Trabalhos Aprovados 2021

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Helena Braga e Vaz da Costa (UFRN)

Minicurrículo

    Professora Titular do Departamento de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Pós-doutorado em Cinema pelo International Institute – University of California at Los Angeles (UCLA) – USA; Doutorado e Mestrado em Estudos de Mídia pela University of Sussex – Inglaterra; Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Atua como pesquisadora na área de Cinema e da Cultura Visual.

Ficha do Trabalho

Título

    IMAGINAÇÕES E PAISAGENS URBANAS NO CINEMA: UTOPIAS E DISTOPIAS

Resumo

    Esse trabalho discute e analisa as paisagens utópicas, e os discursos distópicos construídos pelo aparato cinematográfico que concebem o espaço urbano associado à imagem das grandes metrópoles que surgiam nas primeiras décadas do século XX apresentando a paisagem urbana como cenário de complexas relações sociais heterogêneas, onde os diferentes valores culturais se justapõem no espaço e criam uma multiplicidade de expectativas sobre estes.

Resumo expandido

    A paisagem natural, e suas representações em diversos formatos, deve ser entendida como um texto que se configura a partir de símbolos e signos instituídos como prática cultural de significação, participando na construção e transmissão de discursos, valores e concepções (DUNCAN, 2004). Isto é, a paisagem é uma maneira de ver o mundo (COSGROVE, 1998), e segundo Cauquelin (2007) ela “é puramente retórica, está orientada para a persuasão, serve para convencer, ou ainda, como pretexto para desenvolvimentos, ela é cenário para um drama ou para a evocação de um mito” (p.49). Entendida como texto, a paisagem guia e constrói o olhar do observador para uma narrativa, para um discurso de paisagem específico – utópico ou distópico –, apresentando e motivando diversas formas de interpretação.
    Thomas Morus em sua importante obra A Utopia (1516), deu margem a uma multiplicidade de significados para “utopia”, derivados principalmente da sua etimologia. O substantivo utopia é derivado do grego topos, que significa lugar e a palavra utopia assume, por vezes, um sentido duplicado de lugar: o lugar da felicidade, o lugar que não existe, o não lugar, o lugar nenhum, aquele que está no âmbito do sonho; que é resultado da imaginação; quimérico ou fantasioso. A utopia, portanto, transcende a realidade, aparece como ruptura da ordem existente. A cidade utópica, por exemplo, é aquela da imaginação, aquela que não pretende nem depende da sua realização. Então, considera-se como utópica a cidade que não existe, aquela que não é encontrada em nenhuma parte, que constitui um espaço imaginado e nunca materializado, que apresenta uma ruptura com o mundo circundante (PAQUOT, 1999).
    O ambiente da modernidade que se instaura desde o início do século XX reflete diretamente na diversidade de concepções de cidades utópicas tanto no urbanismo quanto no cinema. É nesse momento que surgem as cidades automatizadas, repletas de inovações tecnológicas advindas, e ao mesmo tempo antecipando respostas às aspirações de um novo mundo constituído pela tecnologia e pelas inovações e invenções que se multiplicavam. A própria invenção do cinema aparece, nesse contexto de invenções, com uma primeira finalidade: a de experimentar novas formas de visualização do espaço urbano – a lanterna mágica, a cronofotografia, o panorama, a fotografia, a estereoscopia, o quinetoscópio, e finalmente o cinematógrafo dos irmãos Lumière de 1895.
    Arquitetos, urbanistas e cineastas despontam então, como os sujeitos que efetivamente se preocupam com a configuração espacial e que apresentam alternativas às diversas transformações pelas quais passam as paisagens urbanas. Estes respondem criando novas cidades, novas espacialidades, novas imagens e visibilidades como exaltação, e/ou contraponto à crítica sobre a problemática espacial dos centros urbanos que se apresentava como a realidade da sua época. A cidade utópica “construída” pelo cinema, não é um espelho, mas ressonância; também não é reflexo, é confluência; não é captura ou representação, mas invenção (DELEUZE, 1986). O cinema converte em imagens as ideias e pensamentos sobre as cidades utópicas, as traz para o plano do visível, e as torna contextualmente reais.
    As cidades, e os lugares que habitamos e aos quais pertencemos, muitas vezes são conectadas a características espaciais que, embora imaginárias, acabam contribuindo para a evolução de novas concepções que podem iluminar os caminhos da prática arquitetônica, do planejamento urbano e da experiência do viver no espaço urbano.
    Esse trabalho discute e analisa as paisagens utópicas, e os discursos distópicos postos pelo aparato cinematográfico que concebe a paisagem urbana associada à imagem das grandes metrópoles que surgiam nas primeiras décadas do século XX apresentando a paisagem urbana como cenário de complexas relações sociais heterogêneas, onde os diferentes valores culturais se justapõem no espaço e criam uma multiplicidade de expectativas sobre estes.

Bibliografia

    CAUQUELIN, A. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 152 p.
    COSGROVE, D. A Geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. (eds). Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998, 92-123.
    DELEUZE, G. Cinema 1: the movement image. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1986. 264 p.
    DUNCAN, J. A Paisagem como Sistema de Crição de Signos. In ROSENDAHL, Z. e CORRÊA, R. L. (orgs.). Paisagens, Textos e Identidades. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2004, 91-132.
    MORUS, T. Utopia. Rio de Janeiro: Penguin, 2018.
    PAQUOT, T. A utopia: ensaio acerca do ideal. Rio de Janeiro: Difel, 1999.