Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Filipe Jhonata Schettini Azevedo (UFMG)

Minicurrículo

    Mestrando em artes (cinema) na Universidade Federal de Minas Gerais e bacharel em cinema e audiovisual no Centro Universitário UNA. Co-fundador e pesquisador do Grupo Moviola, é co-autor de artigos publicados em periódicos acadêmicos no Brasil e no exterior. É sócio-fundador, diretor, produtor e roteirista na empresa Tangente Filmes. Como cineasta lançou os filmes Noturno interlúdio e Arcângelo, exibido no Brasil e no exterior. Possui também experiência ministrando aulas em empresa privada.

Ficha do Trabalho

Título

    Música e imagem, da ascensão à queda: Sarabande em Barry Lyndon

Resumo

    Objetiva-se na presente proposta de apresentação no Seminários Temáticos, expor a pesquisa sobre a relação entre imagem e música no filme Barry Lyndon (1975), de Stanley Kubrick. Mais especificamente, tal pesquisa apresentará uma profunda análise das variações da obra “Sarabande in D minor”, composta por George Frideric Handel. Durante a exibição do filme, este tema sofre grandes variações e diferentes interações com as imagens, acompanhando o protagonista desde sua ascensão à sua queda.

Resumo expandido

    Barry Lyndon (1975) é um filme dirigido, produzido e roteirizado por Stanley Kubrick. A obra possui em sua equipe o maestro Leonard Rosenman, que adaptou e conduziu a maioria das músicas utilizadas no filme, que são composições já existentes da música de concerto. Uma dessas músicas, que é considerada como “tema musical principal” do filme, é a obra “Keyboard suite in D minor (HWV 437)”. Essa peça musical, mais conhecida como “Sarabande in D minor”, foi composta por George Frideric Handel no início do século XVIII, e teve novos arranjos e variações feitas especialmente para o filme de Kubrick.
    O longa-metragem narra a ascensão e queda do protagonista que dá título à obra, começando o filme como um jovem de família humilde, mas que é um rapaz idealista e apaixonado. No decorrer de uma série de fatos ele se torna um homem rico arrogante, manipulador e sem escrúpulos, até que após sua queda finaliza a obra sendo um homem amargurado, arrependido, vivendo em condições financeiras que lhe possibilitam apenas sobreviver. Durante toda a obra, ouvimos e vemos uma forte interação entre a música e a imagem, entrelace este que constrói a forma e conteúdo do filme. Essa interação entre a arte-mídia música e a arte-mídia imagem sempre teve foco na maior parte da filmografia de Kubrick, mas encontra aqui em Barry Lyndon seu ápice, podendo “rivalizar” apenas com 2001: Uma odisseia no espaço (2001: A space odyssey, 1969).

    A presente proposta busca analisar essa forte interação entre música e imagem a partir da já citada “Sarabande in D minor”. Por ser o “tema musical principal” do filme e do protagonista, ela sofre diversas variações com a progressão da narrativa. Ela é iniciada de uma forma e é finalizada, nos créditos finais, da mesma forma, tal qual a condição social e financeira de Barry. Ela o acompanha durante seus êxitos na juventude, ela se transforma durante seus duelos, e durante sua maior perda, a morte de seu filho ainda criança, ela muda de tal forma, que carrega em si a transformação do próprio personagem, em sua amargura e arrependimento. No duelo final do protagonista, a Sarabande é variada radicalmente, se tornando quase irreconhecível, assim como Barry.

    Para além de um paralelo entre o tema musical e a progressão do protagonista, a interação entre a Sarabande e as imagens possuem um vínculo tão potente, que a música não é guiada pelo conteúdo da imagem. No filme de Kubrick, é o oposto que ocorre. A música guia os movimentos dos personagens, a interpretação dos atores, a movimentação da câmera, os cortes e suas continuidades, a atmosfera das situações, a progressão das cenas e das sequencias, entre outros fatores. A música guia a disposição das ferramentas cinematográficas, tomando pra sim um papel de protagonismo na obra.

    Para analisar tal interação, a presente proposta será executada à luz de uma abordagem interdisciplinar. Compreende-se como abordagem interdisciplinar o aporte em uma bibliografia que reúne textos da teoria do Cinema em interlocução com textos das áreas da Música no cinema, da Filosofia, da Semiologia e da teoria da Intermidialidade. Esta metodologia propiciará um lastro teórico fundamental ao manejo dos conceitos utilizados na análise do objeto investigado, que terão como norteadores maiores os estudos de Gilles Deleuze, Irina Rajewsky, Michel Chion e Christian Metz. Objetiva-se, assim, concluir a apresentação expondo uma pesquisa que analisa em profundidade como um entrelace entre música e imagem permite construir uma sólida narrativa de ascensão e queda, sendo esse último aspecto um dos temas (rumos para quedas) do XXIV ENCONTRO SOCINE, e cuja variação da Sarabande representa tão bem tal derrocada.

Bibliografia

    CHION, Michel. A audiovisão: som e imagem no cinema. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2011. (Coleção Mi.me.sis arte e espetáculo).
    CHION, Michel. La musique au cinéma. Paris: Librairie Arthème e Fayard, 1995.
    DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 2018.
    McQUISTON, Kate. We’ll meet again: musical design in the films of Stanley Kubrick. Nova York: Oxford University Press, 2013.
    METZ, Christian. A significação no cinema. São Paulo: Perspectiva, 1972.
    RAJEWSKY, Irina. A fronteira em discussão: o status problemático das fronteiras midiáticas no debate contemporâneo sobre intermidialidade. In: DINIZ, Thaïs Flores; VIEIRA, André Soares (Org.). Intermidialidade e estudos interartes: os desafios da arte contemporânea. Belo Horizonte: Rona; Fale/UFMG, 2012.
    WINGSTEDT, J. Narrative Music: Towards and Understanding of Musical. Narrative Functions in Multimedia. Luleå: University of Technology, Department of Arts, Communication and Education, Music and dance, Luleå, 2005.