Seminários Temáticos para o triênio 2020-2022

Estética e plasticidade da direção de fotografia

Resumo

    O objetivo deste Seminário Temático é reunir trabalhos que resultem de investigações dedicadas à plasticidade da direção de fotografia. A intenção é construir um espaço de trocas e diálogos atento às especificidades da fotografia no cinema. Para tanto, o seminário visa a reunião de abordagens de natureza estética e que contemplem os elementos plásticos dos quais se vale a cinematografia. Além do mais, interessarão ao seminário estudos sobre as técnicas e formas de produção de fenômenos estéticos plasmados na tela por meio dos recursos pertencentes ao repertório de criação, com ênfase nas trajetórias, modos de fazer, contextos sócio-culturais e condições de realização de diretores e diretoras de fotografia. Além disso, o seminário propõe acolher análises dedicadas à plasticidade fotográfica no cinema a partir da relação entre direção de fotografia e outras áreas, como a direção de arte e a montagem, e também com outras formas imagéticas, a exemplo das artes plásticas.

Introdução

    Durante muitos anos a disciplina de direção de fotografia nas universidades esteve a cargo de pessoas que advinham do mercado e, portanto, possuíam experiência e um saber prático, mas não tinham afinidade com a pesquisa acadêmica (há exceções, como Bertrand Lira e Miguel Freire). Assim, a direção de fotografia foi uma das áreas que menos se desenvolveu nos estudos brasileiros de cinema e audiovisual.
    Na última década, com a abertura de cursos de cinema e audiovisual, bem como de programas de pós-graduação em instituições de ensino superior privadas, estaduais e federais, tal realidade começou a se alterar. E, sentindo necessidade de interlocução para suas investigações, os novos professores começam a se procurar e pensar como poderiam construir uma rede de colaboração permanente, sendo o grupo de pesquisa Cinematografia, Expressão e Pensamento (CNPq/UFF) um fruto disso.
    Resultado desta articulação, nos encontros da SOCINE de 2015, 2016 e 2017 foram propostas mesas pré-constituídas, mas este formato se mostrou insuficiente. Ainda há poucos doutores com pesquisa em direção de fotografia, o que dificultava a formação das mesas, e mesas dispersas em uma programação enorme não davam visibilidade à direção de fotografia como uma área possível para pesquisa.
    Em 2018, com o primeiro ano do ST Teorias e Análises da Direção de Fotografia, a rede anteriormente constituída se expandiu consideravelmente. Entre alguns desdobramentos dos encontros possibilitados pelo ST podemos citar: a criação de canais de comunicação que funcionam o ano todo; o lançamento na SOCINE de 2019 da coletânea “Cinematografia, expressão e pensamento”, em papel e formato digital; a aproximação de nosso ST com o ST “Cinema e Materialidades” no IX Encontro Anual da AIM (Santiago de Compostela, 2019).
    Sobre o livro “Cinematografia, expressão e pensamento” é fundamental destacar que se trata de uma obra absolutamente original no país e mesmo em nível mundial. A esmagadora maioria da produção bibliográfica em direção de fotografia consiste em manuais e em livros/revistas sobre filmes, com alguma presença de histórias da direção de fotografia (focadas quase sempre nos Estados Unidos) e obras sobre fotógrafos. Assim, sua contribuição para os campos da pesquisa e do ensino é indiscutível. E é provável que tal livro não existisse se não fosse o ST.
    Por fim, destacamos que as análises tão diversas encontradas em “Cinematografia, expressão e pensamento” refletem a proposta do ST Teorias e análises da direção de fotografia e o que almeja o ST nesta reproposição. A partir deste mapeamento, possível ao longo de seus 2 anos de existência, construímos a formulação apresentada este ano, que privilegia as obras audiovisuais, sem ignorar que elas estão inseridas em contextos específicos. Temos certeza, diante de nosso histórico, que a continuidade do ST será de grande importância para o avanço das pesquisas no caminho proposto.

Objetivo

    Dentre os objetivos específicos da reproposição do Seminário Temático dedicado a estudos sobre Direção de Fotografia está um primeiro: manter em funcionamento um espaço adequado ao desenvolvimento de pesquisas especificamente concentradas na direção de fotografia no cinema. Ao estabelecer tal meta, o ST acaba por vislumbrar a inserção de pesquisadores e pesquisadoras brasileiro(a)s num campo internacional de estudos, ainda em construção. Um terceiro objetivo específico seria também resultante dessa busca pelo estabelecimento de um campo de estudos, a partir do fato de que o ST propõe uma articulação entre investigadore(a)s que atuam isoladamente em diferentes lugares do Brasil. Assim, o ST almeja a aproximação entre esses profissionais no sentido de possibilitar uma troca mútua de contribuições no aprofundamento de trabalhos e análises em desenvolvimento. A reunião de pessoas com esse interesse em comum é planejada, por fim, no sentido de criar estratégias de divulgação científica.

