Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    ANNA KARINNE MARTINS BALLALAI (USP)

Minicurrículo

    Anna Karinne Ballalai é atriz, pesquisadora e cineasta. Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais – ECA/USP. Formada em Cinema – UFF. Mestre em Psicologia Social – UERJ, com a dissertação “O ator-em-ato: a dialética ator/personagem em Copacabana Mon Amour”, CNPq. Roteirista, atriz e produtora dos longas-metragens “Um homem e seu pecado” e “Nenhuma fórmula para a contemporânea visão do mundo”. Pesquisadora e documentalista dos arquivos Glauber Rocha (2006-2011) e Rogério Sganzerla (2009-2013).

Ficha do Trabalho

Título

    O PENSAMENTO DE ROGÉRIO SGANZERLA SOBRE O ATOR CINEMATOGRÁFICO

Seminário

    Cinema e América Latina: debates estético-historiográficos e culturais

Resumo

    Este trabalho investiga um aspecto pouco abordado acerca da produção do jovem crítico Rogério Sganzerla nos anos 1960: sua preocupação em pensar o trabalho do ator no âmbito do cinema moderno. A hipótese é a de que podemos verificar no pensamento sganzerliano sobre o ator e a personagem cinematográfica a elaboração de um projeto – no sentido sartriano – de cinema moderno, o qual seria concretizado na realização fílmica, e implicaria em repensar a encenação e o papel do diretor cinematográfico.

Resumo expandido

    Em 1964, o jovem Rogério Sganzerla (1946-2004) inicia sua carreira como crítico de cinema no Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo. Em sua produção crítica é nítida a militância em favor do cinema moderno. A análise da documentação de seu arquivo pessoal evidencia que a investigação acerca do cinema moderno é uma preocupação permanente em Sganzerla, ao longo de sua vida. Conforme argumentei em minha dissertação de mestrado “O ator-em-ato: a dialética ator/personagem em Copacabana mon amour”, e em alguns artigos e apresentações em congressos e demais eventos acadêmicos, tal “investigação e defesa do cinema moderno” pode ser considerada como um aspecto estruturante de seu pensamento e de grande parte de sua obra crítica/fílmica.
    Na referida dissertação atentei para o fato de que embora a questão do cinema moderno persistisse quase que de forma obsessiva no pensamento sganzerliano, as noções de cinema moderno por ele utilizadas sofreram mutações sutis, de modo que podem ser perceptíveis transformações na análise do discurso do cineasta ao longo dos anos. A persistência de tal idéia no universo de suas preocupações, no entanto, indica que algo teria subsistido a despeito das transformações históricas. Este algo me parece ser justamente um “ideal de cinema moderno” em estado latente, que Sganzerla persegue com o olhar crítico nas obras que analisa, mas que já concebe enquanto potência de criação de um cinema que viria a realizar num futuro próximo. É amplamente conhecida a afirmação do crítico/cineasta quanto a não distinguir o ato de filmar do de escrever. Ou ainda, afirmações de que fazia cinema com a máquina de escrever. Estas afirmações se comprovam com facilidade se examinamos seus roteiros. Extremamente ricos em detalhes, é possível na leitura dos mesmos ver o filme e sentir inclusive o ritmo da montagem.
    No presente trabalho, retomo algumas destas questões com a finalidade de aprofundar a discussão num aspecto ainda pouco analisado desta primeira fase da atividade crítica de Sganzerla, de 1964 até 1967. A saber, a preocupação do jovem crítico em pensar o ator e a personagem cinematográfica no âmbito do cinema moderno. A hipótese é a de que podemos verificar no pensamento sganzerliano sobre o ator e a personagem cinematográfica a elaboração de um projeto – no sentido sartriano – de cinema moderno, o qual seria concretizado na realização fílmica, e implicaria em repensar a dinâmica da encenação e o próprio papel do diretor cinematográfico nas filmagens. A hipótese secundária é que este projeto sganzerliano de cinema moderno tanto mais se afasta da ideologia de cinema de autor quanto mais se radicaliza em termos de uma aposta decisiva no trabalho do ator e na produção de baixo orçamento. Por isto, defendo que tal projeto teria encontrado o seu ápice na experiência de criação coletiva levada a cabo pela Belair Filmes, e ressalto a sintomática assinatura de Sganzerla como “abacaxi-man”, em “Copacabana mon amour” (1970). Após a Belair, uma crise e esgotamento o levariam buscar novas formas de invenção.
    A metodologia adotada consiste em análise fílmica, análise do discurso e análise comparada. O objetivo é comparar estratégias de encenação empreendidas por Sganzerla com atores e equipe em “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), “A mulher de todos” (1969), e nos filmes realizados na experiência da Belair em 1970: “Copacabana mon amour”, “Sem essa Aranha” e em trechos restantes de “Carnaval na lama”. Por fim, cotejar estas estratégias de encenação ao pensamento sobre o ator e sobre a personagem cinematográfica desenvolvidos por Sganzerla na crítica jornalística.
    É preciso ressaltar que neste projeto pessoal de cinema moderno e nesta aposta radical no trabalho do ator encontra-se uma figura fundamental: a atriz e produtora Helena Ignez, parceria na vida e criação; profissional de inconteste talento, formação, versatilidade, coragem, perspicácia, desenvoltura e exuberância. Helena: corpo mais alma, mens sana in corpore sano.

Bibliografia

    BALLALAI, Anna Karinne. O ator-em-ato: a dialética ator/personagem em Copacabana mon amour. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: PPGPS. UERJ, 2014.
    ______. “El actor-en-acto: la dialéctica ‘actor/personaje’ en la película Copacabana mon amour de Rogério Sganzerla”. In: VILLARROEL, Mónica [org]. Memorias e representaciones en el cine chileno y latinoamericano. Santiago: LOM Ediciones, 2016.
    BAZIN, André et al. A política dos autores. Lisboa: Assírio & Alvim, 1976.
    BERNARDET, Jean-Claude. O autor no cinema: a política dos autores, França, Brasil, anos 50 e 60. São Paulo: Brasiliense, 1994.
    CÂNDIDO, Antonio et al. A personagem de ficção. Perspectiva: São Paulo, 1976.
    SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada. Ensaio de ontologia fenomenológica. Petrópolis: Vozes, 2007.
    SGANZERLA, Rogério. Edifício Rogério. Textos críticos 1 e 2. LIMA, R. de e MEDEIROS, S. L. R. [org.]. Florianópolis:UFSC.São Paulo: Instituto Itaú Cultural, 2010.
    ______. Por um cinema sem limite. Rio de Janeiro: Azougue, 2001.