Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Felipe Corrêa Bomfim (UNICAMP)

Minicurrículo

    Felipe Corrêa Bomfim é doutorando do Programa de Pós-Graduação em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), onde realizou sua pesquisa de mestrado. Durante a sua graduação, em Cinema pela Universidade de Bolonha (Itália), realizou um intercâmbio de um ano na Universidade de Colônia na Alemanha e estagiou na Cinemateca de Viena, com o apoio do Projeto Leonardo da Vinci da União Europeia.

Ficha do Trabalho

Título

    Luzes, sombras, corpos: a exposição da pele negra no cinema brasileiro

Resumo

    Este estudo apresenta e discute um breve arrazoado sobre as formas de exposição da pele negra. Ao nos debruçarmos sobre dois momentos específicos da cinematografia brasileira – condensados em imagens da revista Filme Cultura e filmes de Zózimo Bulbul – buscamos aprofundar as recorrências de recursos de iluminação em peles escuras, como a subexposição e o brilho, a fim de esmiuçar as nuances e investimentos em estudos formais sobre as formas de representação da pele negra no cinema brasileiro.

Resumo expandido

    Este estudo apresenta e discute as formas de exposição da pele negra. Os indícios de urgência desta discussão são traduzidos nas reflexões do teórico Stuart Hall, ao mencionar que “ninguém parece questionar o fato de que a direção de fotografia hollywoodiana foi projetada para afirmar um grupo em particular”, (NAIR apud HALL,1997: 126). Hall enfatiza ainda um elemento que descortina a discussão desta pesquisa ao considerar que até recentemente “a Europa Ocidental não tinha qualquer tipo de etnicidade. Ou não reconhecia que houvesse” (HALL, 2013: 336). De saída, temos como ponto de inflexão os recursos pertinentes à imagem fotográfica e cinematográfica como tecnologia estética – desde a escolha dos suportes fílmicos utilizados até procedimentos de iluminação – que acreditamos serem primordiais para identificarmos um conjunto de qualidades formais que se desenvolvem de maneira bastante sutil e imperceptível à primeira vista. O desenvolvimento das tecnologias fotográficas flerta com a intenção de aprimorar o resultado de leitura das peles, em particular, dos rostos de atores e atrizes, desde a segunda década do século XX . Testes eram desenvolvidos de maneira exaustiva, em seguida, assimilados, incorporados e reproduzidos. Tais vícios e costumes sugerem um posicionamento bastante desfavorável para a representação do negro diante da reprodução de lógicas que “privilegiam e constroem a imagem das pessoas de pele branca” (DYER, 1997: 83).
    Neste sentido, optamos por trabalhar com duas imagens-síntese recolhidas da revista Filme Cultura, em sua edição dedicada ao cinema negro . A primeira imagem selecionada é a contracapa interna da revista extraída do filme ‘Compasso de espera’ (1971), de Antunes Filho e Zózimo Bulbul, com a fotografia completamente silhuetada da figura de Zózimo. A segunda imagem foi estampada na capa da mesma edição, em que vemos uma imagem o cineasta e ator Zózimo Bulbul, com o rosto completamente suado, sob o título ‘O negro no cinema brasileiro’. A eleição de tais imagens condensa dois desdobramentos deste estudo. A primeira relacionada à subexposição da pele – presente nos filmes ‘A filha do advogado’ (1926), de Jota Soares e ‘Também somos irmãos’ (1949), de José Carlos Burle – e a segunda aponta para alternativas para a representação da pele negra presente nos filmes ‘Compasso de espera’ (1973), de Antunes Filho e Zózimo Bulbul e o curta-metragem ‘Alma no olho’ (1974), de Zózimo Bulbul.
    Em consonância com Richard Dyer (1997: 106-112) ao sugerir que vivemos em uma “cultura da luz” e a sutil associação desta luz com a ‘cor’ branca, faz-se necessário identificar e divulgar as possíveis marcas desta noção evidenciada nos filmes, a fim de discernir os padrões estruturantes que a caracterizam das modulações e estilizações presentes da falta de poder implícita no campo da imagem. Além disso, investir na compreensão dos procedimentos que compreendem as tecnologias fotográficas e suas fendas, em âmbito estético e social. Este movimento proporciona uma miríade de escolhas na contramão das ‘regras’ estabelecidas, oferecendo novas lógicas que possam destituir um viés branco bastante arraigado no campo das visualidades. É um salto bastante consistente para definhar a sub-representação e robustecer os estudos formais sobre a pele e o corpo negro por excelência no cinema brasileiro. Por fim, cabe salientar que este estudo é uma primeira aproximação à temática da pele negra no cinema nacional e, mais do que apontar para soluções bem delineadas, busca de maneira comedida, esboçar caminhos e direcionamentos para futuros estudos sobre esta cinematografia.

Bibliografia

    DYER, R. White. London: Routledge, 1997.

    FILME CULTURA. Ed. Fac-similar (N. 32 à 42), Vol. 4. p. 609-612. Rio de Janeiro: Centro Técnico Audiovisual (Ctav), 2010. Originalmente publicado em Filme Cultura, n. 40. p. 1-2, ago/out 1982.

    HALL, S. Da diáspora. Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.

    NAIR, M. To be mixed is the new order. In: GWENDOLYN, A. (Org.) Women filmmakers of the african and asian diáspora. Decolonizing in the Gaze, locating subjetivity. Carbondale: Southern Illinois University Press, 1997. pp 111- 127.

    STAM, R; SHOHAT, E. Crítica da imagem eurocêntrica. São Paulo: Cosac & Naif, 2006.