Aspecto

    Direcionando a ênfase para as questões estéticas e plásticas pertinentes à direção de fotografia no cinema, a proposta do Seminário Temático aqui proposto dialoga com uma tradição científica que, se por um lado, já apresenta bases sólidas devido ao esforço de pesquisa até aqui realizado no/pelo campo cinematográfico, por outro carece de investigações estruturadoras de nortes teórico-metodológicos coerentes com as exigências analíticas específicas da direção de fotografia no cinema. A princípio, isto significa que, ao mesmo tempo, o Seminário dialoga com estudos já estabelecidos e dedicados à materialidade imagética, a partir de métodos como a análise fílmica, e também promovendo deslocamentos e adequações de instrumentos teórico-analíticos advindos de outras áreas, como a filosofia e a sociologia, por exemplo.
    A constituição da direção de fotografia enquanto campo de estudo tem exigido uma postura interdisciplinar diante da construção expressiva e criativa cinematográfica que, sabe-se, é coletiva. Isto certamente repercute no estabelecimento dos princípios teórico-metodológicos que acabam sendo mobilizados em suas diferentes facetas. Daí porque o Seminário Temático estar estruturado num arcabouço de teorias e métodos construídos em áreas como a direção, a montagem, a direção de arte, a dramaturgia, o roteiro, o som etc. Dedicado à estética e à plasticidade da direção de fotografia, a constituição do Seminário ainda respeita e repercute abordagens de natureza semiótica e semiológica, acompanhando o fluxo dinâmico do pensamento acerca da imagem e alcançando estratégias analíticas como as que são exploradas por uma antropologia da imagem.
    Ainda no que diz respeito ao embasamento da reflexão a respeito da plasticidade da direção de fotografia, não se pode deixar de lado a maneira como a conformação das imagens da cinematografia está associada a constructos imagéticos derivados de experiências como as das artes plásticas. Nesse sentido, num esforço de síntese de um vasto percurso científico até aqui construído, poderíamos identificar uma linha que poderia ir de Sergei Eisenstein a Jacques Aumont. Ambos, tendo dedicado estudos à imagem no cinema a partir de configurações metodológicas que respeitaram a pintura, nos servem como dois parâmetros distintos, possíveis e inspiradores enquanto modelos analíticos. Caberiam, neste intervalo que separa os dois pensadores, leituras tanto de pensadores como André Bazin e Hans Belting, quanto depoimentos, textos, entrevistas de diretoras e diretores de fotografia que têm gerado importante material a ser considerado do ponto de vista científico.
    Evidentemente que ao estabelecermos a ênfase na estética das imagens cinematográficas, também deverão compor o conjunto teórico-metodológico, abordagens que considerem os arranjos conceituais e sociais em torno da expressividade da direção de fotografia. Partiríamos, então, do entendimento de que a cinematografia tanto expressa uma forma de pensamento – abarcando conceitos evidenciáveis por esforços de pesquisa -, quanto sugere investigações que têm relação direta com o próprio modo de fazer e produzir tais imagens – o que abre margem para a busca sobre trajetórias e contextos sócio-políticos de realização. De uma perspectiva sócio-histórica seria possível então estabelecer uma outra linha teórico-metodológica pertinente ao Seminário, pois as trajetórias, com suas especificidades feitas de condições e/ou impedimentos, ocupam lugar de grande importância nesse conjunto de abordagens, já que tais arranjos sociais reverberam no que é plasmado na tela.
    Por fim, esse levantamento de fontes geradoras de interlocução reflexiva não poderia deixar de considerar os estudos dedicados à direção de fotografia, por meio de dissertações, teses e artigos que têm sido defendidas e publicadas no espaço acadêmico. São trabalhos resultantes de pesquisas dedicadas especificamente à direção de fotografia que concentram características analíticas originais e, ao mesmo tempo, pertinentes quanto ao modo como dialogam com estruturas teóricas clássicas do cinema. Sobre esse conjunto de estudos, merece destaque a forma como pesquisadoras e pesquisadores dessa área em constituição têm mobilizado as estratégias estéticas e plásticas da direção de fotografia a partir de ferramentas teórico-analíticas adequadas à cinematografia, especial e apropriadamente em respeito aos dois departamentos que constituem o fazer da direção de fotografia: câmera e luz.

Bibliografia

    ALEKAN, Henri. Des lumières et des ombres. Paris: Sycomore, 1984.

    ALMENDROS, Néstor. Días de una cámara. Barcelona: Seix Barral, 1980.

    AUMONT, Jacques. O olho interminável (cinema e pintura). São Paulo: Cosac & Naify, 2004.

    BAZIN, André. O que é o cinema? São Paulo: Cosac Naify, 2014.

    BELLOUR, Raymond. L’Entre-Images. Photo. Cinéma. Vidéo. Paris: La Différence, 1990.

    BELTING, Hans. Antropologia da imagem. Lisboa: KKYM, 2014.

    D’ALLONNES, Fabrice Revault. La luz en el cine. Madrid: Editora Cátedra, 2008.

    DYER, Richard. White. Florence, KY: Taylor & Francis Group, 1999.

    FAURE, Élie. De la cinéplastique. Édition électronique. 1922. Publicado originalmente em
    L’Arbre d’Éden.

    FREIRE, Miguel. O criador de imagens: a luz brasileira de Mario Carneiro. Curitiba: Kotter Editorial, 2018.

    KRASILOVSKY, Alexis; MARGOLIS, Harriet; STEIN, Julia. Shooting Women: behind the camera, around the world. Bristol (Inglaterra) / Chicago (Estados Unidos): Intellect: 2015.

    LIRA, Bertrand. Luz e sombra: significações imaginárias na fotografia do cinema expressionista alemão. João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.

    MALABOU, Catherine. Plasticité. Paris: Éditions Léo Scheer, 2000.

    OLIVEIRA, Rogério Luiz; TEDESCO, Marina Cavalcanti (Orgs.). Cinematografia, expressão e pensamento. Curitiba: Appris, 2019.

    SALT, Barry. Film style and technology: history and analysis. Starword: Londres, 2009.

Coordenadores

    Rogério Luiz Silva de Oliveira
    Cyntia Gomes Calhado
    Miguel Freire