Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Rafael Morato Zanatto (UNESP/ FCL Assis)

Minicurrículo

    Historiador, mestre e doutorando em História e Sociedade pela UNESP/FCL Assis. Bolsista FAPESP de iniciação científica, mestrado e doutorado. Atuou como pesquisador ou curador na Cinemateca Brasileira em 2012, 2013 e 2016 (100 Paulo Emílio). Realizou Estágios de pesquisa no exterior: Cinémathèque Française (BEPE/FAPESP, 2012), Akademie der Künste (BEPE/FAPESP, 2017) e Deutsche Kinemathek (BEPE/FAPESP, 2017). É pesquisador do grupo Experiência Intelectual Brasileira (UNESP/FCL Assis).

Ficha do Trabalho

Título

    Recepção e difusão cinematográfica na obra de Paulo Emílio (1941-1959)

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    Pretendemos demonstrar como as reflexões históricas de Paulo Emílio acerca da recepção da cultura cinematográfica é indissociável de uma nova modalidade de exibição, forjada a partir dos trabalhos de prospecção e difusão de instituições de preservação do patrimônio audiovisual nos anos 1940 e paradigma que irá adequar ao contexto nacional ao realizar as retrospectivas do I Festival Internacional de Cinema no Brasil, cursos, etc., voltados à formação de críticos, realizadores e público.

Resumo expandido

    Trata-se de analisar a produção intelectual do historiador e crítico de cinema Paulo Emílio Sales Gomes, atendo-se à modalidade narrativa histórica que desenvolveu nos estudos sobre Jean Vigo e na conferência ministrada no Centro Dom Vidal, intitulada A importância da história do cinema (1958). Em nossa investigação, observamos que Paulo Emílio elabora uma modalidade narrativa específica, pautada na comparação entre a recepção imediata e a recepção histórica dos filmes. No primeiro momento, o da produção, o crítico observa que arte e ciência aparecem separadas na compreensão do cinema; no segundo, com as comemorações dos 50 anos do cinematógrafo, estímulos novos passam a conjugar arte e ciência na compreensão do cinema enquanto fenômeno social. Nesse sentido, Paulo Emílio elabora um esquema histórico, uma regra geral formulada a partir da convergência das lições artísticas e científicas, materializadas nas transformações dos estudos cinematográficos após o fim da II Guerra Mundial. Ao comparar a recepção imediata e histórica, Paulo Emílio destaca a importância de autores como André Bazin, Georges Sadoul, Maurice Bardèche, Robert Brassilach, Paul Rotha, Nino Frank, Lotte H. Eisner, etc., para demonstrar como estas transformações se manifestam na revisão histórica operada pelos críticos e historiadores de cinema e na formação de críticos, realizadores, cineclubistas e público. O ensino da Cultura Cinematográfica pensado como estratégia de formação é o primeiro grande momento em que o crítico sistematiza pedagogicamente as lições apreendidas em sua segunda estada na França (1946-1954), onde participa de festivais, ciclos de estudos; realiza exposições de história do cinema com Henri Langlois e estuda em instituições como o IDHEC e o Institut de Filmologie, momento em que os estudos cinematográficos ganham concretude histórica com as festividades dos 50 ans du cinema. É nesse momento que os esforços de exibição cultural dos velhos filmes se articulam às pesquisas e prospecção de fontes fílmicas e não fílmicas para a revitalização e difusão da cultura cinematográfica, articulada entre arte, ciência e sociedade e que resulta na formulação de três fios condutores que juntos, sustentam o conceito de cultura cinematográfica: Linguagem, Estilo e Expressão Social, no qual comparação entre a recepção imediata e histórica distingue Paulo Emílio de seus contemporâneos brasileiros e europeus, ao historicizar não apenas as obras cinematográficas, mas na própria formação do sistema que ele próprio está integrado e no qual se baseará para o desenvolvimento do projeto político pedagógico da Cinemateca Brasileira, ao realizar as retrospectivas do I Festival Internacional de Cinema, ciclos de estudos e ao ministrar a disciplina de Linguagem Cinematográfica, Estilo e Expressão Social para o Curso para dirigentes de cineclubes (1958). Nas 23 aulas para o curso, que recompomos nos esforços de organização do acervo para as comemorações do Centenário de Paulo Emílio (100 Paulo Emílio), percebemos a formação de um método pedagógico que procura ativar no Brasil lições que, assimiladas ao contexto nacional, pretendiam forjar as bases da fisionomia e desenvolvimento do cinema brasileiro. Em suma, nas perspectivas de Paulo Emílio, escrever e difundir a história do cinema está na base do paradigma que orientará pouco tempo depois a formação dos cursos de cinema no Brasil, focadas nas ideias cinematográficas que resistiram às profundas transformações que acompanharam a curta, porém intensa, história da cultura cinematográfica, orientada pela prospecção, formação, e difusão. A pesquisa é resultado direto do processo de organização do acervo e pesquisa realizada na Cinemateca Brasileira entre maio e dezembro de 2016, parte das comemorações do Centenário de Paulo Emílio Sales Gomes.

Bibliografia

    BAZIN, André. Misére, Servitude et Grandeur de la Critique de Films, p. 17-20. In : Revue Internationale du Cinéma, n° 02, 1949.
    __. Presença de Jean Vigo. In: GOMES, P. E. S. Jean Vigo. São Paulo: COSACNAIFY/Edições SESC SP, 2009
    BARDÉCHE, Maurice; BRASILLACH, Robert. Hstoire du Cinéma. Paris: André Martel, 1948.
    EISNER, Lotte H. Comment Écrire l`Histoire du Cinéma. In : Positif. Revue Mensuelle du Cinéma, n° 06, 1953.
    FRANK, Nino. Cinema dell’ Arte. Paris: Éditions André Bonne, 1951.
    GOMES, P. E. S. L´oeuvre de Vigo et la Critique Historique. Positif, Paris, n.07, p. 67-76, maio 1953. Ilus.
    ___. A Importância da História do Cinema, curso ministrado no Centro Dom Vital, 1958. Cinemateca Brasileira: PE/PI 0052
    JEANNE, René; FORD, Charles. Histoire Encyclopédique du Cinéma. Vol. 01. Paris: Robert Laffont, 1947.
    SADOUL, Georges. L´invention du Cinéma (832-1897). Paris: Les Éditions Denoël, 1945.
    SOUZA, José Inácio de Melo. Paulo Emílio no Paraíso. Rio de Janeiro: Record, 2006