Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Noel dos Santos Carvalho (UNICAMP)

Minicurrículo

    Professor de cinema no Departamento de Multimeios, Mídia e Comunicação – UNICAMP e no Programa de Pós-Graduação em Multimeios. Suas pesquisas concentram-se nas áreas de sociologia do audiovisual e representação racial no cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    Odilon Lopez, um pioneiro do cinema negro brasileiro

Resumo

    Esta comunicação explora a trajetória do cineasta Odilon Lopez. Inicialmente faz uma breve contextualização sobre a centralidade do afro-brasileiro no cinema brasileiro com a eclosão do Cinema Novo e o despontar dos primeiros realizadores negros. Em seguida descreve o percurso cinematográfico de Odilon Lopez na televisão até a realização do seu filme Um é pouco, dois é bom em 1970.

Resumo expandido

    Odilon Albertinence Lopez nasceu em Minas Gerais em 1941. Mudou-se ainda jovem para o Rio de Janeiro em 1958. Com apenas 17 anos iniciou os primeiros trabalhos profissionais no cinema. Em 1959 viajou ao Rio Grande do Sul para trabalhar como cinegrafista na empresa Brás Filme. Como ele, muitos técnicos e artistas chegavam à Porto Alegre para trabalhar no então aquecido mercado de televisão. Em 1961 ingressou como ator e Repórter Cinematográfico na TV Piratini onde cobriu a Campanha da Legalidade, quando setores militares tentaram impedir a posse de João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros. Em 1962 foi trabalhar para a recém fundada TV Gaúcha, atual RBS. Na nova emissora filmou os eventos finais do Golpe Militar de 1964, em Porto Alegre.
    Odilon Lopez especializou-se em reportagens e documentários para a televisão, alguns deles foram premiados pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI). Fez cursos na Europa, primeiramente em Glasgow, e depois na Alemanha. Em 1967 viajou para a Bolívia acompanhado do também jornalista Carlos Alberto Kolecza para uma série de reportagens sobre a guerrilha no país. A dupla fez a cobertura do julgamento do guerrilheiro Regis Debray que havia lutado ao lado de Che Guevara.
    Simultaneamente à carreira de jornalista, trabalhou como ator em peças e filmes. Nos anos 1960 dirigiu o seu primeiro filme, o curta-metragem, Um dia de chuva. Em 1982 realizou Jamboree, apresentado no Festival de Gramado do mesmo ano. Em 1970 fundou a produtora Super Filmes e iniciou os preparos para a produção do seu único filme ficcional de longa-metragem: Um é pouco, dois é bom. Para o qual escreveu o argumento e o escritor Luiz Fernando Veríssimo os diálogos.
    O filme é um longa metragem constituído por dois episódios intitulados: “Com um pouquinho de sorte” e “Vida nova por acaso”. Cada um tem duração de pouco mais de 48 minutos.
    A trajetória artística de Odilon é semelhante à dos atores e cineastas negros da sua geração. Nela se combinam migração das antigas áreas de plantation para zonas urbanas em busca de novas oportunidades de trabalho, certa desagregação familiar, vida escolar descontínua, autodidatismo, subemprego, trabalho precoce em novas frentes de trabalho e em campos pouco profissionalizados – como o audiovisual, por exemplo.
    Lopez viveu a infância e juventude em uma sociedade em acelerada transformação, na qual traços rurais e tradicionais de passado escravista sobreviviam ao lado da modernidade urbana e industrial em formação. Este resíduo estrutural do passado foi exatamente o ônus e bônus do filme quando lemos sobre sua recepção crítica no período.
    Minha comunicação explora a trajetória de Odilon Lopez e as prováveis correspondências com Um é pouco, dois é bom. Ela se alinha às crescentes investigações que abordam o audiovisual da perspectiva da identidade étnica. Destaco os trabalhos de Pedro Lapera, Do preto-e-branco ao colorido: raça e etnicidade no cinema brasileiro dos anos 1950-70, tese de doutorado defendida na Universidade Federal Fluminense; Edileuza Penha de Souza, Cinema na panela de barro: mulheres negras, narrativas de amor, afeto e identidade, tese de doutorado defendida na Universidade de Brasília; Carolinne Mendes da Silva, O negro no cinema brasileiro: uma analise fílmica de Rio, zona norte (Nelson Pereira dos Santos, 1957) e A grande cidade (Carlos Diegues, 1966), dissertação de mestrado defendida na Universidade de São Paulo; Luis Felipe Kojima Hirano, Uma interpretação do cinema brasileiro através de Grande Otelo: raça, corpo e gênero em sua performance cinematográfica (1917–1993), tese defendida na Universidade de São Paulo; Renata Melo Barbosa do Nascimento, Rio 40 graus: representações das mulheres negras no filme de Nelson Pereira dos Santos (1955), dissertação de mestrado defendida na Universidade de Brasília, entre outros.

Bibliografia

    BECKER, T. O cinema Gaúcho – uma breve história. Porto Alegre, Ed. Movimento, 1986.
    BECKER, T. (Org.). Cadernos de cinema de P.F. Gastal. Porto Alegre, Ed. Unidade, 1996.
    CARDOSO, F.H; IANNI, O. Cor e mobilidade social em Florianópolis. São Paulo, Compnahia Editora Nacional, 1960.
    CASTRO, N. A. P. Televisão e presidência da república: a soberania em disputa de 1950 a 1964. 2011. 322 p. (Tese de Doutorado, Ciência Política) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
    LAPERA, P. V. A. Etnicidade e campo cinematográfico – Waldir Onofre no cinema brasileiro dos anos 1970. In: PAIVA, S.; CÁNEPA, L.; SOUZA, G. Estudos de cinema e audiovisual Socine, São Paulo, Socine, 2010.
    LOPEZ, O. A. Odilon Lopez: depoimento. (agosto/outubro de 1982). Rio de Janeiro, Revista Filme Cultura. Entrevista concedida a João Carlos Rodrigues.