Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Victor Santos Vigneron de La Jousselandière (USP)

Minicurrículo

    Professor de História no ensino básico, mestre em História Social pela Universidade de São Paulo e doutorando na mesma instituição. Em sua pesquisa, analisa a trajetória do crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes entre os anos 1950 e 1970.

Ficha do Trabalho

Título

    “Dina do cavalo branco”, de Paulo Emílio Salles Gomes (1962)

Resumo

    O objetivo da apresentação é discutir a produção do roteiro cinematográfico “Dina do cavalo branco” (1962), por Paulo Emílio Salles Gomes. Nesse momento, observa-se um deslocamento do autor em direção ao contexto baiano, fato que daria origem a um conjunto documental que compreende ainda críticas e correspondências. A análise de “Dina” tem por objetivo relacionar as opções temáticas e formais ao posicionamento do autor diante de questões atinentes ao campo cinematográfico da época.

Resumo expandido

    A tese “Uma situação colonial?” (1960, “O Estado de S. Paulo”) marca a formulação de uma plataforma mais sistemática para o cinema brasileiro por parte do crítico paulista Paulo Emílio Salles Gomes. Até a reversão de expectativas gerada pelo Golpe de 1964, o crítico empenhou-se em diversas iniciativas que desdobravam aspectos levantados pela tese: ampliou suas modalidades de intervenção na imprensa, ingressou no magistério universitário, articulou a estatização da Cinemateca Brasileira, circulou por festivais e atuou pontualmente no campo da produção cinematográfica. O ano de 1962 marca um lance significativo nesse contexto, em que Salles Gomes se desloca para a Bahia, onde ocorria um ciclo cinematográfico conhecido por filmes-chave do período, como “Bahia de Todos os Santos” (1960, dir. Trigueirinho Neto), “A grande feira” (1961, dir. Roberto Pires), “Barravento” (1961, dir. Glauber Rocha), “O pagador de promessas” (1962, dir. Anselmo Duarte) e “Tocaia no asfalto” (1962, dir. Roberto Pires). Em permanente ligação com figuras que circulavam por Salvador (Dinalva Scher, Walter da Silveira, Glauber Rocha, Rex Schindler, Orlando Sena, Walter Webb etc.), o crítico paulista produziu um conjunto documental composto por sua correspondência com algumas dessas figuras, por artigos publicados em “Visão” e n’“O Estado de S. Paulo”, pelo material relacionado à organização do I Festival de Cinema da Bahia (1962) e pelo roteiro “Dina do cavalo branco”. O roteiro, escrito em fevereiro de 1962, não chegou a ser filmado, apesar das diligências de Salles Gomes junto a Glauber Rocha e outros realizadores. Atualmente, o manuscrito encontra-se depositado, junto de seus acréscimos e variantes, na Cinemateca Brasileira e, até onde se sabe, não foi objeto de investigações sistemáticas por parte de pesquisadores. No entanto, o material fornece informações preciosas acerca da posição de Salles Gomes num momento significativo de sua trajetória. Como se sabe, seu entusiasmo em relação ao cinema baiano contrasta com o desajuste paulatinamente evidenciado em relação ao Cinema Novo, marcado já em 1962. Além disso, o esboço de atuação direta no campo da produção cinematográfica, continuado pela participação como ator em “Gimba” (1963, dir. Flávio Rangel) e “Morte em 3 tempos” (1964, dir. Fernando Coni Campos), seria substituído aos poucos por uma estratégia diversa de articulação da política cinematográfica, que passaria a envolver uma circulação intensa em Brasília. A análise de “Dina do cavalo branco” tem por objetivo, portanto, levantar a encruzilhada de um projeto abandonado (por questões pessoais e políticas) que se encontra marcado nas opções temáticas e formais presentes no roteiro. Assim, através da análise do enredo, da construção de personagens, objetos cênicos, figurinos e locações, das rápidas indicações de diálogos e da proposta de estruturação da montagem, o objetivo é analisar essa experiência que o autor chamou de “projeto de melodrama popular e moderno para o cinema baiano”.

Bibliografia

    BERNARDET, Jean-Claude. “Brasil em tempo de cinema: ensaio sobre o cinema brasileiro de 1958 a 1966.” São Paulo: Cia. das Letras, 2007.
    NOGUEIRA, Cyntia Araújo. “Cinema, artes e cultura da vida: Bahia 1950-1970.” Tese (doutorado em Artes) – UERJ, Rio de Janeiro, 2018.
    PINTO, Pedro Plaza. “Paulo Emilio e a emergência do Cinema Novo: débito, prudência e desajuste no diálogo com Glauber Rocha e David Neves.” Tese (doutorado em Meios e Processos Audiovisuais) – São Paulo, USP, 2008.
    RIDENTI, Marcelo. “Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da TV.” São Paulo: Ed. Unesp, 2014.
    ROCHA, Glauber. “Cartas ao mundo.” São Paulo: Cia. das Letras, 1997.
    SALLES GOMES, Paulo Emílio. “Uma situação colonial?” São Paulo: Cia. das Letras, 2016.
    SILVEIRA, Walter da. “A história do cinema vista da província.” Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1978.
    SOUZA, José Inacio de Melo. “Paulo Emilio no Paraíso.” Rio de Janeiro: Record, 2002.