Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    José Francisco Serafim (UFBA)

Minicurrículo

    Professor na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Pesquisador do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas/UFBa. Doutor pela Universidade Paris Ouest Nanterre (França). Pós-doutorado na Universidade Aberta de Lisboa e na Filmuniversität Babelsberg Konrad Wolf (Potsdam/Alemanha). Autor de livros e artigos sobre cinema documentário. Realizador de filmes documentários.

Ficha do Trabalho

Título

    Autoria e autobiografia na obra documental de Chantal Akerman

Resumo

    Esta comunicação tem por objetivo trazer uma reflexão sobre o cinema documental autobiográfico da cineasta belga Chantal Akerman. O documentário autobiográfico e ensaístico é um subgênero que conta na atualidade com uma ampla produção e com um grande número de filmes. Nosso objetivo é refletir sobre esta questão através da análise das estratégias utilizadas por Akerman para a realização de seus documentários autobiográficos, em especial nas obras Letters from Home (1977) e No home movie (2015).

Resumo expandido

    A diretora belga Chantal Akerman faleceu em 2015, mas deixa uma obra das mais instigantes para se refletir, sobretudo, sobre o cinema autoral, ensaístico e (auto)biográfico. Sua obra extrapola fronteiras tanto nacionais quanto no que tange aos gêneros fílmicos. Akerman deixou uma vasta obra composta de quase cinqüenta filmes nos quais trouxe suas inquietações face ao mundo em que vivemos. Se algumas das ficções da cineasta se aproximam de um cinema mais clássico, sua obra documental tem propostas estéticas diametralmente opostas, podendo por vezes ser considerada radical. Questões vinculadas ao cinema na primeira pessoa, ou autobiográfico, estão presentes em muitos fóruns de debate e tem mostrado ser um terreno fértil igualmente na realização de filmes documentários. Importante salientar que muitos documentários abordando questões íntimas e pessoais do cineasta são mostradas por vezes de forma impudica. C. Akerman, diferentemente de apresentar um olhar voyeurístico em seus documentários, nos apresenta uma obra pessoal, ensaística e autobiográfica, sobretudo em três documentários que colocaram frontalmente a presença da cineasta nos filmes: Letters from home (1977), Chantal Akerman par Chantal Akerman (1997) e No home movie (2015). Esta comunicação visa se debruçar sobre os filmes Letters from home e No home movie, por se tratar de duas obras realizadas com um grande intervalo de tempo entre elas, e por trazerem questões estético-formais bastante diferenciadas. No filme realizado em Nova Iorque, Letters from home, conheceremos a cineasta através de cartas escritas pela mãe e lidas pela cineasta enquanto transita pelas ruas da cidade. Em nenhum plano a realizadora nos será apresentada, ouviremos somente sua voz. Já no ultimo filme da realizadora, No home movie, veremos a cineasta em quase toda a duração do filme, trata-se de filmar a relação da diretora com sua mãe, já doente e que havia falecido em 2014. Esta comunicação tem por proposta dialogar com duas obras realizadas com quase vinte anos de diferença, mas que apresentam similitudes, a começar pela equipe extremamente reduzida, composta unicamente pela diretora, que filma no primeiro caso as ruas da cidade onde vive, Nova York e no segundo registra momentos vividos na casa de sua mãe como também em suas estadias nos Estados Unidos, quando nos é apresentada dialogando através do dispositivo Skype com sua mãe que ficou na Bélgica. Outro elemento unificador entre os dois filmes é a presença da mãe da diretora. Trata-se de filmes realizados de forma quase confidencial com um viés autoral e certamente ensaístico, trazendo elementos de sua vida e da relação que estabelece com sua mãe. O cinema documental autobiográfico e ensaístico está na atualidade, sobretudo a partir dos anos 1960, sendo um subgênero que conta com uma ampla produção observada através do grande número de filmes que são realizados anualmente em todo o mundo. Nosso objetivo é o de refletir sobre esta questão através da análise das estratégias e dos dispositivos utilizados por C. Akerman para a realização de seus documentários autobiográficos, em especial nas obras autobiográficas Letters from Home e No home movie.

Bibliografia

    AKERMAN, C. Autoportrait en cinéaste. Paris: Cahiers du Cinéma, 2004.
    AUSTIN, T. & JONG, W. de (Editor), Rethinking Documentary. New Perspectives, New Practices. Berkshire: Open University Press, 2008.
    BEAUVAIS, Y. & BOUHOURS, J-M. “Le je à la caméra”, In Beauvais, Yann e Bouhours, Jean-Michel (orgs.) Le je filmé. Paris: Ed. du Centre Georges Pompidou, 1995.
    CORRIGAN, T. The essay film: from Montaigne after Marker. New York: Oxford University Press, 2011.
    LEBOW, A. (Ed.).The Cinema of Me.The Self and Subjectivity in First Person Documentary.New York: Wallflower Press, 2012.
    LEJEUNE, P. Le Pacte autobiographique, Paris : Seuil, 1975.
    RASCAROLI, L., The personal camera. Subjective cinema and the essay film, London, Wallflower Press, 2009.
    TEIXEIRA, F. (org.). O Ensaio No Cinema. Formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea. São Paulo: HUCITEC, 2015.