Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Érico Oliveira de Araújo Lima (UFF)

Minicurrículo

    Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (Linha de Estudos do Cinema e do Audiovisual), em regime de co-tutela com a Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (Linha de Fotografia e Audiovisual).

Ficha do Trabalho

Título

    A cena, o comum e o tempo dos trabalhadores: figuras do proletário

Seminário

    O comum e o cinema

Resumo

    Buscamos aqui considerar um retorno mais acentuado da figura do proletário para a cena fílmica do cinema brasileiro contemporâneo. Tomaremos em cotejo os seguintes filmes: “Dias de Greve” (2009), de Adirley Queirós, “O trabalho enobrece o homem” (2013) e “Ruim é ter que trabalhar” (2014), ambos de Lincoln Péricles. Trata-se aqui de considerar esses trabalhos inseridos em algumas viragens da história do cinema e também de indagar, com eles, sobre o próprio conceito de proletário e de política.

Resumo expandido

    Nesta comunicação, pretendemos cotejar três filmes a partir de uma visada em torno das relações de trabalho e dos modos de figurar o operário na cena fílmica. São os curtas-metragens: “Dias de Greve” (2009), de Adirley Queirós, “O trabalho enobrece o homem” (2013) e “Ruim é ter que trabalhar” (2014), ambos de Lincoln Péricles.

    Num primeiro momento, interessa-nos tomar aqui esses filmes numa inserção histórica junto às viragens de abordagem no seio do próprio cinema brasileiro. Por diversas maneiras, o cinema brasileiro contemporâneo parece retomar questões macro-históricas e apontar para trânsitos entre as experiências singulares e as questões coletivas das nossas sociedades. Ilana Feldman (2012) já tratou de uma espécie de “singularidade de classe”, para considerar os modos pelos quais alguns filmes têm recuperado a questão da classe social, fundamental no documentário moderno, junto à reposição da singularidade, constitutiva da produção contemporânea. Em torno das relações de classe, Mariana Souto (2016) sugere a perspectiva de uma reviravolta coletiva, que compreende uma articulação, nos filmes, de certos liames complexos entre o individual e o coletivo. Poderíamos mencionar ainda as caracterizações de Bernardet (2003) a respeito do que chamou de “modelo sociológico” em filmes como Viramundo (Geraldo Sarno, 1965), em que o crítico apontava para a elaboração de teses mais gerais a respeito da sociedade – e será importante também revisitar os próprios filmes, para reposicionar algumas dessas considerações.

    Ao tomarmos aqui os curtas de Queirós e Péricles, queremos enfrentar a questão de uma espécie de retorno mais acentuado da categoria histórica, política e social do proletariado na cena fílmica. Esse retorno é indissociável dessas relações estreitas com as singularidades e com a observação dos tempos inscritos nas circulações desses sujeitos sociais pela cidade. E aqui apontamos para o segundo momento da nossa comunicação, que deverá conjugar a análise detida dos filmes e uma discussão teórica que nos ajuda a costurar o pensamento junto a eles. Estamos interessados em recuperar, nas teorias políticas de Jacques Rancière, as formulações relativas ao lazer sensível dos operários, que foi base fundamental da sua pesquisa histórica intitulada “A noite dos proletários”. Essa pesquisa ecoa em vários outros textos do filósofo, sempre retomada para considerar, sobretudo, certa dimensão do tempo que se atribui a cada um nas distribuições dos lugares de uma comunidade. “A instituição da política é a instituição da luta de classes”, dirá Rancière, em “O desentendimento” (1996, p.32).

    Nos trabalhos dos realizadores, a experiência histórica e de classe dos personagens são aspectos fundamentais para elaborar um pensamento em torno dos modos de gestão das atribuições e dos tempos dos sujeitos na comunidade. Os fragmentos da vida da personagem de “O trabalho enobrece o homem” transitam entre os aprendizados no ambiente de trabalho, as orientações sobre um modo de fazer e as práticas subjetivas e íntimas da trabalhadora, na sua relação cotidiana com cada uma dessas ocupações. Em “Ruim é ter que trabalhar”, a escritura abriga fotografias feitas pelo próprio personagem em seu trabalho nas obras da Copa do Mundo, mostrando, como que de dentro, alguns mecanismos de uma máquina reguladora das vidas coletivas. Alternando essas imagens com a fala do operário e com as filmagens feitas pelo realizador, o curta costura uma meditação a respeito das relações de trabalho em nossa experiência do presente, marcada ainda pelas necessidades de longos deslocamentos na cidade. Finalmente, em “Dias de Greve”, testemunhamos os impasses coletivos e subjetivos diante do curso de uma greve de metalúrgicos na Ceilândia. Aqui a ficção é empregada para articular, num mesmo plano de relações, as urgências coletivas – negociações internas entre os trabalhadores e embates junto ao patrão – e os momentos de tempo livre.

Bibliografia

    BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Companhia das
    Letras, 2003.

    FELDMAN, Ilana. Um filme de: dinâmicas de inclusão do olhar do outro. In: Revista
    Devires: Cinema e Humanidades. Belo Horizonte, V. 9, N. 1, p. 50-65, jan-jun, 2012.

    RANCIÈRE, Jacques. A noite dos proletários: arquivos do sonho operário. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

    ______________________. O desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Ed. 34, 1996.

    SOUTO, Mariana. Infiltrados e Invasores: Uma perspectiva comparada sobre as relações de classe no cinema brasileiro contemporâneo. Tese de Doutorado. Belo Horizonte, UFMG, 2016.