Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Cecilia Almeida Salles (PUC/SP)

Minicurrículo

    Cecilia Almeida Salles é professora titular dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica e de Literatura e Crítica Literária da PUC/SP. Coordenadora do Grupo de Pesquisa em Processos de Criação. Autora dos livros Gesto inacabado: processo de criação artística (1998), Crítica Genética (2008), Redes da Criação: construção da obra de arte (2006), Arquivos de Criação: arte e curadoria (2010) e Processos de criação em grupo: diálogos (2017).

Ficha do Trabalho

Título

    Complexidade dos processos de produção cinematográfica

Seminário

    Teoria de Cineastas

Resumo

    Serão apresentadas algumas reflexões sobre os processos de produção cinematográfica, a partir de registros de cineastas como E. Mocarzel e Eliane Caffé. A discussão teórica será feita na interação da crítica de processos de criação com De Masi (2005, 2007). Serão abordados alguns aspectos que envolvem o complexo processo de concretização de um projeto comum, guiado pelas teorias destes cineastas em meios aos outros membros do grupo, como a formação da equipe e a escolha dos modos de trabalho.

Resumo expandido

    O objetivo da comunicação é apresentar algumas reflexões sobre os processos de produção cinematográfica, a partir de registros de cineastas como as cartas de Evaldo Mocarzel, enviadas aos montadores em seu projeto sobre a experimentação do teatro contemporâneo paulista; as publicações do roteiro Narradores de Javé de Eliane Caffé e dos diários do ator David Carradine na filmagem de Kill Bill de Quentin Tarantino. Destacamos que são documentos que os cineastas tornaram públicos, colocando o potencial de seus estudos em relevância. A discussão teórica será feita no âmbito da crítica dos processos de criação em diálogo com a pesquisa de Domenico De Masi (2007) sobre os grupos criativos europeus de 1850 a 1950.
    Serão discutidos dois aspectos que envolvem o complexo processo de concretização de um projeto comum, guiado pelas teorias destes cineastas em meios aos outros membros do grupo: a formação da equipe e escolha dos modos de trabalho.
    Quanto à construção do projeto, De Masi (2005) destaca a importância do líder de infundir no grupo um estado de adesão ao objetivo comum. Observamos, também, a dificuldade de se conviver com a incerteza, característica inerente aos processos de criação, em meio à coletividade. E, ao mesmo tempo, o desenvolvimento do processo vai, necessariamente, levando a determinadas tomadas de decisão que envolvem critérios, princípios direcionadores ou teoria daquele cineasta específico.
    O relato de Carradine fala do cinema de Hollywood. O diretor é visto com uma liderança que convoca para a realização de um projeto, por ele idealizado. Mocarzel e Eliane Caffé, por sua vez, nos trazem outro contexto de produção.
    A construção do projeto comum envolve a escolha da equipe. No caso do cinema, normalmente, os membros têm funções já pré- definidas e se organizam de forma hierárquica. Carradine mostra como ele passou a fazer parte da equipe de Kill Bill. Foi um processo de envolvimento em um campo de atração por afinidades, com comando definido: um projeto Tarantino, com algumas referências ao produtor.
    A discussão dos processos de produção no âmbito da complexidade da concretização de projetos em comum traz à tona o fato que a equipe é formada por sujeitos com seus próprios desejos e buscas; daí os relatos de embates, saídas de membros da equipe e até projetos abortados.
    O caso de Mocarzel, como diretor e propositor do projeto, ele é o responsável pela escolha dos membros da equipe. As cartas para os montadores são feitas em clima de contágio, talvez, como um recurso para motivar a entrada em seu projeto. Os caminhos a serem tomados, depois da filmagem, vão se delineando ao longo das cartas. Os documentários têm montadores diferentes por vários motivos: relação com o projeto específico, disponibilidade de tempo e restrições financeiras. Tudo acontece em meio a um processo colaborativo. Assim, as montagens dos “nossos” filmes acontecerão em meio a uma equipe propositiva, característica de propostas colaborativas. Neste caso, será dado destaque às interações entre as experimentações nas artes cênicas e no cinema.
    Isto nos leva ao outro aspecto dos processos cinematográficos que será discutido: a escolha dos modos de trabalho, ou seja, as maneiras como se dão as interações entre os membros da equipe. Estamos falando da inter-relação entre diferentes formas de organização e novas possibilidades artísticas. Trata-se de uma chave interessante para discutir alguns processos cinematográficos, pois observamos que a escolha desse modo de trabalho faz parte das decisões tomadas em grupo e, ao mesmo tempo, gera consequências estéticas na materialização dos processos. Os textos de Eliane Caffé e do roteirista Luis Alberto de Abreu, na apresentação da publicação do roteiro de Narradores de Javé, trazem essas questões de modo contundente.
    Nos casos que serão aqui discutidos, novas teorias de cineastas parecem estar associadas a modos de trabalho mais horizontalizados em ambiente colaborativo.

Bibliografia

    ABREU, Luis A. de & CAFFÉ, Eliane. Narradores de javé. Col. Aplauso roteiro. São Paulo: Imprensa Oficial, 2004.
    CARRADINE, David. The Kill Bill diary. London: Methuen Drama, A&C Black Publishers Ltd., 2007.
    DE MASI, Domenico. Criatividade e grupos criativos: Descoberta e Invenção. vol. 1. Rio de Janeiro: Sextante, 2005 a.
    ___________________. Criatividade e grupos criativos: Fantasia e concretude vol.2. Rio de janeiro: Sextante, 2005 b.
    DE MASI, D. (org.) A emoção e a regra: os grupos criativos na Europa de 1850 a 1950 9ª ed. Trad. Elia Ferreira Edel. Rio de janeiro: José Olympio, 2007.
    Blog
    http://evaldomocarzel.blogspot.com/