Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Fernando Morais da Costa (UFF)

Minicurrículo

    Fernando Morais da Costa é professor associado do Departamento de Cinema e Vídeo e do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense, É fundador e ex-coordenador do Seminário Temático de Estilo e Som no Audiovisual da Socine. É atualmente membro do comité cientifico e ex-secretário acadêmico da mesma instituição. É autor de O som no cinema brasileiro (Rio de Janeiro: 7 letras, 2008).

Ficha do Trabalho

Título

    Dark: vozes de narradores, “som sujo”, a escuta do ambiente fantástico

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Resumo

    Esta apresentação propõe analisar a trilha sonora da série Dark, o thriller de ficção científica produzido pela Netflix alemã. Nossa intenção é demonstrar como as vozes over, tanto femininas quanto masculinas, os sons ambientes, com a prevalência de frequências graves, e os silêncios diegéticos são elementos centrais para a composição de tal trilha sonora, e, partir disso, para a narrativa em si da série.

Resumo expandido

    A partir do objetivo central ser analisar a trilha sonora da série Dark, propomos os objetivos secundários que seguem descritos abaixo.
    No que diz respeito à análise das vozes, nos é fundamental considerar tanto materialmente as propriedades sonoras das vozes de narradores quanto suas implicações políticas e sociais. Há questões passiveis de serem analisadas no que concerne língua a nacionalismo, além de questões de gênero. As duas primeiras temporadas trazem um narrador impessoal masculino. Na terceira temporada, a voz over é feminina. A presença de vozes de narradoras, dentro do perímetro audiovisual, tem uma história que remete a Lucy Fischer e seu ensaio sobre o ponto de escuta feminino em Entusiasmo, de Dziga Vertov (FISCHER, 1985) e vem reverberando em pesquisas contemporâneas sobre voz e gênero no âmbito das pesquisas brasileiras na área. Além disso, pretendemos voltar, para tal análise das vozes, ao conceito/metáfora de Barthes sobre o grão da voz
    Quanto aos sons ambientes, nos será importante pensar no conceito de “dirty sounds”, sons sujos, em tradução nossa, de Lisa Coulthard. O conceito se baseia nas possíveis sensações que sons ambientes concentrados em baixas frequências podem proporcionar aos espectadores, causando mesmo tensão e desconforto físico, háptico, a partir de como os corpos recebem o excesso de sons graves. (COULTHARD, 2013)
    Também é um objetivo desta palestra entender o papel do silenciamento dos sons diegéticos, como marcadores que são de momentos narrativamente relevantes para os espectadores. Em Dark, ocorre algo que é ao mesmo tempo conhecido na história do cinema e recorrente no audiovisual contemporâneo: em cada episódio, há um momento em que todos os sons diegéticos são silenciados, e a trilha sonora é preenchida por uma canção, normalmente tocada em sua extensão total. Passamos, como espectadores, pela experiência de não ouvir, por três, quatro minutos, os sons que vêm da cena, enquanto escutamos uma música que se basta, naquelas situações, como a sonorização da série.
    Para além da análise de uma sonoridade audiovisual em sua forma contemporânea, também faz parte de nossos objetivos correlatos, comparar a trilha sonora da série com cânones das representações sonoras do fantástico no cinema. Para tanto, serão relevantes as pesquisas de Rodrigo Carreiro (CARREIRO, 2011) e de William Whittington (WHITTINGTON, 2007).
    Por fim, nos interessa ainda, dentro de uma lógica comparativa entre literatura e audiovisual, pensar em correlações possíveis entre a série e a literatura fantástica moderna latino-americana do século XX, especialmente nas obras de Jorge Luis Borges, Julio Cortázar e Adolfo Bioy Casares, que trabalharam de forma recorrente sobre variações possíveis espaço-temporais, artificio central para a série.

Bibliografia

    CARREIRO, Rodrigo. Sobre o som no cinema de horror padrões recorrentes de estilo. Ciberlegenda. Niterói: PPGCOM – Universidade Federal Fluminense, n. 24, v.1. 2011.

    COULTHARD, Lisa. “Dirty Sound – Haptic Noise in New Extremism”. In: HERZOG, Amy; RICHARDSON, John,;VERNALIS, Carol (org.). The Oxford handbook of sound and image in digital media. Oxford: Oxford University Press, 2013, p. 115-126.

    FISCHER, Lucy. “Enthusiasm: From Kino-Eye to Radio-Eye”. In: WEIS, Elisabeth, BELTON, John (org). Film Sound – Theory anda Practice. New York: Columbia University Press, 1985.

    MUANIS, Felipe, PELEGRINI, Christian (org). Perspectivas do audiovisual contemporâneo: urgências, conteúdos e espaços. Juiz de Fora : Editora UFJF, 2019.

    WHITTNGTON, William. Sound design and science fiction. Austin: University of texas Press, 2007.