Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Rogério Luiz Silva de Oliveira (UESB)

Minicurrículo

    Professor de Direção de Fotografia do Curso de Cinema e Audiovisual, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. É autor do livro Fotografia e Memória: a criação de passados. Concluiu mestrado e doutorado com estudos dedicados à imagem fotográfica. Na tese, estudou a relação entre memória e criação na direção de fotografia. É membro da Associação Brasileira de Cinematografia e integrante do grupo de pesquisa “Cultura, Memória e Desenvolvimento” (CNPq/UnB).

Ficha do Trabalho

Título

    Direção de fotografia e pintura: da analogia à deformação

Resumo

    Partindo do princípio da analogia, preconizado nos estudos sobre a imagem fotográfica estática e chegando às ideias de transcrição – apresentado por E.H. Gombrich -, e deformação – tal como propunha Jacques Aumont -, procuraremos evidenciar um entendimento possível sobre a presença dos traços pictóricos na direção de fotografia, a partir da análise de pinturas e planos cinematográficos paralelamente.

Resumo expandido

    A imersão na literatura dedicada à relação entre fotografia e pintura sugere incontáveis caminhos reflexivos. Ora como análogas, ora apresentadas como coisas distintas, ainda assim a justaposição dos elementos que as constituem acaba por revelar uma inegável troca estética. Partindo do princípio da analogia, preconizado nos estudos sobre a imagem fotográfica estática e chegando às ideias de transcrição – apresentado por E.H. Gombrich (1986) -, e deformação – tal como propunha Jacques Aumont (2004) -, propomos uma leitura de textos dedicados à díade fotografia-pintura, a fim de evidenciar um entendimento possível sobre a presença dos traços pictóricos na direção de fotografia, complementada com a análise de pinturas e planos cinematográficos paralelamente. Nesse sentido, nos interessa tratar de um aspecto muito presente no pensamento fotográfico no cinema, ou seja, a contribuição da exploração pictórica como forma de expressão da criatividade do diretor de fotografia.
    Neste espaço, alguns nomes saltam num ato quase que evocativo: John Alton, Vittorio Storaro, Henri Alekan, Agnès Godard, Mario Carneiro, Walter Carvalho, Edgar Moura, Fernando Duarte. Todos eles estabeleceram, plástica ou discursivamente, uma interlocução com os elementos pictóricos dos pintores ou gravuristas. O que nos instiga diante desse quadro que se desenha é a possibilidade de uma leitura de determinadas obras teóricas, a fim de revelar, rigorosamente, uma forma de lançar o olhar sobre a relação tão praticada ao longo da história do cinema. Ao nosso ver, um esboço teórico compatível com o par fotografia -pintura pode ser estruturado segundo uma composição tripartite: analogia, transcrição e deformação.
    Se partimos da ideia de analogia entre direção de fotografia e pintura, será muito natural, tal como pensara Laura González Flores (2011), indagar se tratam-se, de fato, de dois meios diferentes. O que nos une à referida autora é a tentativa de procurar entender o sentido dessa possível analogia, tão frequente nas abordagens a respeito da constituição plástica das imagens produzidas pela direção de fotografia. E para tanto, o caminho exegético de cada um dos meios parece indicar uma boa medida. Poderemos começar pensando a questão da analogia, por exemplo, a partir da diferença que está na técnica.
    Mais que isso, consideramos que, mediante o domínio da técnica, pintores e fotógrafos têm ao alcance da mão a condição do exercício do impalpável, do devaneio, do imaginário. Apesar de um certo distanciamento técnico, estão unidos pela utilização da luz, a grande possibilitadora das investidas criativas que darão a eles a capacidade de promover uma transcrição, para usar o termo adotado por E.H. Gombrich (1986). A direção de fotografia, deste modo, bebe na fonte da pintura apreendendo modelos possíveis de iluminação, composição, etc., fazendo deslocamentos estéticos desencadeadores de um pensamento fotográfico. A leitura de Gombrich apontará, portanto, para uma análise da reprodução da luz por fotógrafos e pintores, complementando aquilo que indica uma abordagem analógica e ainda construindo uma ponte para o que retiraremos da obra de Jacques Aumont (2004): a ideia da deformação.
    Em nossa proposta de comunicação, este último conceito arremata a tese de que a direção de fotografia se aproxima da pintura, faz apropriações pictóricas devidas e, por meio dos defeitos aos quais as imagens técnicas estão submetidos, promove transgressões que, sob a condição deformada – se comparada à pintura -, faz surgir uma outra experiência plástica. A proposta, por fim, é que esse embaralhamento conceitual repercuta na análise de imagens da pintura e do cinema, numa leitura minuciosa e justaposta, a fim de identificar modelos de deformação nascidos da analogia.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. O Olho Interminável [Cinema e Pintura]. São Paulo: Cosac&Naify, 2004.

    BEACH, Christopher. A hidden history of film style: cinematographers, directors, and the collaborative process. California: University of California Process, 2015.

    FABRIS, Annateresa. O desafio do olhar: fotografia e artes visuais no período das vanguardas históricas. Vol. I. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. (Coleção Arte&Fotografia).

    GOMBRICH, E. H. Arte e Ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica. São Paulo: Martins Fontes, 1986.

    GONZÁLEZ FLORES, Laura. Fotografia e Pintura: dois meios diferentes? São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. (Coleção Arte&Fotografia).