Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Francisco Etruri Parente (PUC-SP)

Minicurrículo

    Graduado em cinema pela FAAP, especialista e filosofia pela Estácio de Sá, mestre e doutorando em comunicação e semiótica na PUC-SP. Pesquisador do grupo palavra e imagem em pensamento coordenado pela professora doutora Leda Tenório e pesquisador do Labô – PUC-SP.

Ficha do Trabalho

Título

    O zumbi e o negro em D. W. Griffith e George A. Romero

Resumo

    Está pesquisa busca traçar paralelos da representação do negro no filme “O nascimento de uma nação” (1915, de D.W. Griffith) e do zumbi em “A noite dos mortos vivos” (1968, de George A. Romero), a partir de iconicidades presentes na obra de Romero que remetem diretamente a sequências e simbolismos do clássico silencioso. Deste modo podemos acompanhar a evolução da figura do negro no cinema norte-americano e do gênero do terror como ferramenta reflexiva de questões sociais.

Resumo expandido

    Em 1915 D. W, Griffith realizou o que viria a ser um dos mais importantes e polêmicos filmes feitos na historia do cinema, com o objetivo de representar os horrores da guerra advindos da desunião da nação e do confronto político, o cineasta retrata a guerra civil americana e as consequências da ascensão dos negros na sociedade estadunidense após a escravidão, obrigando sulistas brancos a formarem uma milícia popular chamada ku klux klan para controlarem os negros e restituírem a ordem no país. “O nascimento de uma nação” vai além de um longa-metragem que se notabiliza pela reunião de técnicas e estéticas utilizadas até então pelo cinema silencioso para narrar um drama histórico de modo precursor para a história do cinema. Conforme defende Deleuze, Griffith inaugura a escola da montagem orgânica que se tornaria hegemônica na produção cinematográfica norte-americano e de grande influencia na cinematografia mundial.
    Segundo o pensador francês está proposta orgânica trabalha sua narrativa com unidades no diverso, com contrapontos que se correspondem e ao mesmo tempo se harmonizam, como o cidade e campo, o homem e a mulher, o rico e o pobre, etc… No nosso recorte iremos nos aprofundar na dicotomia entre o branco e o negro. Em “O nascimento de uma nação” o negro é retratado como um ser inferior intelectualmente e moralmente que tem como objetivo se mesclar com a raça branca para “evoluir” geneticamente, enquanto que o brancos, superiores aos negros, defendem a pureza racial para não degenerarem a espécie e a sociedade, com o risco de por a perder suas conquistas materiais e abstratas. No ultimo ato da obra griffithiana temos uma cena que expressa o simbolismo desta proposta, onde uma família de brancos e seus empregados negros “domesticados” estão encurralados em uma pequena casa de campo enquanto um grupo de negros tentam entrar na casa para mata-los e estuprar as mulheres, no clímax da sequência o patriarca se vê diante do destino inevitável de derrota e quase assassina a própria filha em nome da pureza racial, mas a ku klux klan chega a tempo e elimina a ameaça chacinando todos os negros invasores.
    Em 1968 o cineasta George Romero trabalha uma situação similar entre pessoas e zumbis no filme de terror “A noite dos mortos vivos”, no enredo da obra um grupo de pessoas desconhecidas se encontram presos em uma casa para se salvarem da ameaça mórbida que se encontra fora da casa, como se não bastasse existe uma tensão direta entre Ben, o único negro dentro da casa, e Harry Cooper um homem de meia idade que desconfia das intensões de Ben a todo o momento, chegando a coloca-lo em risco de morte em determinado momento do filme por pura falta de empatia. De modo similar ao filme silencioso, no final da trama uma milícia civil armada, mas autorizada pelo estado, chega ao local matando todos os zumbis, mas ao encontrarem Ben não o reconhecem como um ser-humano normal, confundindo-o com um morto vivo, e acabam por mata-lo, depois levam seu corpo com ajuda de ganchos, para não se “contaminarem” e incineram o homem negro junto com as criaturas sinistras.
    A partir daqui trabalharemos as iconicidades do filme de 1915 que retornam na obra 1968, imagens que sobrevivem ao tempo como sintomas humanos e culturais conforme Didi-huberman interpretando Warburg. trabalharemos o paralelo entre: o estar dentro e fora da casa; o pavor ao contágio do outro; a milícia armada como solução alternativa a incapacidade do estado; o extermínio do outro e a desumanização.
    Se em Griffith estes elementos aparecem como modo de construção do discurso da montagem orgânica, em Romero elas retornam enquanto um diagnóstico fúnebre e sombrio do mundo moderno, onde as soluções advém da barbárie legitimada pelo estado e consagrada pela sociedade.

Bibliografia

    ALTMAN, Rick. Los Géneros Cinematográficos. Paidós Comunicación, 2000.
    DELEUZE, Gilles. Cinema 1 – A Imagem-Movimento. Editora 34, 2018.
    DIDI-HUBERMAN, Georges. A Imagem Sobrevivente: História da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg. Contraponto, 2013.
    DIDI-HUBERMAN, Georges. Imagens Apesar de Tudo. Editora 34, 2020.
    HISGAIL. Fani e SANTAELLA, Lucia. Semiótica Psicanalítica: Clinica da cultura. Iluminuras, 2016.
    MASCARELLO, Fernando, org. História Mundial do Cinema. Papirus, 2006.
    NEALE, Steve. Genre and Hollywood. Routledge, 2000.
    OLIVEIRA, Luiz. A mise en scène no cinema: Do clássico ao cinema de fluxo.
    Campinas: Papirus editora, 2014.
    Silva, F. M. (2016). Zombie ou o Corpo Inglorioso. Uma leitura de Night of the Living Dead de George Romero com Giorgio Agamben. Profanações, 3(2), 31–56. https://doi.org/10.24302/prof.v3i2.1112