Seminários Temáticos para o biênio 2017-2019

Estilo e som no audiovisual

Resumo

    Por seu caráter transversal e multidisciplinar, a noção de estilo pode ser o catalizador de pesquisas que unam teoria e prática, documentário e ficção, dissonância e harmonia, ruído e silêncio, escuta e tecnologia, e muito mais. A noção de estilo pode dar corpo a discussões sobre processos e abordagens diversos, incluindo sound design e composição musical, edição e mixagem, realismo e melodrama, processos criativos, técnicas de gravação e reprodução. A proposta de seminário tem como objetivo estimular as pesquisas sobre os usos do som no cinema a partir de múltiplas abordagens, desde que versem sobre questões de estilo e som no audiovisual, incluindo análise estilística do som, propósito e funções do estilo no som, expressividade do som através do contexto cultural e histórico da obra cinematográfica, expressividade dos diferentes elementos sonoros, e assim por diante.

Resumo expandido

    A pesquisa sobre o estilo no cinema tem ganhado, nas últimas duas décadas, espaço proeminente nos estudos do audiovisual, graças aos esforços de teóricos como David Bordwell, Barry Salt, Adrian Martin e outros. De fato, a Estilística ocupa lugar privilegiado em muitas disciplinas tradicionais, como as Letras e as Belas Artes, e só mais recentemente passou a encontrar espaço concreto dentro das pesquisas sobre cinema, televisão e produtos audiovisuais em geral.
    Parte da razão para este fenômeno vem do caráter escorregadio do termo. Antoine Compagnon (2010, p. 166), por exemplo, enxerga significados ambíguos em muitos usos da palavra. Dependendo do modo como é usado, o termo “estilo” pode significar a norma (modelo a ser imitado) ou um desvio da norma (variação formal que distingue um texto sofisticado de outro sem preocupações formais); pode significar ornamento (enfeite retórico) ou sintoma (grupo de características que permitem identificar o período histórico em que uma obra foi produzida). Dependendo do contexto em que for utilizado, “estilo” pode significar coisas distintas, até mesmo opostas. Mas, ao contrário de que se pode pensar, essa ambivalência conceitual pode ser estruturadora, na medida em que estimula a multiplicidade de abordagens possíveis para um mesmo tema.
    No cinema, os estudos de estilo têm estado vinculados tradicionalmente a pesquisas sobre ciclos de produção historicamente circunscritos, cineastas autorais e relações entre tecnologias e processos criativos. Na área dos estudos de som, a noção de estilo tem aparecido na obra de teóricos como Charles O’Brien e James Wierzbicki, com forte proeminência na análise da música para cinema. Esta abordagem, embora consistente, nos parece explorar apenas uma fração do rico potencial do conceito para estrutgurar pesquisas a partir de múltiplos referenciais teóricos e variadas abordagens metodológicas.
    Acreditamos que a noção de estilo pode, por seu caráter transversal e multidisciplinar, aproximar polos aparentemente distantes, ampliando seus pontos de contato. O estilo pode ser o catalizador de pesquisas que unam teoria e prática, documentário e ficção, dissonância e harmonia, ruído e silêncio, escuta e tecnologia, e muito mais. O estilo pode dar corpo a discussões sobre processos e abordagens diversos, incluindo sound design e composição musical, edição e mixagem, realismo e melodrama, processos criativos, técnicas de gravação e reprodução, e muito mais.
    Esta proposta de seminário, portanto, tem como objetivo central estimular as pesquisas sobre os usos do som no cinema, acentuando sua dimensão diacrônica tanto em sua face histórica quanto em sua abrangência teórica, a partir de um referencial estável que incentive múltiplas abordagens conceituais e metodológicas. Para tanto, interessam-nos trabalhos com abordagens teóricas e/ou práticas, que versem sobre questões de estilo e som no audiovisual, tais quais: análise estilística do som, propósito e funções do estilo no som cinematográfico, expressividade e estilo do som através do contexto cultural e histórico da obra cinematográfica, resultados históricos da utilização e replicação de estilos sonoros, expressividade dos diferentes elementos sonoros, bem como escritos que trabalhem com as temáticas de estilo sonoro, propondo diálogos em interface com outras áreas de estudo.

Bibliografia

    BROWN, Royal. Overtones and undertones: reading film music. Berkeley: University of California Press, 1994.

    BUHLER, James; NEUMEYER, David; DEEMER, Rob. Hearing the movies: music and sound in film history. New York: Oxford University Press, 2010.

    CARREIRO, Rodrigo; ALVIM, Luíza. “Uma questão de método: notas sobre a análise de som e música no cinema”. Matrizes (USP), v. 10, n. 2, São Paulo, p. 175-193, 2016.

    CHION, Michel. A audiovisão. Lisboa: Texto & Grafia, 2011.

    COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2010.

    JAECKLE, Jeff (org.). Film Dialogue. London: Wallflower Press, 2013.

    KERINS, Mark. Beyond Dolby (Digital): cinema in the digital sound age. Bloomington: Indiana University Press, 2010.

    O’BRIEN, Charles. Cinema’s Conversion To Sound: Technology And Film Style In France And The US. Bloomington: Indiana University Press, 2005.

    WIERZBICKI, James. Music, Sound and Filmmakers: Sonic Style in Cinema. London: Routledge, 2012.

Coordenadores

    Rodrigo Carreiro
    Filipe Barros Beltrão
    debora regina opolski