Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Sandra Fischer (UTP)

Minicurrículo

    Pós-doutora em Cinema pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ) e doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP); docente e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná (PPGCom/UTP); vice-líder do Grupo de Pesquisa “Desdobramentos Simbólicos do Espaço Urbano nas Narrativas Audiovisuais” (GRUDES, PPGCom-UTP / CNPq); sandrafischer@uol.com.br

Coautor

    Aline Vaz (UTP)

Ficha do Trabalho

Título

    A ARTE E O POPULAR: POTÊNCIAS DO CINEMA COMO ATO POLÍTICO

Resumo

    O estudo dedica-se a identificar e analisar nos filmes A vida invisível (Karim Aïnouz, 2019) e Bacurau (Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, 2019), as linhas que se entrelaçam entre o cinema de autor e o cinema de gênero. Por meio da análise fílmica e a sistematização de ideias expressamente manifestas pelos cineastas, considera-se que as estratégias utilizadas na construção das mencionadas obras fílmicas potencializam elementos da ordem do sensível como experiência política.

Resumo expandido

    O estudo, integrado a um projeto de pesquisa sobre cinema, composição fílmica e potência, dedica-se a identificar e analisar, nos filmes A vida invisível (Karim Aïnouz; Brasil, 2019) e Bacurau (Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles; Brasil, 2019) as linhas que se entrelaçam entre o cinema de autor (alinhado à dimensão da arte e/ou atrelado ao experimentalismo) e o cinema tido como “comercial”, que tende a estabelecer imediata conexão com o grande público; quando traçado dos contornos que delimitam o cinema autoral e o cinema de gênero, em lugar da linearidade estável apresenta-se escorregadio e movediço, essa labilidade pode adquirir potencial de resistência. Esteticamente articuladas, as imagens de Bacurau e as de A vida invisível arranjam-se, respectivamente, de forma que o plano do conteúdo e o plano da expressão homologam-se mutuamente; enquanto o filme de Mendonça Filho e Dornelles transita entre os gêneros ‘faroeste’ sertanejo e ficção científica, o de Aïnouz aproxima-se do melodrama – o que não apenas alarga o escopo de escolhas criativas dos diretores como confere a ambas as produções a possibilidade de atingir diversos públicos. Buscando contaminar o cinema “por dentro”, afirma Karim Aïnouz (2019), decidiu adotar uma “linguagem de gênero, com a qual um público mais amplo estivesse habituado. Queria apostar numa forma mais clássica, quase careta, e a partir dali falar sobre temas relevantes no mundo hoje”. Kleber Mendonça Filho (2019), por seu turno, observa que uma narrativa com traços de ficção cientifica encontra-se mais próxima de nossos dias: “O filme abre com palavras importantes, que eu considero efeitos especiais baratos: ‘alguns anos depois’’’, palavras que evocam o caráter futurista, ficcional daquilo que se passa na tela. Entretanto, ressalta esse último, quando nos “últimos três anos”, o Brasil afastou-se consideravelmente da via democrática, Bacurau “ficou mais perto da realidade”. A maior parte das tensões imaginadas em A vida invisível e em Bacurau são questões históricas, problemas crônicos da sociedade brasileira: patriarcalismo exacerbado, opressão e reificação da mulher, violência implícita e/ou explícita, sujeição pós-colonialista ao estrangeiro, corrupção endêmica, sintomática escassez de água no Nordeste, etc. Partindo dessas premissas, e com amparo na Teoria de Cineastas – especialmente estabelecendo relações entre reflexões teóricas e as obras selecionadas, e também sistematizando ideias expressamente manifestas pelos cineastas –, a proposta deste estudo é analisar os filmes em pauta articulando as linhas tênues que ali se delineiam entre o cinema de autor, compreendido à moda de Alexandre Astruc (2012) como a capacidade de o cineasta expressar uma concepção de mundo com a linguagem mais vasta possível, e o cinema de gênero, conhecido pelo alcance ao grande público, o dito cinema comercial. Considera-se aqui, hipoteticamente, que tal modo de fazer cinema pode funcionar como estratégia de resistência: em termos de crítica social, imagens cinematográficas de natureza potencialmente política surtirão efeitos na medida em que se comuniquem amplamente com a sociedade. Como forma de vida coletiva, a aderência do público/plateia ao discurso cinematográfico em tela e a apropriação das politicidades estéticas é uma experiência sensível cuja vivência pode assumir caráter transformador.

Bibliografia

    AÏNOUZ, K. Queria contaminar o cinema clássico por dentro, diz Karim Aïnouz. Folha de São Paulo. 2019. Disponível em: . Acesso em: 10 fev. 2020.

    ASTRUC, A. Nascimento de uma nova vanguarda: a caméra-stylo. Traduzido por Matheus Cartaxo. 2012. Disponível em: . Acesso em 04 fev. 2020.

    GRAÇA, A. R.; BAGGIO, E. T.; PENAFRIA, M.. 2015. Teoria dos cineastas: uma abordagem para a teoria do cinema. Revista Científica/FAP, v.12, 19-32.

    MENDONÇA FILHO, K. Diretores dedicam exibição de Bacurau a Lula em festiva de Nova York. Folha de São Paulo. 2019. Disponível em: . Acesso em: 22 fev. 2020.

    MENDONÇA F., K. Três roteiros: O som ao redor, Aquarius, Bacurau. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.