Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Maurício de Bragança (UFF)

Minicurrículo

    Graduado em História e Cinema, com Mestrado em Comunicação e Doutorado em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é Professor Associado do Departamento de Cinema e Video e do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF. Publicou A traição de Manuel Puig: melodrama, cinema e política em uma literatura à margem (EDUFF, 2010) e organizou, com Marina Tedesco, o livro Corpos em projeção: gênero e sexualidade no cinema latino-americano (7Letras, 2013).

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema fronteiriço: primeiros passos rumo a um subgênero mexicano

Seminário

    Audiovisual e América Latina: estudos estético-historiográficos comparados

Resumo

    A migração é um dos aspectos recorrentes nos filmes mexicanos que incorporam a fronteira em suas narrativas, trazendo uma questão social de grande impacto. O melodrama estruturou tais narrativas desde filmes da década de 1930, matriz que permanecerá no modo como o cinema mexicano tratará esse tema. Aqui, nos deteremos no momento inicial da abordagem da temática da fronteira no cinema mexicano, recorrendo, em especial, ao filme La china Hilaria, dirigido por Roberto Curwood em 1938.

Resumo expandido

    O termo “cinema fronteiriço”, pensado a partir da fronteira entre México e Estados Unidos, apresenta alguns desafios de natureza conceitual, e tem recebido atenção de alguns pesquisadores mexicanos, estadunidenses e chicanos, como Norma Iglesias Prieto (1991), Maximiliano Maza Pérez (2014), Juan Villa (2011), David R. Maciel (1994), Rosa Linda Fregoso (1997) e Chon Noriega (1993). Uma questão de grande importância referente ao tema da fronteira se relaciona também à perspectiva de onde ela é observada. Interessa-nos, nessa proposta, observar esse espaço desde o ponto de vista do cinema mexicano. Isso não quer dizer que a temática da fronteira possa ser abordada apenas sob uma perspectiva. Essa é uma temática que se constrói na disputa política dos agentes sociais que reivindicam a narrativa sobre esse espaço. Desta forma, ainda que apresentemos um recorte que privilegie as produções mexicanas, não podemos deixar de observar que esse olhar é sempre atravessado pela produção de narrativas que estão em disputa não só no próprio cinema mexicano, mas também no cinema estadunidense e no cinema chicano, bem como nas experiências de co-produção. Ao observarmos o tema da fronteira no cinema mexicano ao longo da história, percebemos três grandes eixos narrativos que organizam a filmografia sobre a fronteira: o trânsito dos indocumentados; as narrativas sobre o crime, em especial o narcotráfico; o estatuto do mexicano-americano e a vida do imigrante ilegal nos Estados Unidos. Essas abordagens temáticas que frequentam a maioria dos filmes dialogam com algumas matrizes genéricas da produção cinematográfica mexicana, como os melodramas que tratam da imigração. Segundo Norma Iglesias Prieto (1993, p. 22), referindo-se às pesquisas de Olivier Debroise y Toledo, um filme dirigido por Miguel Contrera Torres em 1922, intitulado El hombre sin patria, já tratava do problema dos braceros nos EUA. Braceros é o nome com que são conhecidos esses trabalhadores braçais mexicanos, dedicados às atividades menos qualificadas, em geral na produção agrícola. Esse filme pioneiro viria constituir uma vasta filmografia ao longo da história do cinema mexicano, que atualizava uma temática de grande importância nas relações econômicas, sociais e trabalhistas entre os dois países. O tema da migração aos Estados Unidos volta a aparecer no final da década de 1930, em dois filmes: La china Hilaria, dirigido Roberto Curwood em 1938 e Adiós mi chaparrita, dirigido por René Cardona em 1939. Em ambos os filmes, temos a viagem do personagem masculino aos Estados Unidos em busca de trabalho, deixando para trás uma mulher apaixonada que espera seu retorno. A migração é um dos aspectos mais frequentes nos filmes mexicanos que incorporam a fronteira em suas narrativas, trazendo uma questão social de grande impacto nas relações entre os dois países. O melodrama estrutura a narrativa e percebemos já nesses filmes iniciais, algumas matrizes que permanecerão na maneira como o cinema mexicano irá tratar o tema através dos subgêneros cinematográficos próprios dessa cinematografia nacional: o melodrama ranchero, o melodrama cabaretero, o melodrama de imigração, o narcocine, dentre outros. Nesta comunicação, nos deteremos nesse momento inicial da abordagem dessa temática da fronteira no cinema mexicano, recorrendo, em especial ao filme La china Hilaria como forma de problematizarmos essa discussão na década de 1930.

Bibliografia

    FREGOSO, Rosa Linda. The Bronze Screen: chicana and chicano film culture. Minneapolis: U of Minnesota, 1997.

    MACIEL, David R. El bandoleiro, el pocho y lar aza – imágenes cinematográficas del chicano. México: UNAM, 1994.

    NORIEGA, Chon A. “Internal ‘others’: Hollywood narratives ‘about’ Mexican-Americans”. In KING, J.; LÓPEZ, A.M.; ALVARADO, M. (eds). Mediating two worlds: cinematic encounters in the Americas. London: BFI, 1993.

    PÉREZ, Maximiliano Maza. Miradas que se cruzan: el espacio geográfico de la frontera entre México y los Estados Unidos en el cine fronterizo contemporáneo. México: Bonilla Artigas Editores: Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey: Iberoamericana Vervuert, 2014.

    PRIETO, Norma Iglesias. Entre yerba, polvo y plomo: Lo fronterizo visto por el cine mexicano. Tijuana, México: Centro de Estudios Fronterizos del norte de México, 1991.

    VILLA, Juan. Coyotes en el cine fronterizo. Arizona: Hispanic Institute of Social Issues, 2011.