Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Camila de Souza Esteves (UFBA)

Minicurrículo

    Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia com pesquisa sobre os cinemas africanos contemporâneos. É co-fundadora e curadora da Mostra de Cinemas Africanos e curadora colaboradora do Africa in Motion Film Festival (Escócia). Publicou artigos e ensaios sobre os cinemas africanos em diversas revistas e catálogos, e co-editou o e-book “Cinemas Africanos Contemporâneos – abordagens críticas” (Sesc, 2020).

Coautor

    Marina Cavalcanti Tedesco (UFF)

Ficha do Trabalho

Título

    Direção de fotografia como estratégia no cinema “Beyond Nollywood”

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Resumo

    Considerando o contexto do audiovisual nigeriano e o que se entende por “Nollywood” (cinema massivo) e “Beyond Nollywood” (não industrial), esta comunicação busca mapear e discutir as disputas em torno de um novo cinema nigeriano a partir das estratégias da direção de fotografia. Tomamos como ponto de partida o filme “Eiymofe”, cuja análise revela uma distinção no que tange aos enquadramentos, movimentos de câmera, luzes, cores, etc. configurando um espaço de dissenso no audiovisual nigeriano.

Resumo expandido

    Nesta comunicação apresentaremos parte de nossas análises sobre as disputas em torno de um novo cinema nigeriano a partir da direção de fotografia. Se o cinema industrial e massivo da Nigéria, popularmente conhecido como “Nollywood”, se caracteriza por narrativas homogêneas no que tange tanto aos seus temas como aos seus estilos, uma geração emergente de realizadores tem buscado se distinguir ao investir em uma estética tida como mais sofisticada quando comparadas às típicas produções da indústria do país. “Beyond Nollywood” (para além de Nollywood), termo cunhado pela curadora jamaicana Nadia Denton, tem dado conta de identificar esta coleção de filmes e cineastas que não se filiam à estética nollywoodiana.

    Produções com “Kasala” (Ema Edosio, 2018) e “The Delivery Boy” (Adekunle Nodash Adejuyigbe, 2018), mesmo com tramas que se aproximam muito do comumente produzido na Nigéria, apresentam uma cinematografia que as distingue de Nollywood. Outras, como “B for Boy” (Chika Anadu, 2013) e “Ebun Pattaki” (Damilola Orimogunje, 2020), se inserem em uma proposta de cinema autoral, afastando-se completamente da estética nollywoodiana. Em comum, os quatro longas-metragens revelam uma disputa por um cinema nigeriano que rompe com o que é apontado como amadorismo e estética televisiva de Nollywood, ao mesmo tempo em que buscam alternativas para atingir públicos locais e globais.

    Um dos marcadores desta distinção é a direção de fotografia, elemento expressivo fundamental para esse afastamento estético e estilístico entre o cinema massivo e o cinema não industrial, independente e/ou autoral. Nesta comunicação, buscamos introduzir a discussão sobre tais disputas dentro do cinema nigeriano, analisando como as distinções no âmbito da cinematografia (movimentos de câmera, luzes, cores, enquadramentos, etc.) orientam e configuram os regimes de visibilidade de filmes “para além de Nollywood” dentro e fora da Nigéria – especialmente em espaços como salas de cinema, festivais internacionais e Netflix. A recente entrada da plataforma no campo de produção nigeriano, resultando em filmes “originais Netflix” como “Por uma vida melhor” (Kenneth Gyang, 2019), tensiona a indústria de Nollywood ao negociar o seu típico universo narrativo (contratado pela plataforma) com o trabalho internacionalmente reconhecido do seu diretor.

    Queremos trazer para o Seminário Temático reflexões sobre a direção de fotografia de “Eiymofe” (Arie Esiri e Chuko Esiri, 2020), exibido no Brasil em 2020 na 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (online). Estreado na Berlinale e filmado em 35mm por dois realizadores nigerianos de formação estadunidense, a produção representou um marco no cinema não industrial da Nigéria por seu estilo autoral e sua narrativa profundamente envolvida com os dilemas da Nigéria contemporânea. Nesse sentido, consideramos pertinente perguntar: como “Eiymofe” se distingue no que tange a cinematografia? Qual a pertinência de se falar na direção de fotografia como estratégia para se posicionar “para além de Nollywood”? Como o trabalho de iluminação e câmera dos filmes não industriais tem mobilizado diretores e audiências – internas e globais – sobre novas formas de se fazer cinema na Nigéria?

    Buscamos ainda, nessa apresentação, explicitar o que entendemos aqui como distinção (fotográfica, mas não só), construindo um espaço de investigação que nos permita compreender os afetos mobilizados nessas disputas discursivas (o que pode ser um filme nigeriano, que espaços ele pode ocupar e quais públicos mobilizar).

Bibliografia

    BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp/Porto Alegre: Zouk, 2008.

    ESTEVES, A. C. “Narrativas em disputa no cinema nigeriano: um olhar sobre Nollywood a partir de Green White Green (2016)”. Perspectiva Histórica, v.8, p.37-53, 2019.

    ESTEVES, A. C. “Conversación entre Nadia Denton y Ana Camila Esteves”. In: Beatriz Leal Riesco. (Org.). Cines Africanos: conversaciones, desafíos y críticas. Gijón: Fundación El Pájaro Azul, 2020. p.102-108

    GROSSBERG, L. Cultural studies in the future tense. Durham: Duke University Press, 2010.

    HAYNES, J. “A cena contemporânea do cinema nigeriano”. In: ESTEVES, A. C.; ALMEIDA, J. Cinemas Africanos contemporâneos – abordagens críticas. São Paulo: SESC, 2020. p.108-123

    TEDESCO, M. C. “Fotografia como diferencial competitivo em telenovelas: produções da Rede Globo nos últimos 15 anos”. In: Anais da Grão Fino: Semana de Fotografia, 2020. p.1-9