Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Dieison Marconi (UFRGS)

Minicurrículo

    Jornalista e Mestre em Ciências da Comunicação pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (POSCOM-UFSM). Doutorando no Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCOM-UFRGS). Integra o Grupo de Pesquisa em Processos Audiovisuais. (PROAv-UFRGS).

Ficha do Trabalho

Título

    Autorias queer no cinema brasileiro contemporâneo

Seminário

    Cinema Queer e Feminista

Resumo

    A partir de um mapeamento de diretores LGBT brasileiros que apresentam uma trajetória narrativa que tangencia as temáticas de gênero, corpo e sexualidades desde o início dos anos 2000, busco investigar o trabalho desses diretores enquanto modos de autorias queer. Considerando os contornos estéticos, narrativos, políticos, sociais e subjetivos dessas autorias, este texto é um impulso para a construção de um aporte teórico e metodológico para conceber o que são autorias queer no cinema brasileiro.

Resumo expandido

    Grande parte das pesquisas realizadas em cinema queer no Brasil, quando não focalizam os processos das políticas de representação, são frutos de análises fílmicas, das fruições estéticas, discursivas e de conteúdo. Consciente desse cenário, acredito que ainda nos cabe investigar a cultural audiovisual queer por outras perspectivas, como a do consumo cultural, circulação, recepção e autoria. E é sobre esta última, a autoria, sob a qual tenho me dedicado em minha tese de Doutorado. Embora saibamos que o cinema brasileiro possui diretores gays e lésbicas desde o século XX, a exemplo de Mario Peixoto e Rita Moreira, é principalmente a partir do início dos anos 2000, época da pós-retomada, do barateamento da produção fílmica, do uso de câmeras digitais e do fortalecimento da internet que esses diretores aparecem com mais intensidade. Desde o ano de 2016 tenho realizado um mapeamento de diretores LGBT que apresentam uma trajetória narrativa que tangencia as temáticas de gênero, corpo e sexualidades. Até momento, encontrei cerca de cinquenta nomes, principalmente de gays e lésbicas. É a partir de alguns desses nomes que busco explorar um conceito de autorias queer. Em alguns desses diretores, noto uma crítica queer que inibe as normatividades de sexo/gênero e o cinema mainstream, como é o caso do grupo Surto e deslumbramento (PE). O grupo promove um cinema de viadagem através do deboche e do artifício, principalmente no que tange as experiências de homens gays. Isso não significa, no entanto, que seus filmes elaboram uma reivindicação de uma identidade gay. Não seriam corpos falantes que não apenas tomaram consciência de quem são e de suas abjeções, mas que principalmente sabem quem são na medida em que reconhecem as tecnologias que operam na produção do próprio corpo/sujeito? Já em diretores como Filipe Matzembacher e Marcio Reolon (RS), além de um desejo de falar de suas experiências particulares que também revelam um rompimento com as universalizações identitárias, há uma tentativa consciente de potencializar em seus filmes uma crítica queer que os leva a buscar apoio nas referências das epistemologias queer. Esse desejo também aparece no trabalho de Marcelo Caetano (SP). Na opinião deste, não é mais suficiente que os filmes tenham personagens LGBT, pois os filmes precisam ser queer em sua forma. Senão for assim, o trabalho foi feito pela metade. O primeiro desafio que se apresenta é falar em uma noção autoral no cinema queer que não reforce ideais do autor elaborados até a metade do século XX, pois elas facilmente vão de encontro ao pensamento queer. Quero dizer que é preciso de cuidado para não reforçar a figura do autor enquanto uma tipificação monarca (como queria o romantismo) ou como um sistema de códigos articulados coerentemente (como acreditou o estruturalismo). Também não cabe aceitar a autoria unicamente enquanto um “plano do artista” que deve ser reconstituído pelo espectador (no caso das vanguardas) ou como “universo metafísico” que deve ser desvendado pela crítica (política dos autores). Tão pouco cabe aceitar a morte do autor, como argumentar Barthes (Peixoto, 2014). A princípio, o passo mais adequado me parece ser uma análise na qual seja possível enxergar no autor/diretor como uma instância a mais na produção de sentidos do próprio filme. Inspirada em Foucault (2009), tenho experimentado entender a autoria queer enquanto características de postura e circulação de discursos queer, isto é, o autor diretor como foco de expressão queer. Arrisco, inspirada em Preciado (2014), localizar a autoria queer marcada pela resistência as estruturas de saber/poder e investimento criativo em não reiterar modelos normativos das tecnologias de sexo/gênero. Penso que as autorias queer não surgem apenas como um efeito dos discursos sobre o sexo (como acreditava Foucault), mas sim – sugere Bourcièr (2008) – como potências políticas de sujeitos abjetos que investem em diferentes repertórios fílmicos que vão de encontro a sexopolítica

Bibliografia

    FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Lisboa: Nova Vega, 2009.

    FERREIRA, Cauê Vinícius. GROSSI, Míriam Pillar. Teoria queer, políticas pós-pornô e privativação da sexualidade: uma conversa com Marie-Hélène Bourcier. Estudos Feministas, Florianópolis, 22(3): 320, setembro-dezembro/2014.

    PRECIADO, Beatriz. Manifesto contrassexual. São Paulo, N-1 edições, 2014.

    PEIXOTO, Michael. A reconfiguração da autoria na linguagem audiovisual contemporânea. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Comunicação, UNB, Brasília, 2014.