Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Ivan Ferrer Maia (UAM)

Minicurrículo

    Artista Visual e Diretor de Arte. Doutor pelo Instituto de Artes da UNICAMP, linha de pesquisa Artes Visuais, Cultura Audiovisual e Mídia. Mestre em Multimídia pela mesma universidade (UNICAMP). Contribuiu com o livro Social Media and Digital Identity, London University; E-Cidadania, NIED/UNICAMP; Codesign de Redes Digitais, ed. grupo Artmed; Uso do Chic na formação de educadores, UNICAMP/PUC-SP. Participou de workshops internacionais voltados à criação, entre eles, na Stanford University.

Ficha do Trabalho

Título

    TRÊS ESTÁGIOS DA DIREÇÃO DE ARTE: REPRESENTATIVO, BELO E SIMBÓLICO

Resumo

    Este estudo pretende refletir sobre três estágios da Direção de Arte – o representativo; o belo; o simbólico – e analisar as possíveis relações com os regimes das imagens de Rancière (2009). Será necessário estabelecer pontes com o simulacro de Deleuze (2000), que o vê como uma potência poética. Rancière (2012) chamará a independência da imagem de pós-representativo que, ao desvincular com o modelo, aponta caminhos autônomos à Direção de Arte e possibilita vivência para além do já sentido.

Resumo expandido

    A Direção de Arte é o departamento responsável pela poética plástica de narrativas ficcionais e não ficcionais. Ela contempla o conceito visual, a criação estética, a identidade imagética do produto audiovisual. E pode promover, no âmbito da cognição e percepção, significados socioculturais, psicológicos, econômicos, históricos entre outros (ETTEDGUI, 1999; HAMBURGER, 2014; LOBRUTTO, 2002). Esses significados podem ser trabalhados de maneira mais direta, de representações e semelhanças ou como figuras de linguagem mais complexas e expressivas, independente do formato e gênero do audiovisual.

    É na conotação ou no sentido figurado que se estabelece significados em estágios operacionais mais complexos. É quando a semelhança ou a representação ganha independência em relação ao modelo e adquiri potência de criação (DELEUZE, 2000). Entre a semelhança e o simbólico, a Direção de Arte se aloca em possíveis estágios. Estes podem ser relacionados com os regimes das imagens apresentados por Rancière (2009). No primeiro, representativo e funcional, os elementos da Direção de Arte são criados para representar a vida real, ou de outra forma, para elaborar algo que se assemelhe aos elementos do mundo. A Direção de Arte serve a algum objetivo prático, funcional à narrativa. Por exemplo, a caneca metálica usada no refeitório pelo personagem Pixote em “Pixote, a Lei do Mais Fraco” (1980) de Héctor Babenco. No segundo estágio, aparência poética ou Belas Artes, trata-se de uma representação do mundo real com liberdade criativa subordinada ao status do belo, do agradável aos olhos. Há uma preocupação em valorizar os elementos históricos e/ou geográficos com uma qualidade plástica percebida e, muitas vezes, ostensiva. Seja vista a Direção de Arte de “O Grande Hotel Budapeste” (2014) de Wes Anderson. Um exemplo mais específico, as embalagens rosadas de courtesan ou chocolate do mesmo filme. No terceiro regime, a Direção de Arte se apresenta enquanto elemento simbólico. Com escalas complexas de significados amparadas pelas figuras de linguagens. Os elementos não se restringem a uma funcionalidade pragmática na narrativa ou a uma estética acentuada nos parâmetros das Belas Artes. Estende-se a um jogo estético-simbólico que dialoga com a narrativa por meio de figuras de linguagem, a ponto de subsidiar saltos operacionais cognitivos e perceptivos. Isso pode ser visto, por exemplo, em “O Espelho” (1975) de Andrei Tarkovsky, quando a personagem levita sobre uma cama simbólica.

    Dessa forma, este estudo pretende refletir sobre esses três estágios da Direção de Arte e analisar as possíveis relações com os regimes das imagens de Rancière (2009). Para tanto, será necessário estabelecer pontes com o discurso sobre o simulacro de Deleuze (2000) que, ao contrário de Platão, o vê como uma potência poética, independente, sem subordinar ao original, denominado por Platão de “modelo”. A força do simulacro estendeu a tal nível de independência que Rancière (2012) chamará de pós-representativo. A imagem estética que abandona o seu referencial e torna a coisa em si. Autonomia das aparências, da linguagem, desobrigada de qualquer hierarquia de gênero e regras. É possível associar o pós-representativo com o terceiro estágio da Direção de Arte, cuja poética desvincula com o modelo, aponta caminhos autônomos à Direção de Arte e possibilita vivência para além do já sentido (PERNIOLA, 1993).

Bibliografia

    ADORNO, Theodor W. Prisma. Crítica cultural e sociedade. São Paulo: Ática, 1998.
    DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. São Paulo: Perspectiva, 2000.
    ETTEDGUI, Peter. Production design and art direction. USA: Focal Press, Elsevier, 2000.
    HAMBURGER, Vera. Arte em cena. A direção de arte no cinema brasileiro. São Paulo: Senac, 2014.
    LOBRUTTO, Vincent. The filmmaker’s guide to production design. New York: Allworth, 2002.
    O ESPELHO. Direção: Andrei Tarkovsky. União Soviética: MOSFILM, 1975. 1 DVD (108 min).
    O GRANDE Hotel Budapeste. Direção: Wes Anderson. Alemanha: Fox Filmes, 2014. 1 DVD (99 min).
    PERNIOLA, Mario. Do sentir. Lisboa: Editorial Presença, 1993.
    PIXOTE, a Lei do Mais Fraco. Direção: Héctor Babenco. Brasil: Embrafilmes, 1980. 1 DVD (128 min).
    RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Exo Experimental, 2005.
    RANCIÈRE, Jacques. O destino das imagens. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.
    TOMARIC, Jason. Filmmaking. Burlington, USA: Focal Press, 2011.