Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Davi Marques Camargo de Mello (UAM)

Minicurrículo

    Davi Mello é formado em Cinema e Audiovisual (UAM). Cursa o Mestrado em Comunicação na Universidade Anhembi Morumbi (UAM), bolsista CAPES/Prosup. Diretor e roteirista do curta-metragem “A Bordo” (2015), exibido em mais de 40 festivais nacionais e internacionais.

Ficha do Trabalho

Título

    Amador, de Krzysztof Kieslowski, e o cine-olho de Dziga Vertov

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    O trabalho propõe uma análise do filme “Amador” (Amator, 1979), dirigido pelo cineasta polonês Krzysztof Kieslowski. Nesse filme, um operário adquire uma câmera cinematográfica e a percebe como um novo olho capaz de evidenciar contradições do contexto sociopolítico ao redor. Em vista disso, a análise busca uma aproximação do longa-metragem de Kieslowski com o conceito de “cine-olho” desenvolvido pelo cineasta soviético Dziga Vertov.

Resumo expandido

    Este trabalho analisa a performance da câmera no filme “Amador” (Amator, 1979), dirigido pelo cineasta polonês Krzysztof Kieslowski. “Amador” é um dos filmes mais relevantes do chamado “Cinema da Ansiedade Moral” (Kino moralnego niepokoju) (HALTOF, 2002, p. 152). O termo se referia a filmes realistas poloneses realizados no final dos anos 1970, que examinavam assuntos contemporâneos, fazendo uso de metáforas para ilustrar narrativas sobre os conflitos entre o homem comum e o sistema dominante na Polônia (STOK, 1995, p. xvii).

    Em “Amador”, o operário Filip Mosz (Jerzy Stuhr) adquire uma câmera filmadora russa de 8mm com o intuito de registrar os primeiros momentos de sua filha recém-nascida, mas a presença da câmera transforma o seu cotidiano e a sua maneira de pensar. Filip passa a frequentar festivais de filmes amadores, consome revistas sobre cinema e política, e envolve-se com filmagens para a fábrica na qual trabalha. Os problemas sociais são evidenciados pelas imagens captadas por Filip, o único cinegrafista amador da região. O final dos anos 1970 foi marcado por greves e protestos na Polônia, entre outros motivos, devido à elevação dos preços dos alimentos, à estagnação econômica e à repressão política. Logo, a censura interna na fábrica, proveniente de ordens superiores, revela o poder e o perigo das imagens produzidas por Filip.

    A câmera do filme se comporta de forma bastante singular, uma vez que o diretor opta por um dispositivo que não difere em texturas, mesclando a sua própria câmera com a que está sob o manuseio do personagem Filip Mosz. O diálogo entre essas duas câmeras reforça o potencial das imagens para transcender os limites do observador; sua interconexão, nutrida pela montagem, cria uma ilusão uniforme e autônoma, tornando-se, assim, um recurso de autorreflexão sobre o fazer cinematográfico, funcionando como metáfora da política enquanto produção de imagens e empoderamento do homem comum – alguns dos assuntos tratados pelo cineasta soviético Dziga Vertov nos anos 1920.

    Vertov acreditava na transformação da linguagem e no poder ideológico da imagem por intermédio de uma “cine-sensação do mundo”, que só poderia ser obtida pela câmera, pelo processo do “cine-olho”, que propunha a cura da “miopia do homem” por meio de um dispositivo que funcionasse como um corpo físico, possibilitando a captação da “vida de improviso”, ou seja, revelando o caráter universal dos filmes atribuído pelo comportamento do homem comum (VERTOV in GRANJA, 1981, p. 40-46).

Bibliografia

    HALTOF, Marek. Polish National Cinema. Nova Iorque: Berghahn Books, 2002.

    __________. The Cinema of Krzysztof Kieslowski: Variations on Destiny and Chance (Directors’ Cuts). Nova Iorque: Wallflower Press, 2004.

    MICHELSON, Annette (Ed.). Kino-Eye: The Writings of Dziga Vertov. California: University Of California Press, 1984.

    STOK, Danusia (Ed.). Kieslowski on Kieslowski. Inglaterra: Faber & Faber, 1995.

    VERTOV, Dziga. “Kinoks – Revolução”. In: GRANJA, Vasco. Dziga Vertov. Lisboa: Livros Horizonte, 1981.

    ZAMOYSKI, Adam. História da Polónia. Lisboa: Edições 70, 2010.