidade, fazendo, inclusive, que os dados de 2020 do setor não sirvam como referência para dimensionar com precisão o atual estado do mercado cinematográfico. Desde março de 2020, no Brasil, a realidade dos exibidores locais passou a se alternar entre salas fechadas devido às medidas de restrição de circulação da população ou salas com baixíssima ocupação quando abertas, devido ao medo dos frequentadores de se contaminarem com o novo vírus nos cinemas, mesmo com todos os protocolos de segurança adotados pelas salas de exibição.
    Neste novo cenário, números divulgados pela Ancine informam que a venda de bilhetes no circuito exibidor nos dois primeiros meses de 2021 sofreu uma queda de 92.71% se comparada ao mesmo período de 2020, quando o setor ainda não havia sido impactado pela pandemia. As salas fechadas no Brasil e no mundo romperam com o clássico “tripé” cinematográfico – composto por produção – distribuição e exibição -, conforme explicam autores como Edward Epstein, afetando toda a cadeia de consumo de longas-metragens ao redor do globo.
    No caso brasileiro, a pandemia chegou após um ano em que a venda de ingressos no Brasil superou os 176 milhões de bilhetes, movimentando um montante de mais de R$ 2,8 bilhões, conforme Anuário Estatístico da Ancine referente a 2019. Do mesmo modo, a pandemia intensificou um novo hábito por parte do público consumidor de audiovisual. Ao estimular que as pessoas ficassem em casa para deter a circulação do vírus devido ás medidas restritivas, o mercado brasileiro de exibição cinematográfica assistiu também a multiplicação o número de assinantes de plataformas de serviço de streaming audiovisual, o que levou, inclusive, à criação de novas plataformas deste segmento no País, como a À La Carte, do circuito Belas Artes, além do desembarque de grandes empreendimentos estrangeiros do setor como a Disney +. A Paramount + e a HBO Max que deve passar a operar no país em junho de 2021.
    Utilizando como método de pesquisa a análise bibliográfica e documental de dados recentes sobre o setor cinematográfico, divulgados pela Ancine, o presente trabalho tem por objetivo central analisar os efeitos do fechamento de salas de cinema no Brasil devido à pandemia de Covid-19 no período que vai de março de 2020 – quando ocorrem as primeiras interdições – a março de 2021, momento em que o circuito é paralisado novamente devido à segunda onda do vírus no País.
    Do mesmo modo, tendo como base teórica o pensamento de Pierre Bourdieu e seu conceito de habitus, referente ao consumo de bens simbólicos, este estudo também pretende investigar de maneira inicial os impactos que a multiplicação de plataformas de streaming por assinatura no Brasil pode ter em um contexto de pós-pandemia no hábito de ir ao cinema do público brasileiro.
    Vitrines privilegiadas na cadeia de monetização da produção fílmica ao redor do mundo para o lançamento de longas-metragens, as salas de cinema assistem paralisadas a consolidação de um novo tipo de público para os filmes. Um público que cada vez mais faz das múltiplas telas, como denominam Gilles Lipovetsky e Jean Serroy, a que têm acesso cotidianamente, as principais interfaces entre ele as produções cinematográficas.
    Tal fenômeno, além de reduzir a frequência dos espectadores ao circuito exibidor, obrigará os cinemas a se reinventarem, fazendo da sala escura, mais do que um local de encontro social para ver filmes, um ambiente que deverá oferecer experiências cada vez mais diferenciadas e sedutoras para estimular os espectadores a saírem de suas casas para assistirem ao lançamento de longas-metragens.

Bibliografia

    AUTRAN, A. O Pensamento Industrial Cinematográfico Brasileiro. São Paulo: Hucitec, 2013.
    BOURDIEU, P. A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2011.
    DIAS, A.; SOUZA, L. Film Business: o negócio do cinema. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
    EPSTEIN, E. O Grande Filme: dinheiro e poder em Hollywood. São Paulo: Summus, 2008.
    LIPOVETSKY, G.; SERROY, J. A Tela Global. Porto Alegre: Sulina, 2009.
    OBSERVATÓRIO Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA). Ancine. Disponível em: . Acesso em: 21 de abril de 2021.
    SCHROOT, M.; CAMPOS, N.; BAZZO, W. Uma Análise sobre a reabertura dos cinemas no Brasil. Comscore. Dez. 2020. Disponível em: . Acesso em: 21 de abril de 2021.
    SILVA, Hadija Chalupe. O Filme nas Telas: a distribuição do cinema nacional. São Paulo: Terceiro Nome, 2010.