Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Ricardo José Gonçalves Duarte Filho (UFRJ)

Minicurrículo

    Graduado em Cinema e Audiovisual pela UFPE (2015) e atual mestrando do programa de Comunicação e Cultura da UFRJ, onde desenvolve a pesquisa “Dândis, Drags e Bichas Pintosas: O Camp no Cinema Queer Brasileiro Contemporâneo” sob orientação de Denilson Lopes. Seu campo de interesse envolve cinema contemporâneo, camp, estética, e estudos queers.

Ficha do Trabalho

Título

    O Camp como criação estética de novas formas de vida

Resumo

    Na presente comunicação, gostaria de argumentar, através do filme Madame Satã (Karim Aïnouz, 2002), como podemos ver representado nas artes, aqui especialmente a audiovisual, as potências criadoras do Camp e ver o seu emprego como uma possível tática de subversão queer. Parto da hipótese que as cenas disruptivas aqui analisadas, através da performance e do espetáculo, possuem potencial de criação de novas estéticas e afetos.

Resumo expandido

    Um homem negro, completamente ornamentado, apresenta-se para uma audiência em um bar. Ele recita, dança e requebra, cheio de trejeitos, criando novas possíveis subjetividades para si através dessa apresentação performativa. Não é mais aquele homem que se apresenta, mas a “Mulata do Balacochê”. A câmera acompanha sua performance: cola-se à sua pele, a seus ornamentos e a seus gestos em planos detalhes e de movimentação solta. A força disruptiva dessa performance e da cena é marcante, atravessando a tessitura fílmica através da performance daquele personagem, endereçada não apenas para a audiência presente no bar, mas também a nós, o espectador. Em Madame Satã (Karim Aïnouz, 2002), embora essa apresentação performática e performativa seja diegética, ela torna-se disruptiva por destacar-se estilisticamente das outras sequências do longa: ao adotar cores e ornamentos diversos, essas cenas contrastam com a dureza das outras, que muitas vezes estão voltadas a mostrar a marginalidade social do seu protagonista e outros personagens.

    Na presente comunicação, gostaria de argumentar, através do filme Madame Satã (Karim Aïnouz, 2002), como podemos ver representado nas artes, aqui especialmente a audiovisual, as potências criadoras do Camp e ver o seu emprego como uma possível tática de subversão queer. Parto da hipótese que as cenas disruptivas aqui analisadas, através da performance e do espetáculo, possuem potencial de criação de novas estéticas e afetos propiciados por uma relação direta e ativa com a audiência através do Camp. Também almejo provocar uma interseção entre as discussões do Camp e cultura queer com algumas argumentações levantadas por Jacques Rancière, especialmente no que toca o regime estético da arte e sua visões acerca da política, do dissenso e da partilha do sensível. Embora seja um diálogo aparentemente bastante turbulento, creio que esse tensionamento pode provocar profícuos deslocamentos e novas possibilidades de leitura, também podendo ser visto como um gesto queer por parte do próprio artigo ao buscar ligações oblíquas: novas e instigantes possibilidades.

    O que proponho discutir é uma leitura que propicie o diálogo entre o imaginário Camp e o regime narrativo através da ideia de espetáculo e prazer visual. Através de Madame Satã, julgo que esse tensionamento pode propiciar uma leitura desses elementos não como uma possibilidade de fuga, de um pretenso escapismo lúdico, mas sim de “trazer uma possibilidade de liberdade (…). A partir da encenação de afetos no palco como forma de encontrar um outro modo de vida, centrado no artifício sem que os discursos de identidade sejam negados ou simplificados” (LOPES, 2015, p.129). Aqui, argumento que a aproximação efetuada entre o Camp e as ideias de Ranciére funcionem como tentar discutir esse imaginário como uma forma político-estética de provocar fraturas na organização do sensível através do artifício.

Bibliografia

    HALPERIN, David M. How to be gay. Cambridge, MA: Belknap Press of Harvard University Press, 2012.
    ISHERWOOD, Christopher. The World in the Evening. London: Methuen, 1954.
    KING, Thomas A. ‘Performing “Akimbo”: Queer Pride and Epistemological Prejudice’, IN: Moe Meyer,
    The Politics and Poetics of Camp. New York, 1994, 23-50.
    LOPES, Denilson. Madame Satã. In: MURARI, Lucas; NAGIME, Mateus (Orgs.). New Queer Cinema:
    Cinema, Sexualidade e Política. Rio de Janeiro: Caixa Cultural, 2015.
    MEYER, Moe. The Politics and Poetics of Camp . New York: Routledge, 1994
    MUÑOZ, Jose Esteban. Disidentification: Queers of Color and the Performance of Politics. Minneapolis:
    University of Minnesota Press, 1999.
    RANCIÈRE, Jacques. A estética como política. Trad. Augustin de Tugny. In: Devires – Cinema e
    Humanidades, Belo Horizonte, v. 7, n. 2, 2010
    RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012