Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Marina Soler Jorge (Unifesp)

Minicurrículo

    Marina Soler Jorge é socióloga e professora Adjunto III do Departamento de História da Arte da EFLCH/Unifesp. Atua nas áreas de Sociologia da Arte, Cinema Latino-Americano, Cinefilia e Figurino. É autora do livro “Cultura Popular no Cinema Brasileiro dos Anos 90” (2010) e “Lula no Documentário Brasileiro.É autora do livro “Cultura Popular no Cinema Brasileiro dos Anos 90” (2010) e “Lula no Documentário Brasileiro” (2011), além de artigos sobre cinema, recepção e sociologia da arte.

Ficha do Trabalho

Título

    El Club, de Pablo Larraín, ou como esconder padres em uma praia fria.

Seminário

    Cinema e América Latina: debates estético-historiográficos e culturais

Resumo

    Esta comunicação analisa o filme El Club, do cineasta chileno Pablo Larraín, lançado em 2015, sob o ponto de vista das estratégias plásticas que dão suporte à narrativa. Procuraremos mostrar como alguns elementos estéticos – a filmagem em contra-luz, o uso de lente grande angular e a paleta de cores fria – ajuda a construir a imagem desbotada e distante de um grupo de padres criminosos, imobilizados no tempo e encerrados confortavelmente no cinzento litoral chileno.

Resumo expandido

    El Club é o oitavo filme dirigido pelo chileno Pablo Larraín, autor de Tony Manero, Post Mortem e No, da série de TV Prófugos, transmitida pela HBO, e mais recentemente diretor de Neruda e da cinebiografia Jackie. Trata-se de obra que aborda a tentativa da Igreja Católica no Chile de ocultar crimes cometidos por padres, escondendo-os em casas em pequenas vilas e cidades. Em El Club cinco padres moram em um sobrado amarelo na cidade litorânea de La Roca, sendo cuidados e vigiados pela zelosa irmã Mônica. Lá eles seguem uma tranquila rotina: há horário para rezar, cantar e comer. Só podem sair à rua em horários estabelecidos e nunca devem ser vistos juntos. Passam o tempo cuidando de uma horta, assistindo a realities shows e montando quebra-cabeças. O passatempo principal e mais excitante, no entanto, é treinar um cachorro de raça galgo que compete em corridas nas quais são feitas apostas em dinheiro.
    O filme se abre com um quadro negro e uma citação do Velho Testamento, Gênesis 1:4: “Y vio Dios que la luz era buena, y separó la luz de las tinieblas”. Trata-se, como todos sabemos, do início de tudo: depois de criar o céu e a Terra, Ele percebeu que ela era escura e vazia e preencheu-a de luz, que separou das trevas para criar a noite e o dia. A referência bíblica adequa-se ao tema “religioso” do filme, mas faz mais do que isso: ela será a expressão do que ocorrerá no nível da cinematografia.
    Três elementos plásticos se destacarão nesse sentido, e serão analisados nessa comunicação. Em primeiro lugar, a utilização da imagem filmada a contraluz, que exacerbará os contrastes entre claro e escuro e dará às figuras uma textura “borrada”. Em segundo lugar, a utilização da câmera grande angular, também conhecida como “olho de peixe”. Por fim, a utilização de uma paleta de cores desbotadas, que parecem inclusive criadas a partir de um filtro azulado, e que exacerbam o aspecto enevoado do litoral chileno. Essas três escolhas estéticas dão ao filme um aspecto escuro frio, nebuloso e desconfortável, que não passou desapercebido dos críticos.
    A citação do Velho Testamento com a qual se inicia o filme, ao mencionar luz e trevas, remete muito imediatamente à opção de se enquadrar em contraluz os personagens, colocando-os, geralmente em plano médio ou primeiro plano, entre a câmera e a luz natural. Isso acontece desde os primeiros minutos do filme e perdurará o tempo todo, seja em ambiente externo seja em ambiente interno, no qual as janelas servirão como fonte de iluminação.
    O segundo elemento mencionado, a utilização da câmera grande angular, será visto tanto em planos médios ou primeiro planos quanto em planos gerais. No primeiro caso, o que vemos são principalmente imagens do interior da casa, e notamos sem dificuldade a presença daquele efeito “olho mágico” que distorce as paredes da sala de jantar e de estar ao mesmo tempo em que consegue captar uma quantidade maior de informação visual do ambiente. Ao distorcer as paredes interiores da casa, formando linhas côncavas que “fecham” o ambiente, esses planos reforçam a sensação de enclausuramento dos personagens.
    Resta, por fim, analisar a paleta de cores utilizada no filme. Salta aos olhos do espectador o aspecto azulado pálido enevoado das cenas externas, o que confere ao litoral chileno um aspecto de frio e desolação. O ar está sempre pesado, e nunca se consegue ver claramente os detalhes das figuras e dos fundos das imagens. O grupo de jovens com quem Padre Vidal estabelece contato chega a comentar que La Roca é triste e sufocante. Em nível extradiegético, sabemos que o clima no litoral do Chile pode ser bastante frio. No filme, no entanto, estes aspecto é exacerbado pela paleta de cores apagada e azulada espessada por uma atmosfera nublada.
    A comunicação proposta, portanto, pretende discorrer sobre esses elementos estéticos, procurando mostrar de que maneira ajudam a construir a história que está a ser contada.

Bibliografia

    AFFRON, C., Affron, M. J. Sets in motion – art direction and film narrative. New Jersey: Rutgers, 1995.
    HELLER, E. A psicologia das cores: como as cores afetam a emoção e a razão. São Paulo: Gustavo Gili, 2015, edição kindle.
    BRASIL, Ubiratan, “TV”. O Estado de São Paulo, Caderno 2, p. C-6, 19 de janeiro de 2017.
    SCOTT. A. O. “Review: ‘The Club’ Sees the World Through the Eyes of Damaged Souls”. The New York Times, 4 de fevereiro de 2016. https://www.nytimes.com/2016/02/05/movies/the-club-review-pablo-larrain.html?_r=2
    FOUNDAS, Scott. “Film Review: ‘The Club’”. Variety, 9 de fevereiro de 2015. http://variety.com/2015/film/reviews/berlin-film-review-the-club-1201428580/