Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Adriano Carvalho Araújo e Sousa (PUCSP)

Minicurrículo

    Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é autor de Poética de Júlio Bressane: Cinema(s) da Transcriação (EDUC / FAPESP: 2015) em que discute a filmografia do cineasta tomando como embasamento teórico o conceito elaborado por Haroldo de Campos. Concluiu pesquisa de pós-doutorado sobre Fausto no cinema e na animação, junto ao Programa de Educação, Arte e História da Cultura do Mackenzie-SP.

Ficha do Trabalho

Título

    Cleópatra de Júlio Bressane: A Voz, o Incarnado

Resumo

    Proponho analisar trechos de Cleópatra, pensando o filme como a tradução de um argumento da literatura, em vez de um texto específico. Dois momentos – o ápice intelectual vivenciado com César e o abismo dionisíaco ao lado de Marco Antonio – levam à composição de uma iconografia pictórica e cinematográfica. O plano fixo e a profundidade de campo ajudam a dar o tom e o ritmo. A voz dos atores e a luz da fotografia levam imediatamente a pensar o cômico, mas também o gesto, o incarnado em pintura.

Resumo expandido

    Proponho analisar de que maneira o cinema interage com literatura e pintura no projeto maior de tradução em Cleópatra (2006) de Júlio Bressane. Pretende-se utilizar a noção de argumento da literatura (Frenzel: 1976) para perguntar que tipo de perspectiva do cinema como envolvimento com outros sistemas de signos e cartografias da cultura se desenvolve nesse filme.
    Para problematizar encontros e interações de sistemas de signos, a análise tem como ponto de partida as contribuições teóricas de Haroldo de Campos quanto ao processo de tradução entendido como transcriação (Campos: 1992), bem como o aporte de Henri Meschonnic (2010), com sua ideia de uma poética do traduzir. Assim, o longa-metragem põe em foco uma série de imagens da rainha do Egito no cinema e na cultura. Utiliza-se de procedimentos imagéticos e textuais que transpõem a figura de Cleópatra como um tema reproduzido e recriado em séries culturais, não um texto específico, mas um argumento da literatura.
    O próprio Júlio Bressane refere-se em depoimentos que se trata de uma versão trágica e lírica em português, idioma no qual o argumento é pouco referido (CLEÓPATRA: 2008). Nesta análise proponho pensar o filme a partir de dois momentos: o ápice intelectual vivenciado com César; e o abismo dionisíaco ao lado de Marco Antonio. Desses dois momentos, decorre a composição de uma iconografia pictórica e cinematográfica.
    Por outro lado, é o próprio entendimento de Bressane quanto ao cinema como algo inexplorado que a operação da linguagem ressalta. O primeiríssimo plano de tecidos surge com uma imagem desencontrada do áudio. O plano fixo e a profundidade de campo ajudam a dar o tom e o ritmo, ao mesmo tempo, oferecem uma diagonalização paródica dos atores.
    A voz dos atores e a luz da fotografia levam imediatamente a pensar o cômico, mas também o gesto, o incarnado em pintura (Didi-Huberman: 2012). O aspecto cômico reverbera imagens de cinema que vão de intérpretes como Theda Bara (1917) até Elisabeth Taylor (1963). O gesto das pinturas e a plasticidade dos tecidos ajudam a compor a visualidade do filme.

Bibliografia

    BRESSANE, Júlio. Fotodrama. Rio de Janeiro: Imago, 2005.
    CAMPOS, Haroldo de. Metalinguagem e Outras Metas. 4ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
    CLEÓPATRA: Uma produção Grupo Novo de Cinema e TV. Rio de Janeiro, maio 2008.
    DIDI-HUBERMAN, Gerges. La peinture incarnée. Paris: Minuit, 2012.
    FRENZEL, Elizabeth. Diccionario de Argumentos de Literatura. Madrid: Gredos, 1976.
    MESCHONNIC, Henri. Poética do Traduzir. Trad. Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Perspectiva, 2010.