Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Carolina Soares Pires (USP)

Minicurrículo

    Carolina Soares Pires é doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais na Universidade de São Paulo-USP, tendo concluído o seu mestrado no mesmo programa, em 2015. Trabalha como roteirista, diretora,
    diretora de fotografia e editora em São Paulo, tanto em ficção como em documentário. Ministra oficinas de cinema e já ministrou cursos no Instituto Federal de Goiâs e Faculdades Araguaia, onde ministra uma disciplina atualmente.

Ficha do Trabalho

Título

    Brás Cubas e Dom Casmurro: a adaptação da narrativa autoconsciente e não-confiável

Resumo

    A presente pesquisa propõe o estudo das adaptações para cinema e televisão das obras literárias Dom Casmurro e Memórias póstumas de Brás Cubas sob o enfoque teórico da teoria da adaptação, concentrando-se específicamente nas questões da narrativa autoconsciente e não-confiável. Com base nessas análises, pretende-se investigar aspectos preponderantes dessas adaptações no terreno específico da narrativa e elaborar questões relativas às implicações dessas relações na adaptação audiovisual.

Resumo expandido

    A proposta de estudo que ora se apresenta inscreve-se no campo de investigação da adaptação da literatura para o audiovisual e, por conseguinte, do modo como se relacionam o cinema e a televisão com a literatura, por meio da análise de adaptações cinematográficas e televisivas, tendo como objetivo explorar os aspectos narrativos da adaptação audiovisual, especialmente as questões específicas da narrativa autoconsciente e não-confiável. Para tanto, serão abordadas as inter-relações entre obras audiovisuais adaptadas para cinema e para televisão desses dois textos literários cujas narrativas podem ser classificadas como autoconscientes e não-confiáveis. Serão observados os elementos constitutivos e os processos de construção narrativa dessas adaptações, as influências e as interfaces dessas obras, assim como outras relações intertextuais relevantes para a análise. Através da análise fílmica e do estudo comparativo, pretende-se investigar o percurso da construção narrativa no processo de adaptação e as implicações desse processo na obra resultante.
    A pesquisa abrange as adaptações para o cinema e para a televisão de dois textos: os romances Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1889), de Machado de Assis. Serão analisados o filme Capitu (1968), de Paulo César Saraceni, a minissérie Capitu (2008), da Rede Globo, dirigida por Luiz Fernando Carvalho; assim como os filmes Brás Cubas (1985), de Júlio Bressane e Memórias póstumas (2001), de André Klotzel. Tomando por hipótese que a construção narrativa dessas adaptações é influenciada pela forma, o objetivo será compreender como se dá essa relação no âmbito da narrativa autoconsciente e não-confiável, identificar particularidades da interlocução dos textos com essas adaptações e analisar a construção narrativa dessas adaptações audiovisuais. Quatro critérios sustentam a escolha dessas obras audiovisuais:
    • Narrativo: A narrativa dos dois romances é notadamente autoconsciente: trata-se, em ambas as obras, de relatos mediados pela própria personagem, cuja confiabilidade é questionável. Essa mediação é revelada para o leitor implícito através da ironia e da construção narrativa que desautoriza o discurso dessas personagens e deixa ver que existe um processo de autofalsificação (Passos, 2007) orquestrado pelo narrador-personagem.
    • Temático: há interfaces e convergências nos temas tratados nos dois romances de Machado de Assis, centrados na crítica aguda às relações sociais e sua hipocrisia, especialmente no que concerne ao casamento, ao adultério e ao colapso da ordem paternalista, tratados com acidez e ironia.
    • Comparativo/estético: Dadas as semelhanças narrativas dos dois textos de origem, o cotejo das obras possibilita uma análise mais aprofundada e profícua das adaptações, que possuem estéticas e estilos diversos e constroem relações diferentes com os textos de origem.
    • Ineditismo da abordagem: não há pesquisas no campo audiovisual que abarquem e comparem as adaptações dos dois romances mais importantes de Machado de Assis.

    Se é possível traçar um paralelo entre os dois romances, em que medida essa possibilidade se manifesta no caso dessas adaptações?
    Estabelecem-se como questões centrais na pesquisa: como são construídas e estruturadas narrativamente as adaptações de narrativas autoconscientes e não-confiáveis, mais especificamente, das adaptações de Dom Casmurro e Memórias póstumas de Brás Cubas ? Quais as relações entre texto de origem e obra audiovisual? Que princípios guiaram as escolhas narrativas nessas adaptações? As características de narrativa autoconsciente e não-confiável foram contempladas/potencializadas/valorizadas na adaptação para o audiovisual ou foram elididas dela? Por quê? É possível reproduzir a relação entre narrador e leitor na relação entre adaptação audiovisual e espectador? Como? Como se dá a relação entre obra e espectador nessas adaptações? Como essas adaptações se relacionam entre si?

Bibliografia

    BORDWELL, David. Narration in the Fiction Film. Madison: University of Wisconsin Press, 1985.
    BUTLER, Jeremy G. Television Style. Nova York e Londres: Routledge, 2010.
    CALDWELL, Helen. O Otelo Brasileiro de Machado de Assis. São Paulo: Ateliê Editorial,
    2002.
    CHATMAN, Seymour. Story and discourse: narrative structure in fiction and film. Ithaca, NY: Cornell U.P., 1978.
    _____. Coming to Terms: The Rhetoric of Narrative in Fiction and Film. Ithaca: Cornell University Press, 1990.
    JOHNSON, Randal. Literatura e cinema. Macunaíma: do modernismo na literatura ao cinema novo. São Paulo: T. A. Queiroz, 1982.
    PASSOS, José Luiz. Machado de Assis: O romance com pessoas. São Paulo: EDUSP, Nankin, 2007.
    SCHWARZ, Roberto. A poesia envenenada de Dom Casmurro. Novos Estudos CEBRAP, n. 29, p. 85-97, março, 1991.
    STAM, Robert. A literatura através do cinema: realismo, magia e a arte da adaptação. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008.
    ______. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade.