Seminários Temáticos para o biênio 2017-2019

Cinema e Educação

Resumo

    Esta proposta emerge do crescimento da interface do cinema com vários campos da educação e do engajamento dessa área na realização audiovisual, bem como, a partir da lei 13006/14, que obriga as escolas de educação básica a projetar no mínimo duas horas de cinema nacional por mês, intensificando ainda mais a necessária sistematização de diálogos e problematizações sobre modos de entrada do cinema na escola. Desde 2016, este Seminário vem sendo um espaço de convergência dessas discussões.

Resumo expandido

    Este seminário emerge do crescimento da interface do cinema com vários campos da educação que hoje se engajam na realização audiovisual, nos estudos do cinema e suas relações com esses universos. Esse engajamento tem se traduzido em participação cada vez maior de trabalhos sobre estas diferentes temáticas nas reuniões da SOCINE. Entre esses grupos estão estudantes de educação básica, indígenas, trabalhadores do campo, comunidades quilombolas, usuários de espaços da educação não-formal, de instituições ligadas à saúde pública e de centros culturais. Desde 2016, o Seminário Temático de Cinema e Educação tem sido um espaço de convergência dessas discussões.

    Historicamente, encontramos no Brasil três publicações sobre cinema e educação já em 1930, um longo período de forte investimento da política nacional durante os anos do INCE Instituto Nacional de Cinema e Educação que mais recentemente se refletem em diversas experiências de projetos de ensino, pesquisa e extensão de universidades em quase todos os estados do pais. Atualmente, a lei 13006/14, que obriga as escolas de educação básica a projetar no mínimo duas horas de cinema nacional por mês, torna hoje ainda mais necessária a sistematização de diálogos e problematizações sobre esta entrada do cinema na escola. Com a lei é necessário pensar crítica e criativamente modos de relação, conteúdos e especialmente metodologias. Curiosa e paradoxalmente, estamos em tempos de definição da Base Nacional Comum Curricular, onde a área de arte não inclui o cinema como linguagem específica. Essa contradição torna mais urgente a inclusão deste Seminário no principal evento de pesquisa e pós-graduação em cinema.

    Entendemos aqui o cinema e a educação em sentido amplo. Assim como a educação não se limita à escola, o cinema não está restrito à sala escura nem à sessão paga, ele transita alterando os modos habituais de ser espectador, transformando a ambiência e as relações do espaço aonde chega. O dispositivo cinema entra na escola alterando suas rotinas de espaço-tempo, a perturba e desestabiliza, transformando todos em espectadores, e produzindo significativos deslocamentos na espectatorialidade. Quebra, como uma exceção, um lugar historicamente concedido à formação das regras. Ao longo dos últimos anos esse Seminário vem reunindo trabalhos que permitem pensar de que maneiras esse cinema atravessa processos subjetivos, convocando sempre um gesto ético e político a cada exibição de filmes ou produção de imagens.

    Hoje, com o maior acesso a dispositivos móveis de comunicação e funções audiovisuais, todos somos potenciais produtores de imagens. Movimentos e manifestações da comunidade nas ruas, festas, viagens, momentos são registrados permanentemente e compartilhados nas redes sociais. Nos perguntamos se é preciso aprender algo sobre o que já se sabe amadoramente. Que processos de ensino-aprendizagem é preciso pensar e promover para quem já filma e que novos desafios isto traz para a educação.

    A educação, também pensada em um sentido amplo, para além dos muros das escolas e instituições formais de ensino, se apresenta para nós como uma experiência fundamentalmente de igualdade entre os sujeitos, suas inteligências e potencias de aprendizagem, tal como a experiência do cinema. Acreditamos, seguindo a Rancière, que todos os sujeitos podem aprender como aprendem sua língua materna e comunicar seus aprendizados traduzindo suas próprias experiências como aventuras intelectuais e sensíveis no mundo. O mestre ou professor participa ativamente também, ignorando a distância entre seu conhecimento e o conhecimento de quem aprende. Basta a ele orientar a atenção do aprendiz e fazer boas escolhas de “terceiras coisas” (livros, filmes, experiências) que permitam a quem aprende faze-lo de um modo próprio, autônomo. Quando a educação aposta numa pedagogia emancipadora, não apenas está fugindo de uma pedagogia embrutecedora, mas se coloca um desafio criativo que atravessa princípios e metodologias permanentemente.

Bibliografia

    RANCIÈRE, J. O espectador emancipado. Editora Martins, São Paulo 2012.
    RANCIÈRE, J. As distâncias do cinema. Editora Contraponto, Rio de Janeiro 2012.
    FRESQUET, A (org) Cinema e Educação: A lei 13006. Universo Produções.
    PARENTE, André. A forma-cinema: variações e rupturas. Em: MACIEL, Katia. (Ors.) Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2009.

Coordenadores

    César Donizetti Pereira Leite
    Fernanda Omelczuk Walter
    Luiz Augusto Coimbra de Rezende Filho