Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Helena Oliveira Teixeira de Carvalho (UFMG)

Minicurrículo

    Graduada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Mestre em Comunicação pela mesma instituição, atualmente é doutoranda na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, onde pesquisa a obra do cineasta Eduardo Coutinho. É realizadora, diretora e produtora do curta “TRANSformação”, exibido no Festival Primeiro Plano, de Juiz de Fora (MG), em 2016.

Ficha do Trabalho

Título

    Novos procedimentos: roteiro e encenação em Moscou

Resumo

    O artigo pretende fazer um estudo sobre novos procedimentos de roteiro e encenação. Para tanto, será analisado o documentário Moscou (2009), de Eduardo Coutinho, que levanta questões sobre as fronteiras entre documentário e ficção, assim como a noção de roteiro e encenação. Pensaremos como o encenador trabalha a cena, levando em conta a interpretação do atores, os espaços e a presença do aparato cinematográfico.

Resumo expandido

    O pretexto para um filme, seja ficcional ou documental, sempre está no mundo em que vivemos. Entretanto, a forma como percebemos a vida é confusa e desordenada, chegando a ser incoerente às vezes. Ao andar pelas ruas, encontramos pessoas desconhecidas, de quem não sabemos nada; ouvimos frases soltas e sons os quais não damos atenção; sentimos sensações que não sabemos explicar. Nesse sentido, Jean-Claude Carrière (2006) destaca que escrever um roteiro ou uma história significa pôr ordem nessa desordem que é a vida.
    O roteiro é considerado o primeiro estágio de um filme. Rafael Conde (2014) afirma que “o roteiro traz em si o projeto de interlocução do realizador cinematográfico com a construção da cena, com o desenho de um conflito, com a proposta de trabalho do ator e sua colocação no espaço e tempo do filme” (CONDE, 2014, p. 155).
    Diversos fatores interferem no grau de liberdade do roteiro, como questões industriais e econômicas, a subjetividade do realizador e o aparato técnico cinematográfico. De acordo com Conde (2014), no chamado cinema clássico industrial, ele é peça dominante e traz uma estrutura rígida, seguindo os padrões reconhecidos pela indústria, enquanto no cinema autoral é uma simples referência e carrega a subjetividade do autor, podendo ainda ser inexistente, como em dramas mais recentes e em Moscou (2009), de Eduardo Coutinho, que será analisado neste artigo.
    Tanto em trabalhos com propostas industriais, quanto em obras autorais, “a encenação ou ‘projeto de representação’ presente no roteiro é que estrutura a grande maioria dos filmes” (CONDE, 2014, p.156). O crítico André Bazin (1991) trabalha a encenação cinematográfica como algo que envolve a matéria física – corpos, figurinos, cenários, luz – que compõe a imagem/som no espaço determinado pela presença da câmera e do seu sujeito. Jacques Aumont (2008) destaca que a questão da encenação foi levantada já pelos irmãos Lumière, que fizeram duas versões de Saída da Fábrica, apresentando preocupações com o enquadramento, o momento certo de começar e terminar o plano e com a organização do ritmo da cena.
    A encenação e o roteiro do documentário apresentam especificidades e podem assumir diferentes formas, uma vez que “os documentários não adotam um conjunto fixo de técnicas, não tratam de apenas um conjunto de questões, não apresentam apenas um conjunto de formas e estilos” (NICHOLS, 2007, p.48), ou seja, nem todos os filmes classificados como documentário exibem um único conjunto de características comuns; eles se diferem entre si.
    Rompendo com qualquer referencial de documentário e com sua própria obra até então, Eduardo Coutinho propõe em Moscou (2009) novos procedimentos para o roteiro e a encenação, explorando seus limites e suas possibilidades. Trabalhando com as fronteiras entre a encenação teatral e cinematográfica, com a ausência de roteiro e com uma montagem fragmentada e desconexa, o diretor abraça a definição de Eisenstein (2002) de que uma das formas de fazer cinema é construir a cena diante da câmera. É exatamente isso que o espectador encontra em Moscou: o processo de construção da cena cinematográfica.
    Diante disso e a partir da análise de Moscou (2009), o presente artigo pretende fazer um estudo sobre como Coutinho trabalha novos procedimentos de roteiro e encenação, levando ao limite as fronteiras entre ficção e documentário. Pensaremos como o encenador trabalha a cena, levando em conta a interpretação dos atores, os espaços e a presença do aparato técnico. A partir de então, queremos compreender as múltiplas interfaces do roteiro cinematográfico, provocando uma reflexão mais ampla a respeito do cinema e as relações entre linguagem, técnica e estratégias narrativas.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. O cinema e a encenação. Lisboa: Texto & Grafia, 2008

    BAZIN, André. O cinema: ensaios. São Paulo, Ed Brasiliense, 1991

    CARRIÈRE, Jean Claude. A linguagem secreta do cinema. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994.

    CONDE, Rafael. Texto, encenação e cinema. In: Revista Em Tese, v.20, n.3. Belo Horizonte, 2014, p.154-162

    ENSEINSTEIN, Sergei. Fora de Quadro. In: EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. São Paulo: Zahar, 2002b, p. 35-48

    GAUDREAULT, André. From Plato to Lumière: narration and mostration in literature and cinema. Toronto: University of Toronto Press, 2009.

    NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. 2. Ed. São Paulo: Papirus, 2007