Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Gustavo Jardim (UFMG)

Minicurrículo

    Gustavo Jardim é artista e educador. Diretor de filmes e vídeo-instalações, premiados em festivais como Mostra de Cinema de Tiradentes-MG, VideoBrasil-SP e Instants Videos (Marseille). Atua também no desenvolvimento de projetos de educação, formação e experimentação ligados às artes, especialmente por meio do cinema. Mestre em Cinema e Educação pela FAE/UFMG. Professor do Imagens em Movimento-RJ em parceria com a Cinemateca Francesa, pesquisador do OBEDUC (Observatório da Educação)/UFMG.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema e Educação: o dentro, o “fora” e o entrelaçado

Seminário

    Cinema e educação

Resumo

    Apresentação de análise do cinema em processos formativos junto a professores e alunos. Parte-se de uma formulação teórica para se considerar aspectos relevantes da produção audiovisual engajada na educação. Abordagem de uma perspectiva sobre filmes e experiências colhidas em campo de pesquisa para se pensar sobre os dispositivos criação e os produtos gerados neste contexto. Divididos em três categorias (o dentro, o fora e o entrelaçamento) os problemas se coadunam com imagens cinematográficas.

Resumo expandido

    O objetivo da comunicação é levantar questões acerca da produção audiovisual junto ao universo da educação. A partir de dados observados em práticas de campo almeja-se apresentar um conjunto de proposições acerca da natureza do filme e das condições de produção audiovisual em um contexto de aprendizado.

    Partimos de uma premissa em movimento ao propor o cinema como elemento gerador de processos transdisciplinares no campo da educação, ou seja, facilitador, porém não definidor de uma configuração que se destina ao atravessamento das disciplinas e aponta seus processos para a própria vida. Somados os resultados e processos metodológicos estudados, convoca-se à tentativa de se estabelecer alguns parâmetros de análise sobre o cinema na educação, em diálogo com as ideias de Henri Bergson, Gilles Deleuze e outros teóricos que estimulam uma visão filosófica atrelada ao valor artístico dos procedimentos de criação.

    As considerações sobre os filmes e os processos de produção serão divididas em três aspectos principais, o dentro, o fora e o entrelaçado; tratando respectivamente das seguintes guias de proposições teóricas:

    1) a imagem do tempo-invenção, uma temporalidade que habita a imagem (imagem-afecção, afecção de si por si, o virtual), diferença e semelhança no reconhecimento: Questões sobre o que a imagem apresenta e como a reconhecemos. O papel da imagem passa por contaminar a situação inicial do olhar habituado e ser chave para uma transposição/afecção que nos conduz a um tempo-invenção. A imagem se torna um ensejo para lembrança e para o inconsciente, passando do atual ao virtual por estruturas específicas que apresenta em sua matéria. As operações desencadeadas se associam às demais imagens disponíveis em uma memória amplificada, para assim produzir novas configurações. Exploramos o conceito de alteração frente a ideia de alteridade, pensando em dinâmicas entre a imagem e o pensamento nos processos formativos e análises fílmicas.

    2) o domínio da vida e da consciência, em direção a um “fora” que toca os processos: Nota-se que algo toca a metodologia de produção audiovisual e colabora para a criação de uma linha tangente ao debate sobre o conhecimento disciplinar, algo que escapa ao conhecimento. Talvez esteja aí um fator fundamental para determinar a transdisciplinaridade nesses processos, seja ele o acaso ou o impensável. Um tipo de experiência que busca as virtualidades do real a partir dele mesmo, o sujeito produz sua própria diferença na criação. “O fora incorporado constitui uma memória ativa, que submete e até falsifica o real, no lugar de se adaptar” (PELBART, 2008, p. 27). A variação constante que o modelo metodológico encontra quando confrontado com processos concernentes à vida.

    3) aprender e saber; espaço de entrelaçamento: O filme promove um entrelaçamento que incorpora questões e retorna para elas com uma imagem reflexiva. O aprendizado sendo entendido como o aprender a criar e extrapolar o saber a partir da vivência. Os processos transdisciplinares mostram sua especificidade na medida em que incentivam a fusão de saberes em um fluxo variável. Uma fusão de descontínuos e heterogêneos, uma conexão rizomática que se forma entre o filme e seu entorno. A partir desta noção emprestada da física quântica, a ideia de entrelaçamento como a coexistência de dois pontos contínuos em espaços distintos nos favorece enxergar uma dinâmica de manifestação da vida no filme.

    A comunicação conjuga o exame destes conceitos à exposição de imagens cinematográficas produzidas em propostas educativas que possam demonstrar e irradiar novas acepções para a discussão colocada em cena. Os fragmentos dos filmes se tornam parâmetros de uma leitura que se complementa na distinção de certos procedimentos artísticos em consonância com as categorias apresentadas. O espaço de entrelaçamento expande a noção do filme como objeto artístico, mas se fia nesses procedimentos para retornar os olhos às imagens que brotam em experiências diversas.

Bibliografia

    BERGSON, Henri. A evolução criadora. Tradução de Bento Prado Neto. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

    BERGSON, Henri. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. Tradução de Paulo Neves. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006a.

    DELEUZE, Gilles. Bergsonismo. São Paulo: Editora 34, 2012.

    DELEUZE, Gilles. Cinema 1 – A imagem-movimento. São Paulo: Brasiliense, 1983.

    DELEUZE, Gilles. Cinema 2 – A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 1985.

    NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade. Tradução de Lucia Pereira de Souza. São Paulo: Triom, 1999.

    PELBART, Peter Pál. Cartographies du dehors. Paris: Rue Descartes 2008/1 (n° 59), p. 20-30. Disponível em: http://www.cairn.info/revue-rue-descartes-2008-1-page-20.htm Acesso em: 7 fev. 2017.