Seminários Temáticos para o biênio 2009-2011

Título: Cinema, estética e política: a resistência e os atos de criação

Resumo

    O que nos move são algumas perguntas fundamentais: O que seria um cinema político hoje? Quais poderes os filmes enfrentam? Com quais procedimentos expressivos trabalham? Essas perguntas e inquietações se desdobram em questões contemporâneas, das quais a produção audiovisual não está separada e, pelo contrário, é parte decisiva, por exemplo: como falar em resistência em um ambiente pós-disciplinar? Como pensar o cinema político em um momento em que é a própria discussão sobre a existência ou não da política na relação dos espectadores com as obras que está em jogo? Entre o “nada é político” e o “tudo é político”, como o audiovisual participa dessas experiências? Existiria um fora desse poder?

    Uma questão decisiva que surgiu no decorrer dos debates suscitados pelas diferentes apresentações abrigadas pelo seminário foi de natureza metodológica. Em mais de uma intervenção veio à tona a necessidade de se discutir as modalidades de passagem e de mediação entre o domínio dos conceitos criados pelos autores tomados como referência e a análise da escritura singular dos filmes. Como é, por exemplo, que a dimensão da biopolítica se manifesta na forma e nos procedimentos expressivos dos filmes? Tomando-se o cinismo – como quer Vladimir Safatle – como categoria normativa hegemônica no capitalismo contemporâneo, poderíamos falar de uma montagem cínica, presente em certos filmes? Como é que o filme, com seus elementos específicos, opera , ele mesmo, uma “partilha do sensível”? Tais indagações merecerão uma atenção especial no seminário deste ano.

    A idéia da resistência tem sido apropriada por diferentes discursos em torno da arte e, mais especificamente, do cinema, tendo em vista uma crítica aos poderes do espetáculo ou às estratégias de controle da biopolítica. Resistir se torna o lugar de uma oposição, a noção operadora de uma dualidade e de um enfrentamento (de forças, formas e idéias): de um lado, o poder; de outro, aqueles (os sujeitos) ou aquilo (as obras) que resistem a ele. O risco é sempre o de reduzir a complexidade da noção a uma relação dual e, no limite, a uma palavra de ordem (“Precisamos resistir a isso ou àquilo”). Até que ponto a resistência implica apontar um objeto ao qual se resiste? Ainda, a resistência seria um meio ou um fim em si?

    Diante desse risco, temos, ao menos, duas opções: podemos abandonar a noção de resistência e escolher outra, ou podemos persistir em sua pertinência, desvendando suas múltiplas dimensões e recusando sua utilização por demais imediata e não problematizadora. Como pensar uma resistência que não é apenas uma negação, um outro do lado daquilo que oprime, explora e desubjetiva, mas como o que é positividade, invenção, criação?

Coordenadores

    Cezar Migliorin
    Cláudia Cardoso Mesquita
    César Geraldo Guimarães