Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Vinicius Augusto Carvalho (UFF / ESPM-Rio)

Minicurrículo

    Doutorando em Cinema e Audiovisual (PPGCINE | UFF). Mestre em Economia Criativa (ESPM). Especialista em TV Digital, Radiodifusão e Novas Mídias de Comunicação Eletrônica (UFF). Graduado em Jornalismo (UFSC). Na ESPM-Rio é professor nos cursos de Cinema e Audiovisual, Jornalismo e Design, coordena o Portal de Jornalismo e atua como supervisor do curso de Jornalismo. Trabalhou 13 anos na TV Globo com edição e finalização de audiovisuais jornalísticos e de entretenimento. Hoje é montador freelance.

Ficha do Trabalho

Título

    Plano a plano: poética das transições na montagem de “Acossado”

Seminário

    Montagem Audiovisual: Reflexões e Experiências

Resumo

    O trabalho investiga transições na montagem do filme “Acossado” (1960) de Jean-Luc Godard em busca de materialidades estéticas e estruturais que exponham relações morfológicas e cognitivas utilizadas pelo diretor francês. Com auxílio de técnicas computacionais de “Visualização da Informação” propostas por Manovich (2010) o estudo, inspirado na análise fílmica de Marie (2006) sugere uma abordagem metodológica-analítica alternativa para a identificação das pontuações no sexagenário longa-metragem.

Resumo expandido

    Uma característica peculiar do cinema, percebida por muitos, é que a maioria dos filmes são constituídos por segmentos, sequências, blocos compostos de tomadas, conectados por meio de intervalos instantâneos. As sequências diferem umas das outras em termos de ritmo, estrutura, espaço e tempo. Muito se estuda acerca das propriedades relacionadas aos planos constituintes das mesmas, entretanto as questões relacionadas aos elementos que as justapõe são menos discutidas e podem ser mais complexas de abordar. Diferentemente da música com suas medidas determinadas, as transições entre trechos autônomos variam substancialmente, tanto na estética quanto na duração. Menos evidente, mas tão importante, é a relação que se estabelece entre os pontuadores imagéticos entre segmentos e a história do filme.
    Estudos teóricos, práticos e declarações de diretores e montadores costumam promover o estabelecimento de certos padrões para a utilização de elementos de ligação na composição de relações rítmicas e estruturais dentro de uma narrativa. Mesmo que não uma regra, identificam-se na literatura relacionada à edição sugestões, orientações, designações, para o uso de técnicas específicas de montagem quando a intenção é “mudar de lugar” no espaço ou dar um “salto” no tempo, por exemplo. Deixar explícito algo ligado à mise em scène, estabelecer um vínculo visual entre planos, criar uma ruptura narrativa, ou ainda deixar evidente que parte de uma história está sendo omitida são, muitas vezes, atreladas a uma determinada transição. Ao observar produtos audiovisuais e a bibliografia sobre o tema surgem algumas perguntas: será que os arquétipos, que tratam do uso de efeitos de transição na gramática fílmica e que seguem sendo replicados com o passar dos anos, podem ser questionados? Ainda é possível definir que uma pontuação imagética é “a mais adequada” à concepção de um vínculo entre tempo e espaço ou à estruturação de um enredo?
    Instigado por estas questões, inspirado pelo modelo de análise fílmica de Michel Marie (2006) e com o auxílio de softwares de edição e sistemas computacionais de visualização de dados, este estudo busca lançar um olhar diferenciado sobre um dos símbolos do cinema francês da década de 1960. A proposta compreende a investigação das transições na montagem de uma das mais aclamadas obras de Jean-Luc Godard: “Acossado” (À bout de soufflé) de 1960. A análise conta com o mapeamento das pontuações visíveis e invisíveis presentes no filme e sugere discussões sobre o processo de utilização das mesmas na narrativa.
    O interesse em investigar características de justaposição entre segmentos no filme “Acossado” decorre da capacidade deste longa-metragem em atravessar décadas mantendo-se como referência quando o assunto é o jump cut – transição considerada invisível por não ocupar espaço ou tempo de tela – utilizado na edição. Este elemento agregador de planos é, na maioria das vezes, uma referência e uma reverência aos filmes da Nouvelle Vague Francesa e do diretor Jean-Luc Godard. O “corte em salto” possui um impacto visual transgressor da narrativa clássica e opera como uma pontuação com presença marcante.
    A busca por materialidades estéticas, estruturais e rítmicas a partir da utilização de transições na gramática visual do filme “Acossado” norteiam o estudo. O intuito é detectar bases arquetípicas para a narrativa e a estrutura de codificação dos conectores de ligação no longa-metragem. Parte-se do entendimento da Análise Textual Perceptiva de Metz (2014) com ênfase na técnica fílmica de pontuação imagética, por meio de processos de “Visualização da Informação” de Lev Manovich (2010) e de um arcabouço teórico-metodológico composto por estudiosos da área de montagem audiovisual. A análise da amostra permitiu caracterizar estratégias de uso dos elementos de ligação, identificando aspectos de convergência e divergência na produção de Godard, permitindo reflexões sobre o uso das transições.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. A análise do filme. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2004. AUMONT, J. Dicionário teórico e crítico de cinema. Campinas, SP: Papirus, 2012. BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. A arte do cinema – uma introdução. Campinas, SP: Unicamp, 2013. DANCYGER, K. Técnicas de edição para cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. MANOVICH, Lev. Visualizing Vertov. Cultural Analytics Lab., 2013. MANOVICH, Lev. What is Visualization? Cultural Analytics Lab., 2010. MARIE, Michel. A Nouvelle Vague e Godard. Campina, SP: Papirus, 2011. MARTIN, Marcel. A Linguagem cinematográfica. Lisboa: Dinalivro, 2015. METZ, Christian. A significação no cinema. São Paulo: Perspectiva, 2014. REISZ, Karel e MILLAR, Gavin. 1978. A técnica da montagem cinematográfica. Rio de Janeiro: Civilização brasileira. SALT, Barry. 2009. Film style and technology: History and analysis. London: Starword. VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio Sobre a Análise Fílmica. Campinas, SP: Papirus, 2012.