Seminários Temáticos para o biênio 2017-2019

Montagem Audiovisual: reflexões e experiências

Resumo

    A obra audiovisual tem nos procedimentos de montagem sua essência. Buscamos, portanto, cartografar professores, pesquisadores e/ou realizadores (cineastas, videomakers, animadores, designers etc) interessados em debater técnica, tecnologia e criatividade empregadas na montagem: seu processo e resultado estético nas diferentes expressões audiovisuais.

    Da substituição por parada de ação à articulação espaço-temporal adicionam-se artifícios que estão além da horizontalidade do corte seco e das justaposições, como a verticalidade proposta pela fusão e sobreposição, pelas divisões de tela e grafismos, entre outros recursos de construção imagética e sonora.

    Na complexidade da techné audiovisual, a edição/montagem encontra-se cada dia mais presente nas obras de arte. Ou seja, para além dos determinismos tecnológicos, interessa-nos essas potencialidades estéticas geradas pelas distintas gestualidades de montagem – videográfica, cinematográfica etc – desde suas origens aos dias atuais.

Resumo expandido

    No cinema, a prática da montagem é tanto uma operação técnica como criativo-reflexiva. Walter Benjamin (2010), ao tratar das “novas mídias”, já havia formulado que tais obras de arte só existem através de intenções na montagem.
    Farocki (1995) pergunta-nos: “O que se passa na mesa de edição? É comparável isso a um experimento científico?” (Blümlinger, 2004). Ou seja, a montagem tem um duplo vínculo nos estudos audiovisuais, se diz respeito à prática, também é questão nas discussões teóricas. Não à toa o seu conceito é seminal para qualquer ensaísta ou pesquisador que venha a tratar do tema. Em permanência a pergunta gira em torno do que é a montagem. Trabalhos recentes retomam a mesma inquietação. Por exemplo, Chateau (2013) reconhece no trabalho de Koulechov uma verve teórico-metodológica que eleva a montagem da prática, do mero cutting, a um conceito e reside aí a indiscernibilidade da montagem. Albera (2010) busca traçar limites à montagem ancorados na epistemé do final do século XIX e início do XX, definindo as aplicações do conceito, as regras, variações e transformações, enquanto Pearlman (2013) critica o desenho da linguagem modelar eisensteiniana ao defender uma aproximação entre o ritmo audiovisual ao coreográfico.
    Com a chegada do digital, a chamada “pós-produção” acentuou a importância dos procedimentos de montagem que passam a responder também pela finalização se ocupando, por exemplo, do tratamento de cor aos efeitos visuais [VFx] – cada vez mais frequentes no audiovisual –, do motion graphics e da edição sonora.
    Nos aspectos formais da montagem, bastante conhecidos das teorias do cinema e largamente aplicados em distintas obras audiovisuais, encontramos desde o ritmo basilar na montagem (Eisenstein) às questões de construção espacial (Pudovkin) e temporal, entre a possibilidade de “esculpir o tempo” (Tarkovski) ou através dos “intervalos (as passagens de um movimento para o outro), e nunca os próprios movimentos, constituem o material (elementos da arte do movimento)” (Vertov). Das experimentações de autores a observações de críticos ou teóricos ao longo dos anos, certos mecanismos são reconhecidos até hoje como bases da montagem: de atrações a conceitual (Eisenstein), paralela ou alternada (Griffith), intervalo (Vertov), montagem proibida (Bazin) ou à distância (Pelechian) etc
    Quais os impactos destas combinações, dessas formas fílmicas? Conceituação, história e elementos da montagem, eis o princípio estético nas composições da imagem e som (Faucon,2013; Braha,2011; Amiel,2010; Nova,2009; Barbosa,2005; Manovich,2001; Sánchez-Biosca,1996; Wees,1993; entre outros). Associações que instauram ora uma relação mimética ora ensaística, provocada pela cognição e memória, ou ainda sensível ou sensorial (mobilizada pelas afecções).
    A montagem extrapola o dispositivo cinematográfico: primordial a todos os outros meios e processos de construção imagética e/ou sonora. Na TV, podemos citar inicialmente a contribuição de Machado (1988), para compreendermos que a origem da edição videográfica vem das práticas de transmissões ao vivo e, ainda, que a organização errática das imagens passa pela sobreposição de efeitos eletrônicos, originando um ritmo comumente atrelado ao gênero videoclipe.
    Nas artes visuais e digitais – entre soft cinema, found footage, i-doc, vídeo-remix, live cinema, cinema de banco-de-dados e de exposição –, podemos citar autores (Michaud,2014; Manovich,2013; Treske,2013; Bellour,2012; Dubois,2012; Didi-Huberman,2012; Seaman, 2009; Makela,2006; Basilico,2004; Youngblood,1970; entre outros) que apontam as gestualidades da montagem nas searas do cinema expandido, do filme-ensaio ou do vídeo interativo etc
    Almejamos que o seminário temático seja um espaço de compartilhamento e debate entre pesquisadores que têm como foco as potencialidades e a importância da montagem no(s) cinema(s). E que possamos, juntos, mergulhar nas complexas technés da edição/ montagem de imagens e sons entre o ontem, o hoje e o amanhã.

Bibliografia

    ALBERA, F; TORTAJADA, M. (org) Cinema Beyond Film. Amsterdam: AUP, 2010
    AMIEL, V. Estética da Montagem. Lisboa: Texto&Grafia, 2010
    BELLOUR, R. La querelle des dispositifs. Paris: POL, 2012
    BLÜMLINGER, C. Incisive Divides and Revolving Images. In: Elsaesser, T. (org) Harun Farocki. Amsterdam: AUP, 2004
    BRAHA, Y.; BYRNE, B. Creative Motion Graphic Titling. Oxford: Focal Press, 2011
    CHATEAU, D. L’invention du concept de montage. Paris: Amandier/Archimbaud, 2013
    FAUCON, T. Théorie du montage. Paris: Armand Colin, 2013
    _. Penser et experimenter le montage. Paris: PSN, 2009
    MAKELA, M. Live Cinema. 2006. 70f. (Dissertação). University of Art and Design, Helsinki
    MANOVICH, L. Software takes Command. NY: Bloomsbury, 2013
    MCCLEAN, T. Digital Storytelling. Cambridge: MIT, 2008
    NOVA, J. A dramaturgia da forma […] em Peter Greenaway. 2009. 200f. (Tese). ECA-USP, São Paulo
    PEARLMAN, K. Cutting Rhythms. Melbourne: Taylor&Francis, 2009
    TRESKE, A. The inner life of video spheres. Amsterdam: INC, 2013

Coordenadores

    Maria Dora Genis Mourão
    MILENA SZAFIR
    Elianne Ivo Barroso