Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Maria Neli Costa Neves (UNICAMP)

Minicurrículo

    Doutoranda em Multimeios pela UNICAMP, mestre em Ciência da Arte pela UFF, bacharel em Comunicação Social (cinema, jornalismo) pela UFF. Curta-metragista, montadora/editora cinematográfica, continuísta, com vários trabalhos no cinema e na televisão.

Ficha do Trabalho

Título

    Masculinidades, raça e religiosidade popular em “O amuleto de Ogum”

Resumo

    A partir de formulações de Teresa de Lauretis, Judith Butler, Robert Stam e Renato Ortiz, essa comunicação pretende pensar pontos que atravessam o filme “O amuleto de Ogum” (1974), de Nelson Pereira dos Santos: as formas de masculinidades vividas por seu personagens, e a religiosidade “popular”, que se mostra imbricada à representação de raça, tornando- se ato de afirmação e resistência.

Resumo expandido

    No cinema de Nelson Pereira dos Santos é frequente a encenação de histórias com temas relacionados à raça, à mestiçagem, à marginalidade social. No caso do filme “O amuleto de Ogum” (1974), que se desenrola em torno das guerras da bandidagem na cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense durante a década de 70, esses aspectos estão presentes e se somam às manifestações da religiosidade umbandista que, segundo Robert Stam, pode ser chamada de “a religião brasileira, por incorporar elementos culturais dos principais grupos constitutivos do Brasil”: do catolicismo, da cultura africana, do espiritismo kardecista e da “simbologia indígena” ( Stam, 2014, p. 298).
    Os negros pobres, os indígenas, os mestiços, ou seja, os “sub-representados e os marginalizados” (Stam, 2014, p.298) são trazidos para o centro da diegese, e ali eles se fazem ver com a complexidade de “sujeitos” (ibid) integrando o universo ficcional.
    Em meio a disputas de quadrilhas e de assassinatos, se evidencia a conduta de um jovem, o protagonista da história, que embora tenha tido na meninice o corpo fechado e protegido pela religião umbandista, é iniciado no crime organizado e internaliza as formas masculinas agressivas e homofóbicas determinadas pelo seu bando e pelo contexto de violência. Segundo Teresa de Lauretis, o “gênero” retrata “não o indivíduo e sim uma […] relação social” e é classificado “de acordo com valores e hierarquias sociais” (Lauretis, 1987, passim, p. 210/211). É somente após ser salvo da morte por umbandistas e ter recuperado os princípios adquiridos na infância, que o jovem protagonista ganha forças para se afastar da criminalidade.
    Para essa comunicação, com fundamentos em Robert Stam, Tereza de Lauretis, Judith Butler e Renato Ortiz, tenciono fazer reflexões sobre esses pontos que se interligam no filme, como as formas de masculinidades performadas pelos integrantes da gangue, e a representação de raça, também imbricada às questões religiosas e identitárias. Conforme Robert Stam: “A raça é atravessada pela classe, o gênero é atravessado pela raça” (Stam, 2014, p. 295). Com base nos autores mencionados, é legítimo formular que a validação da raça pode albergar a validação da alteridade, assim como a descoberta da religiosidade “popular” abarca a compreensão de se entender como um ser humano com raízes a serem resgatadas e defendidas.

Bibliografia

    BERNARDET, Jean- Claude; GALVÃO, Maria Rita Eliezer. O nacional e o popular na cultura brasileira: Cinema. Rio de Janeiro: Editora Brasiliense/ Embrafilme, 1983.
    BUTLER, Judith P. Bodies that matter: on the discursive limits of “sex”. New York:
    Routledge, 1993.
    GATTI, José; PENTEADO, Fernando Marques (Org). Masculinidades: Teoria, crítica e artes. SP: Estação das Letras. 2011.
    LAURETIS, Teresa. A tecnologia do gênero.
    disponível em: https://www.academia.edu/4810591/_A-Tecnologia-do-Genero
    Teresa-de-Lauretis
    Março, 2017.
    ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985.
    STAM, Robert. Introdução à teoria do cinema. Campinas: Papirus Editora, 2014.
    _____. Multiculturalismo Tropical. São Paulo: EDUSP, 2008.
    VILLARES, Lúcia. Dois corpos Torturados. In GATTi, José; PENTEADO, Fernando Marques (Org). Masculinidades: Teoria, crítica e artes. SP: Estação das Letras. 2011.